* Leandro Fidelis
(leandro@radiofmz.com.br)
Em São Bento de Urânia, zona rural de Alfredo Chaves, a paisagem muda como num toque de mágica para quem chega depois de percorrer outras localidades da Região Serrana do Espírito Santo. No lugar das típicas lavouras de café, os morros da comunidade rural estão cobertos de plantações de hortaliças, com destaque para o inhame. Talvez seja a única localidade do interior capixaba onde o “ouro verde” não predomina.
É ali que uma espécie rara está sendo certificada pela Indicação Geográfica- IG: o "Inhame São Bento". O inhame in natura é um dos primeiros produtos locais nesse processo, iniciado junto com o socol de Venda Nova do Imigrante em 2010 pelo Sebrae/ES. A primeira etapa já foi concluída, e previsão é que o projeto da IG termine em março ou abril de 2014, quando será protocolado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial- INPI.
A planta oriunda da terra colonizada por imigrantes italianos transformou a vida dos agricultores a partir de uma história parecida com aquelas sobre proprietários de terra que acham petróleo por acaso no quintal. E quem nos conta isso é Jandir Gratieri, considerado “O Rei do Inhame”. Não à toa detém esse título, pois foi o seu avô italiano Cláudio Gratieri, que chegou à região em 1893 trazendo o antecessor do “Inhame São Bento”, o inhame roxo chinês.
Segundo Gratieri, em 1989, o agricultor Jair Pianzola comprou 150 caixas de semente dessa espécie para plantar na propriedade. Alguns dias depois, notou dois tipos diferentes em meio à plantação. Acredita-se que esses “estranhos no ninho” se reproduziram com o inhame chinês originando a primeira cultivar de inhame genuinamente capixaba.
“O Inhame São Bento é uma raiz tuberosa que produz 30% mais que outras variedades tradicionais cultivadas no Espírito Santo. Por apresentar plantas vigorosas e rizomas de excelente aspecto comercial, apresenta- se mais propício ao atendimento dos mercados, principalmente os externos”, destaca o produtor e presidente da recém-fundada Associação dos Produtores de Inhame de São Bento- Apisbes, Jandir Gratieri.
O Estado é atualmente um dos maiores produtores e exportadores de inhame no país, com área de plantio em torno de 3 mil hectares. Em São Bento, são cerca de 600 famílias envolvidas que produzem, anualmente e em diversas altitudes, de 20 a 25 toneladas em 1.200 hectares, o que resulta em safra o ano inteiro, emprestando ao cultivo destaque no cenário nacional.
A partir de 1995, a equipe do Incaper passou a pesquisar o rizoma no lugar em que foi visto pela primeira vez. Em abril de 2008, foi realizada sua inscrição no Registro Nacional de Cultivares, do Ministério da Agricultura, sob o nº 22.987.
O aumento do consumo interno e a grande perspectiva de incremento das exportações têm contribuído para a expansão das áreas de plantio e para a fixação do homem no campo, fazendo do “Inhame São Bento” atrativa opção de cultivo. A mãe de Jandir, Catarina Monhol Gratieri, 68 anos, está há pelo menos 50 na cultura do inhame. Para ela, o café perdeu o seu lugar. “Hoje o inhame parece ser o ouro do Brasil. O café perdeu, e o inhame cresceu. Ele representa tudo na minha vida."
Apenas oito propriedades serão certificadas
Devido ao ineditismo do inhame de São Bento de Urânia, a Indicação Geográfica- IG foi a forma encontrada para tornar reconhecido o patrimônio mais importante dessa comunidade de Alfredo Chaves. Das 600 famílias produtoras, apenas oito estão no processo, que engloba pequenos trechos de outros municípios como Castelo, Domingos Martins, Marechal Floriano, Vargem Alta e Venda Nova.
Segundo Rodrigo Belcavello Barboza, do Sebrae/ES, a ideia é envolver todos os empreendimentos no processo da IG. “Já concluímos seis etapas e agora vamos reunir provas e documentos para certificar a notoriedade do Inhame de São Bento para quem está no processo.”
Para Jandir Gratieri, a IG trará muitos benefícios aos produtores, principalmente exportar o produto sem a necessidade de atravessadores, garantindo um preço mais justo. Há projetos também para criação de uma rota turística, agregando inhame e uva e gerando novos negócios para os agricultores.
“O inhame é um ícone para nossa região como a Pedra Azul é das montanhas do Espírito Santo. Nosso objetivo é agregar valor à agricultura familiar e também treinar os produtores por meio da Apisbes para receber o turista.”
** Em breve você acompanha a quarta e última reportagem da série "Vamos falar de empreendedorismo"!