* Leandro Fidelis
A cabeleireira Rosângela Zucoloto Dalbó é daquelas que não medem esforços para ajudar os outros. Com as duas filhas ainda em idade escolar, ela transportava não só a dupla como a vizinhança inteira até o colégio, a três quilômetros de casa, em Mata Fria, zona rural de Conceição do Castelo, Região Serrana do Estado. Rosângela não demorou a perceber que o leva-e-traz da criançada poderia virar negócio. Largou o salão de beleza, entrou para a Cooperativa de Transporte Sul Serrana Capixaba- Serrana, trocou de carro, investiu em outros e, hoje, junto com outros 1.500 cooperados, faz a Serrana ter a maior frota entre as cooperativas de transporte de todo o Brasil.
A história de Rosângela se soma à de outros cooperados responsáveis pelo sucesso da Serrana. Com dez anos de fundação e constituição da cooperativa, comemorados em outubro deste ano, a Serrana atua no ramo de transportes de cargas e passageiros, locação de veículos e auto posto e conta com uma frota de mais de 1.400 veículos. São quase 1.500 cooperados, mais de 12 mil passageiros transportados diariamente, 100 pessoas empregadas e cerca de R$ 41 milhões movimentados durante o ano. A frota de veículos para o transporte de cargas está preparada para atender a qualquer demanda, desde produtos que precisam de carros com refrigeração até o transporte de alimentos e pedras.
E com a cooperativa crescendo, Rosângela aproveitou as oportunidades, em especial as boas condições de financiamento. Em 2004, ela e o marido, Anselmo Dalbó trocaram o Fiat Uno onde levavam as crianças para e escola por uma kombi. Em 2005, com um ano de cooperada, adquiriu outra kombi. No ano seguinte, Rosângela convidou um vizinho para a cooperativa e, juntos, trocaram as duas kombis por um micro-ônibus. Hoje, as duas filhas do casal também são cooperadas. E, assim cooperando, a frota passou a contar recentemente com um ônibus 1620.
Diariamente, os carros que integralizam o capital social de Rosângela Zucoloto rodam 112,8 quilômetros por dia, transportando 130 estudantes de Conceição do Castelo. "Com a Serrana, você não fica sem trabalho, não fica na mão. Hoje, busco até a professora em casa se for preciso para não ficar sem aula na região", diz. Em cooperação com outro cooperado, mais recentemente Rosângela financiou um Polo, locado para a Foz do Brasil, de Cachoeiro de Itapemirim.
No Espírito Santo, a Serrana está presente em Conceição, Muniz Freire, Ibatiba, Vitória, Anchieta e Cachoeiro, onde funciona sua sede administrativa. Conta também com filiais no Paraná e Minas Gerais.
Atualmente, os cooperados trabalham com o transporte de cargas (Serrana Translog) e passageiros. A cooperativa conta com aproximadamente 750 veículos disponíveis para a prestação de serviço no setor de cargas, como caminhões baú, caçamba, carretas, carroceria, entre outros. Os principais clientes são órgãos públicos e empresas privadas como a Unimed, Selita, Grupo Pepsico (20 caminhões), Cervejaria Petrópolis, Grupo Coca-Cola e Odebreth. Essa trajetória de sucesso proporciona à Serrana estabilidade e credibilidade.
Da agricultura para o cooperativismo
A família de José da Rocha Souza, o "Maninho", diretor de logística da Serrana, é outra que se viu transformada com a Serrana. Ele, a mulher e os dois filhos eram todos cafeicultores na localidade de Monforte Frio, zona rural de Conceição. O caçula, Wagner Gonçalves, lembra da família há 12 anos dando os primeiros passos no transporte escolar, mas de forma irregular. A lei começou a apertar quem prestava esse serviço no município e Maninho precisou se regularizar.
Ele e o amigo Lusmar Ferreira foram conhecer uma cooperativa em Santa Maria de Jetibá e, assim, decidiram fundar, em 2003, a "Coope Escolar" (primeiro nome da Serrana), que atuava somente no transporte de estudantes. Naquele ano, a cooperativa congregava 28 cooperados, 32 veículos e cerca de 500 alunos transportados diariamente em Conceição.
Na época em que assumiu o transporte escolar do município, a cooperativa dava início ao objetivo de se tornar uma 'Solução em Transportes'. O crescimento foi rápido. Em 2005, já com o nome de Coope Serrana, iniciou sua expansão passando a atuar também em Muniz Freire, na Região do Caparaó. O crescimento no número de passageiros chegou a 500%. "Nesse momento, era preciso manter a credibilidade, ética e dar segurança a todos os transportados, já que os valores motivavam os cooperados", declara Lusmar Ferreira.
Em ritmo avançado, 2006 veio com novos desafios, chegando ao Sul do Espírito Santo, por meio da base fixa em Cachoeiro. Era preciso capacitar cooperados e colaboradores, conquistar ainda mais o mercado, reforçando que era uma alternativa para quem buscava serviço de qualidade, baseado nos princípios cooperativistas.
O dever de casa foi cumprido e a Coope Serrana cresceu. Conquistou outros mercados, inclusive outros Estados como o Paraná e Minas, assim passou a ofertar mais serviços, precisando mais uma vez de uma nova marca, agora Serrana.
E na família de Maninho, os financiamentos com juros mais baixos também permitiram investir em mais transportes e aumentar o seu capital social junto à Serrana. Em 2009, Wagner vendeu uma moto e cooperou R$ 15 mil. A evolução desse capital foi surpreendente. Ele comprou uma Kombi, a vendeu meses depois e deu entrada em outra nova. Graças às boas condições do financiamento via cooperativa, com R$ 30 mil o cooperado financiou três novos veículos de uma só vez: dois Fiat Uno e uma Saveiro, usados para locação com ou sem motorista, de acordo com a necessidade do cliente (Serrana Rent a Car). Wagner quita as prestações em 2013, mas destaca a diferença de outras linhas de crédito. "Uma Saveiro não sairia por menos de R$ 35 mil em outro financiamento."
Com o capital mais valorizado em tão pouco tempo, a Cooperativa concedeu a Wagner um caminhão sem dar entrada e com cinco anos para quitar o financiamento. Considerando as prestações restantes desse veículo, o capital do cooperado evoluiu mais de 100%. "Por meio da Serrana, conseguimos ajudar uns aos outros. Hoje, minha renda vem do transporte, a qualidade de vida da minha família melhorou e posso ter o conforto que a agricultura não podia me oferecer", diz Wagner.
Combustível mais barato
Ao contrário dos que muitos pensam, a cooperativa arca com todos os impostos igual a qualquer empresa, sem isenções. Isso inclui o emplacamento, a troca de pneus e combustível por um preço até 12% mais acessível que o encontrado no mercado.
Há quatro anos, a Serrana disponibiliza aos seus cooperados combustível próprio. Atualmente, 90% da frota de veículos da empresa é abastecida por esse combustível. Para ter condição de beneficiar os cooperados com esse preço diferenciado, a Serrana conta com bases de abastecimento em pontos estratégicos, sendo eles: Cachoeiro, Muniz Freire e, recentemente, passou a contar com mais uma base em Ibatiba, e também com um posto de combustível em Venda Nova do Imigrante, assim o cooperado pode abastecer seu veículo com o preço mais em conta.
Além disso, nos locais onde não há bases de abastecimento ou posto de combustível próprio, a cooperativa envia aos cooperados cartões para abastecimento, o que facilita o crédito, já que é possível abastecer sem dificuldade em sua área de atuação.
Por isso, os desafios da Serrana não param e, para os próximos anos a meta é desenvolver cada vez mais, aliando sua estrutura cooperativista à competência, responsabilidade e aquisição de novos mercados. Com a expansão dos negócios o objetivo é trazer mais rentabilidade e oferecer mais benefícios aos nossos cooperados, viabilizando assim mais serviços.
