* Leandro Fidelis
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Do volante para as duas rodas foi uma questão de mais de cem quilos. Com problemas de sobrepeso, um grupo de homens de Venda Nova do Imigrante escolheu o ciclismo para voltar às boas com a balança. O movimento deu tão certo que aumentou de seis para mais de 100 ciclistas em um ano.
Batizado de “Galera Bretelle", o grupo é formado por moradores entre 20 e 40 anos, de diferentes profissões e bairros, que mudaram completamente suas rotinas com a prática do mountain bike. Os ciclistas pedalam centenas de quilômetros por semana pela Região Serrana, independente da hora.
“Comecei a pedalar há pouco mais de um mês, e o motivo foi para acabar com o sedentarismo”, conta o despachante contábil Márcio Rébuli.
“Eu pratico ciclismo há cerca de dois meses e comecei para perder peso. Via todo mundo pedalando e percebi que dessa forma poderia alcançar meu objetivo”, diz o vendedor Guilherme Falqueto.
E se a meta era emagrecer, os ciclista conseguiram: com pedaladas iniciadas entre dois meses e um ano, os primeiros participantes do grupo já perderam algo em torno de 104 quilos juntos.
Higino Falchetto, professor de educação física e integrante dos “Bretelle” explica que o grupo tem esse nome devido à roupa debaixo usada pelos ciclistas, que se parece com um suspensório, “bretelle” no plural em italiano. “Pegou, ficou na mente de cada um, a gente não consegue ver outro nome diferente. Cada vez que encontramos alguém que faz ciclismo, convidamos para andar junto com a gente. O objetivo é fazer atividade física.”
O marco inicial do grupo foi a história curiosa que aconteceu com o dentista Jean Silotti. “Quando comprei a roupa para pedalar, na loja só tinha ‘brelelle’ e no tamanho GG, que mal cabia em mim. No nosso primeiro passeio, fazia tanto calor que tirei a camisa e a turma me viu com essa roupa de baixo e começou a brincar. E ficou batizado o grupo”, lembra Jean.
Estímulo pelas redes sociais
Brincadeiras à parte, a boa forma obtida com o pedal é comemorada em conjunto pelo "WhatsApp" ou em redes sociais como o Facebook. São muitas as fotos feitas nos pontos mais altos das montanhas e mapas com o percurso percorrido, feitos em aplicativos para celulares, compartilhado entre os ciclistas.
As redes também são usadas para indicar uma trilha interessante. Mais que trocar informações com o grupo, os “Bretelle” divulgam para toda a cidade um estilo de vida saudável. “Estou andando de bike motivado pelos meus amigos”, diz o empresário Cleber Zandonade.
É um progresso coletivo, mas com cada respeitando o seu limite, o seu tempo. Uma coleção de histórias de superação, que muitos não imaginavam ter até há pouco tempo devido à rotina que levavam, sem a prática de exercícios. “Comecei a pedalar há seis por causa de uma complicação decorrente de uma má circulação na perna. Hoje estou bem e não consigo mais parar”, comemora o garçom Marciano Vieira.
“Com 36 anos, rompi o ligamento do joelho. Optei por não operar, e o médico falou que o único esporte que eu podia fazer era ciclismo. Então, comecei a pedalar na cidade à noite e depois iniciei nas trilhas. Minha qualidade de vida melhorou muito”, relata o dentista Jean.
‘Pedal’ só funciona com hidratação e alimentação adequada
A nutricionista Luciana Zandonadi destaca que a prática do ciclismo deve estar aliada à hidratação e à alimentação adequada. “Se o ciclista tiver como meta o emagrecimento, deve fazer uma dieta de baixa caloria, mas pensando nos nutrientes que vai precisar para aguentar esse ritmo de pedalada. Por isso, a hidratação é importante, assim como ingerir uma porção de carboidrato antes, justamente para não perder disposição e massa muscular, em vez da gordura.”
A regra vale para quando o ciclista finaliza a atividade física, explica a nutricionista. “É preciso repor esses nutrientes, carboidrato, proteína, e também se hidratar.”
Venda Nova tem 12 mil bikes em uso
No alto das montanhas, a “Galera Bretelle” garante o seu espaço, sem interferir na natureza, claro. Mas aqui embaixo, na cidade, é onde se constata que Venda Nova é uma cidade de ciclistas. O município possui 12 mil bicicletas em uso por uma população de 21 mil e quinhentos habitantes, segundo levantamento da Prefeitura. A relação é de uma bicicleta para cada dois moradores, índice maior que os demais municípios serranos capixabas.
Por esse motivo, é normal “horários de pico” no trânsito de bicicletas. Mas os motoristas e agora ciclistas da Galera “Bretelle” só começaram a observar as imprudências de quem faz uso da bicicleta no dia a dia depois que trocaram o carro pela bicicleta.
“Percebi que os ciclistas andam mandando mensagem pelo celular ou se distraem com fone no ouvido. Não percebem quando chega um carro, num cruzamento, por exemplo”, diz Cleber Zandonade.
Venda Nova está de olho na mobilidade urbana. A cidade conta com 30 bicicletários e 5,7 quilômetros de ciclovias já instaladas e mais 7 km em construção ou em projeto. As novas faixas para ciclistas vão ligar os bairros da sede ao distrito de São João de Viçosa, que fica a 7 km do centro. Boa parte da via será paralela à BR-262, rodovia que atravessa a cidade.
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