Mulheres assumem papel de destaque no agroturismo

* Leandro Fidelis

(leandro@radiofmz.com.br)

O agroturismo de Venda Nova vive uma nova fase. A mulher, antes restrita à produção agroindustrial, agora participa das decisões. Albertina Zandonade Carnielli é uma dessas mulheres que fazem a diferença. Eleita presidente da Associação de Desenvolvimento Regional do Agroturismo- Agrotur, ela leva a experiência de 40 anos no magistério para dentro da propriedade. Começou a educar aos 15 anos, como auxiliar de turma, mas sempre acompanhou a evolução do turismo rural no município. É casada com Leandro Carnielli, de uma das famílias pioneiras e primeiro presidente da associação. “Sempre tive ligação com a entidade, desde o início, em 1993. Quando o Estado criou a associação estadual, a Agrotures, fiz parte da tesouraria”, diz Albertina. Nesta entrevista concedida ao apresentador Chico Zandonadi, no último dia 14, ela fala da importância da cultura local no turismo e dos projetos para incrementar a atividade no município.

FMZ- Hoje o agroturismo está em outra linha, evoluindo, passamos a nos capacitar mais. Mas ainda é uma grande tentação passar do agroturismo para indústria, não acha?

Albertina- As pessoas que fazem parte do agroturismo têm que se aperfeiçoar através de cursos, treinamentos, saber receber cada dia melhor e apresentar um produto à altura do turista, se não é impossível mantê-lo. Aquele produtor que não cresce, fica no meio do caminho. A gente vê como o agroturismo se expandiu por todo o Espírito Santo e Brasil, e Venda Nova foi referência. Nessa semana, eu participei em Vitória da apresentação dos circuitos para operadoras de turismo. Venda Nova era um dos 17 circuitos, mas nem todos os representantes do agroturismo do município estavam presentes. Isso é preocupante. Os 15 novos associados que estão chegando devem estar atentos a essa participação.

FMZ- O fato de a gente descender de italianos, alemães, antes era motivo de vergonha e hoje é o que temos para vender.

Albertina- Isso se converteu e essas culturas hoje são atrativos que só fazem crescer o agroturismo. Não adianta só produzir e vender, temos todos os valores agregados, em especial à cultura. Nossa história conta muito, e isso tudo enriquece o produto agroturismo. A nossa natureza, nossa história e esse poder de convencer, apresentar um bom produto, se fazem presentes em todos os eventos. Marcando presença, fazendo e levando toda essa história e cultura é o que faz diferença na hora de fazer agroturismo.

FMZ- É preciso ter sempre presente a história da comunidade, e o turista é doido por isso, não é? O produtor deve saber acolher e conhecer a sua história.

Albertina- Ele perde horas e horas na sua propriedade, dificilmente chega aquele que quer passar, comprar o produto e ir embora rápido. Ele quer conversar com a família, saber da história, conhecer e acompanhar o processo de produção. Talvez seja a vontade de retornar ao passado, às origens, e viver um pouco isso que foi perdido, principalmente nas grandes cidades.

FMZ- Em cidades como as que compõem a Grande Vitória, há uma presença muito forte de pessoas do interior…

Albertina- Cariacica, Campo Grande, Serra.. São pessoas que, devido ao êxodo rural, foram buscar melhores condições de vida nas grandes cidades, mas que têm raízes todas plantadas no interior, nessa cultura agrícola.

FMZ- Por isso é extremamente necessário que, além de toda a evolução no fazer os produtos, se conheça a história?

Albertina- Com certeza isso é muito importante. Uma tendência nossa é implantar o sítio pedagógico, a fazenda pedagógica. Chegam a nós excursões de terceira idade, de alunos de escolas de todo o Estado, Rio de Janeiro e Minas Gerais. São excursões técnicas, onde o objetivo é mostrar todo o processo produtivo, falar da história do agroturismo, da colonização italiana, das questões relacionadas ao meio ambiente, que são de grande interesse… Eles querem ver de perto essas práticas de preservação, as práticas sociais do empreendimento.

Isso a gente viu muito claramente na Itália, nas chamadas “fattorie didatiche” (fazendas didáticas), onde os turistas interagem com todo o processo ali realizado, seja na produção agrícola, por exemplo, o café. Como ele é plantado? Quais são os tratos do solo onde esse café é cultivado? Como é colhido e beneficiado? Daí sim os turistas valorizam aquele produto e passam a entender que, nele, está o diferencial do que estão adquirindo e levando para casa.

FMZ- O processo de indicação geográfica, que os italianos têm de longa data com o vinho e o azeite, por exemplo, agora vai demarcar o território da produção de socol em Venda Nova. O que acha do projeto?

Albertina- O socol só existe nessa região, chegou junto com os italianos. Agora, com o advento do agroturismo, alguns municípios estão tentando copiar, mas não é só o jeito de fazer que conta no socol. Depende muito do clima, da umidade do local, isso tudo influencia na fabricação. É importante dizer que o órgão que vai acompanhar todo esse processo regulador será a Agrotur. Inclusive vamos ter que ajustar o nosso estatuto e criar um conselho regulador, que ficará responsável por determinar todas as questões relacionadas à produção, manuseio e qualidade do socol. A indicação geográfica vai envolver um grupo grande. Será conduzido pelo Sebrae, mas quem começou foi o Incaper. É um trabalho a longo prazo. Quem vai fazer realmente a regulamentação serão os próprios produtores.

FMZ- Às vezes, a gente encontra certa resistência ao se falar da cultura dos imigrantes. Dizem: “Ah, isso já é passado!” Mas se não se conhecem as próprias raízes, não se sabe para onde vai. A Afepol já resgatou muita coisa, mas precisamos fazer mais e tornar visível toda essa trajetória. E nesse processo todo, a gente constata que, falou em comida, em coisas diferentes na culinária, não tem como não falar da mulher aqui das montanhas. Ela que é a guardiã de toda essa história, de toda essa sabedoria culinária…

Albertina- E nesse campo, a atuação da mulher sempre foi muito forte. Ela detém todas as receitas, todos os segredos… É ela que está envolvida na cozinha, e essa, por sua vez, é o ambiente acolhedor da família italiana. A mulher sempre foi vista muito ligada à culinária, ao trabalho da casa e à educação. O trabalho da mulher é de extrema importância no agroturismo. O advento do agroturismo é que traz pra Venda Nova a grande valorização e participação da mulher. Na cultura italiana, sabemos que quem detém o poder é o homem, o chefe da mulher, oficialmente falando. O que mudou é que a mulher agora pode comprar o seu batom. Aquela mulher que estava acostumada a cuidar da casa numa parte do dia e, na outra, ia para a roça não tinha acesso ao dinheiro, às compras. A gente viveu muito isso muito e em algumas famílias ainda é assim. O agroturismo proporcionou a ascensão da mulher. Na última assembleia, os três cargos importantes da Agrotur foram ocupados por mulheres pela primeira vez na história de Venda Nova. Dete Lorenção é a nova secretária, e Nininha Comarela, a tesoureira. Estamos vivendo um momento diferente.

FMZ- Tanto no fazer quanto no acolher, a presença da mulher é essencial. Esse fato de receber as pessoas, quem fazia e faz até hoje são as nossas mães, nossas avós. As “nonnas” recebiam, faziam sala, ficavam conversando… E receber e acolher as pessoas são um elemento importante do agroturismo.

Albertina- Quando você fala em receber, três figuras vão ficar na história de Venda Nova. Cacilda Caliman Lorenção, que recebe os turistas magnificamente, e a Íria Carnielli Busato e a Tia Cila Altoé, que já se foram. Três que marcaram muito a figura feminina aí nesse receber, acolher, abraçar, gastar tempo para conversar e contar a sua história.

FMZ- Nossos produtos do agroturismo contam com o selo municipal. Para vender para outros estados, como funciona?

Albertina- Se for de origem vegetal, não tem tanto problema, mas para produtos de origem animal depende de selo federal para vender para outros estados. Aqui dentro, para ser associado do Agrotur, tem que passar pela Vigilância Sanitária. Ter selo municipal é o mínimo exigido para apresentar um bom produto para os nossos turistas.

** Leia também aqui no site a série de reportagens especiais sobre o socol de Venda Nova do Imigrante!

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