A boa rentabilidade, o mercado em ascensão e a facilidade no manejo da fungicultura – cultivo de cogumelos – têm chamado a atenção de produtores rurais capixabas. Após uma capacitação oferecida pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) em Dores do Rio Preto, e a visita a uma empresa do segmento em Viçosa (MG), agricultores da Região do Caparaó estão realizando experimentos e investimentos na atividade. Os envolvidos estão em processo de captação de recursos para criar uma associação de fungicultores.
Entre fevereiro e março de 2012 será realizada a primeira colheita desses experimentos. De acordo com o extensionista do Incaper Norberto Neves Frutuoso, as condições climáticas do Estado são favoráveis para a cultura de cogumelos, que é pouco explorada no Espírito Santo. Ele conta que a atividade é bastante indicada para agricultores de base familiar, pois requer poucos cuidados no trato cultural e não demanda muita mão de obra.
“O produtor tem apenas que manter o ambiente favorável para desenvolver o fungo. O manejo pode ser feito no intervalo dos cuidados de outras atividades agrícolas. Sem falar que a colheita, por se tratar de um produto leve, pode ser feita por mulheres e jovens. E vale muito a pena. A rentabilidade da fungicultura é de mais de 100% de retorno do valor investido. Vendido in natura já gera bons lucros, mas em conserva ou servido na culinária ultrapassa essa percentual médio”, destaca.
A partir do curso oferecido em Dores do Rio Preto, o grupo estendeu as ações e visitou a empresa Fungitec, em Viçosa. No local, os participantes conheceram a estrutura do empreendimento e firmaram parcerias para a comercialização dos cogumelos capixabas. “Além da venda particular, encontramos uma oportunidade de comercialização garantida. Assim, o fungicultor pode se dedicar integralmente aos tratos culturais dos cogumelos, que serão acompanhados pelas ações de assistência técnica e pesquisas do Incaper”, diz o extensionista.
A demanda do treinamento surgiu a partir de relatos de agricultores que fizeram testes primários com os cogumelos, e, apesar de não terem utilizado qualquer tipo de tecnologia, notaram o bom desenvolvimento dos fungos. A partir da experiência, cultivando uma pequena porção da espécie Shitaki em áreas próximas a rios e no interior da mata, os produtores tiveram bons resultados e enxergaram uma nova oportunidade de diversificar os cultivos em suas propriedades e agregar valor à culinária das pousadas rurais, no caso das fazendas que contam com atividades de agroturismo.
Produção capixaba
O cultivo de cogumelos no Espírito Santo é realidade em poucas propriedades, em sua maioria, localizadas nos municípios de Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante, Santa Maria de Jetibá e Ibatiba. No Estado, são cultivadas as variedades Champignon, Shimeji e, em maior escala, o Shiitake, que, das espécies mais conhecidas, é o que exige tratos culturais mais simples e custo baixo de produção. Alguns fungicultores terceirizam a finalização da cadeia produtiva, contratando agricultores familiares para assumirem apenas os tratos culturais dos fungos já nascidos e em fase de desenvolvimento.
O cogumelo Shiitake (Lentinula edodes) possui origem asiática e é muito apreciado pelo seu sabor exótico e único, considerado uma iguaria que está ganhando os mercados de diversos países. O Japão é o maior produtor mundial de cogumelos. No Brasil, o Shiitake é o terceiro cogumelo mais consumido, podendo ser cultivado em toras de madeira ou em substratos. E, segundo o extensionista, pode trazer diversos benefícios para a saúde.
“Em geral, os cogumelos podem contribuir na redução do colesterol e a prevenção ao câncer. Trata-se de um alimento de alto valor nutricional, rico em proteínas, vitaminas, fibras, carboidratos e minerais e com propriedades farmacológicas. Seus princípios ativos têm potencial de intensificar a atividade das células de defesa do organismo, na reorganização imunológica e no tratamento de diversas enfermidades”, afirma Norberto Neves Frutuoso.
Esses benefícios também são citados pelo produtor Joaquim Cicatelli, de Domingos Martins. Ele, que cultiva Shiitake há dez anos, diz que a aceitação do produto é bastante satisfatória. “É um produto nobre, de sabor único e até considerado afrodisíaco. Qualquer pessoa que prova um prato com Shiitake bem feito gosta muito do sabor. E por ter caráter medicinal também é muito consumido por pacientes com câncer. O mercado da fungicultura só tem a crescer”, comenta.
Em Ibatiba, o produtor Marcos Poubel, com propriedade na Serra do Caparaó, cultiva Shiitake há um ano. Apesar de participar da atividade há pouco tempo, dá dicas para os iniciantes na fungicultura. “Estou buscando parcerias para dar continuidade ao trabalho. Na produção de cogumelos é mais fácil e rentável dividir os investimentos com mais interessados e participar de associações”, menciona.
Cultivo
Os cogumelos produzidos no Estado podem ser cultivados a partir de duas principais técnicas: com a utilização de toras de madeira ou substratos. Para ambas, o produtor precisa comprar os micélios (sementes dos fungos) inoculados, ou seja, implantados dentro de grãos de arroz ou trigo – mais comum no Espírito Santo nos grãos de arroz, já que aqui não há a produção de trigo.
No caso da primeira técnica, as toras devem ser de eucalipto e ter tamanho de 1 a 1,2m, além de furos para que sejam depositados os grãos. Em seguida, o produtor deve cobrir esses furos com parafina pura. O empilhamento das toras garante a reprodução e, após seis meses, a colheita pode ser realizada.
Já no caso do substrato, que é um composto, em geral, de bagaço de cana, calcário, serragem, capim picado e materiais semelhantes, basta apenas que o produtor deposite os micélios. Nesta forma de cultivo, a colheita pode ser feita após quatro meses. O extensionista ressalta que, diferente de plantações de frutas ou verduras, a produção de cogumelos não requer áreas extensas para cultivo, podendo ser feita verticalmente e disposta em prateleiras.
O produtor de Domingos Martins Joaquim Cicatelli conta que durante oito anos produziu cogumelo utilizando toras de madeira, mas que em função das vantagens de utilização do substrato, mudou a técnica de cultivo. “A produtividade com uso do substrato é mais garantida”, diz. Ele destaca que tem uma colheita média de 60 a 70 quilos de Shiitake por semana. “Inicialmente é uma cultura que requer investimentos. Mas com o tempo, temos uma boa rentabilidade”.
O extensionista Norberto Neves Frutuoso orienta que a escolha da técnica varia de acordo com a realidade de cada produtor. “No caso de utilização das toras, é preciso se ater aos detalhes da madeira, pois as cascas mais grossas são favoráveis ao desenvolvimento dos cogumelos. O substrato é mais barato. Mas agricultores que possuem a madeira na própria fazenda não terão gastos extras com esse material. Entretanto, vale frisar que a troca das toras deve ser feita anualmente, em função da umidade. Nas duas formas de cultivo, o fungicultor precisa garantir a temperatura, luminosidade e umidade ideais nas áreas de produção”.
Os produtores interessados em cultivar cogumelo devem procurar o Escritório Local do Incaper nos respectivos municípios para orientações. No caso de agricultores da Região do Caparaó, os interessados poderão se juntar ao grupo responsável pela associação. Neste caso, o telefone para contato é (28) 3559-1442.