Mecânico vence alcoolismo fazendo réplicas de igrejas

* Leandro Fidelis

leandro@radiofmz.com.br

 

O artesanato em madeira era algo impensado para o mecânico Sebastião Tomaz, o “Tião”, de 56 anos, quando ainda vivia sob o efeito do álcool. Cinco anos depois da interrupção do vício por causa de uma promessa, esse morador de Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana do Estado, se livrou da fama de beberrão para ficar conhecido como o artista que faz réplicas de igrejas.

                              

Devoto de Nossa Senhora Aparecida e São Pedro, Tião passou a se ocupar do novo ofício como parte da promessa que fez consigo mesmo para parar de beber. O artesão afirma não saber explicar de onde veio a habilidade com a marcenaria, já que nunca tinha trabalhado com isso antes. Ele disse acreditar na influência de uma “força divina”.

 

Determinado a ficar longe do vício e manter sua palavra de fé, o mecânico transformou a garagem da sua casa, à margem de uma das principais avenidas da cidade, em uma oficina onde expõe as miniaturas e também produz oratórios.

 

Tião não aceita encomendas, nunca vendeu uma peça e apenas presenteia os conhecidos com os oratórios. “A bebida atrapalha a vida de qualquer um. Um dia dei um basta em tudo porque não estava dando conta de alimentar meu próprio vício. Hoje, me sinto bem e tento tirar os amigos da sarjeta”, diz Tião.

 

O processo de concepção das réplicas de igrejas leva até um ano, devido à riqueza de detalhes reproduzidos dentro e fora das miniaturas. “Sem detalhes não é trabalho.” Tudo começa com uma foto ou até da memória visual do próprio artesão, como ele faz questão de destacar. “Trago as imagens no computador de bordo”, diz rindo e apontando para a cabeça.

 

A partir daí, Tião faz um molde em papelão, com as dimensões exatas que serão confeccionadas em madeira. Para isso, ele utiliza sobras de móveis ou outras peças em desuso que tem em casa. Porém, “o material deve ser de primeira linha”, diz ele. Os acabamentos são feitos com faca de sapateiro.

 

O mecânico já fez as maquetes das duas extintas igrejas de Venda Nova e também de São Pedro de Matilde (Alfredo Chaves). Além delas, ele reproduziu a antiga Basílica de Nossa Senhora Aparecida (SP) e a Igreja de São Sebastião (Cachoeiro de Itapemirim), que frequentou na juventude.

 

Essa última miniatura, de 1,20m de comprimento, demorou um ano para ficar pronta. “Eu misturei características de outra igreja de Cachoeiro, a da Consolação, que está retratada nas janelas dessa réplica. Sempre me chamaram atenção as janelas grandes da Consolação.”

 

Fidelidade nas reproduções 

As obras de maior sucesso entre os admiradores do trabalho de Sebastião Tomaz são as duas antigas igrejas católicas de Venda Nova. A primeira foi construída pelos imigrantes italianos e demolida para dar lugar à outra, que existiu até o ano de 1974. Dois anos depois, a atual Igreja Matriz foi inaugurada.

 

A segunda igreja faz os moradores mais antigos viajarem no tempo. No seu interior, é possível ver o altar semelhante ao original; o confessionário, hoje peça do museu da Casa da Cultura da cidade; e até o sino que toca de verdade. O artesão se baseou em fotos antigas.

 

Um dos admiradores é o aposentado Rafael Zandonadi (90), frequentador da paróquia local desde os sete anos e que descobriu recentemente o trabalho de Tião. Ele conta que sempre ajudou o padre a preparar comida para as festas da Igreja e ainda era criança quando a primeira construção foi demolida.

 

“Atrás dessa igreja havia um rancho onde os moradores amarravam os cavalos para irem à missa. A réplica me trouxe essas e outras boas lembranças. O Tião faz um serviço muito bonito”, diz Zandonadi.

 

Outro morador, o empresário Domingos Perim (65) faz questão de divulgar o trabalho do novo artesão. “Fui conferir a réplica da Igreja de São Pedro de Araguaia e ficou perfeita. Acabei aproveitando para conhecer as outras. É um trabalho fantástico”, disse.

 

Réplicas de nove igrejas de dentro e fora do ES

No total, Tião já reproduziu nove igrejas. Uma delas, o artesão só viu uma vez e não fotografou. O templo fica em São Fidelis, no interior do Estado do Rio de Janeiro.

 

O artista gostou da igreja por causa do seu cercado, também reproduzido na réplica. Segundo o artesão, os santinhos minúsculos que preenchem os altares foram comprados em viagens constantes para Aparecida do Norte, cidade paulista que atrai muitos devotos de Nossa Senhora Aparecida, santa da qual Tião é devoto.

 

Algumas imagens também vieram do Santuário do Divino Pai Eterno, em Goiás. Atualmente, o artesão Sebastião Tomazestá dedicado à escultura em madeira da torre da Igreja de São José, na zona rural de Irupi, no Sul do Estado. Ele afirma ter ido a um casamento no local e bastou ver a construção uma vez para desenhá-la e começar a fazer a réplica.

 

O objetivo do mecânico agora é produzir miniaturas de outros templos conhecidos no Espírito Santo, a exemplo da Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, que é um cartão postal conhecido. “Quando termino um projeto, logo inicio outro”, diz Tião.

 

Ainda neste mês de junho, a obra do artesão terá a chance de ficar mais conhecida em Venda Nova do Imigrante e região. Ele foi convidado pela Paróquia São Pedro Apóstolo, da cidade, para expor suas réplicas na Festa de São Pedro, padroeiro local. O evento acontecerá no dia 29 de junho (domingo), no lajão da Igreja Matriz.

 

Perfil:

Sebastião Tomaz, o “Tião”, tem 56 anos, é natural de Castelo, no Sul do Estado, mas mora em Venda Nova há 32 anos.

É casado com a administradora Rosalba Zuccon e não tem filhos

Estudou até a quarta série do Ensino Fundamental

Trabalha como mecânico, mas se dedica também ao artesanato em madeira

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