Agroturismo: É no atendimento que elas fazem a diferença

* Leandro Fidelis

(leandro@radiofmz.com.br)

 

O advento do agroturismo em Venda Nova do Imigrante valorizou mais a participação da mulher na agricultura familiar. Sempre ligada à cozinha, ao trabalho doméstico e à educação dos filhos, as mulheres saíram do ambiente da casa para assumir papel de destaque na atividade que colocou o município na rota do turismo rural nacional e internacional.

 

Aquelas mulheres do passado, acostumadas a cuidar da casa numa parte do dia e na outra ir para a roça, não tinham acesso ao dinheiro, às compras. E foi por meio do agroturismo que se tornaram independentes dos maridos e puderam, enfim, “comprar o seu batom”, como ilustra sempre essa trajetória de sucesso Albertina Zandonade Carnielli, presidente da Associação de Desenvolvimento Regional do Agroturismo- Agrotur.

 

“A atuação da mulher sempre foi muito forte. Ela detém todas as receitas, todos os segredos. É ela que está envolvida na cozinha, e essa por sua vez é o ambiente acolhedor da família italiana”, destaca Albertina.

Nesses 20 anos do agroturismo em Venda Nova, a cozinha ficou pequena para essas mulheres. Na história do município, receber as pessoas sempre foi um ato ligado às mães (mammas) e avós (nonnas). As "nonnas" faziam sala, ficavam conversando. Hoje, no agroturismo, tanto na preparação dos produtos, quanto no acolher, a presença da mulher é essencial.

 

E o receptivo é um elemento importante no agroturismo. Quatro mulheres vão ficar na história de Venda Nova: Cacilda Caliman Lorenção, praticamente uma celebridade local, e Carmem Feitoza Altoé, além de Íria Carnielli Busato e Tia Cila Altoé, já falecidas, que mais do que ninguém souberam a importância de gastar tempo para conversar, contar suas histórias. “Sempre tive a casa cheia de familiares, então abrir a casa para os turistas foi muito fácil”, conta Cacilda, a “Rainha do Socol”.

Desde o início, o Sebrae que fez com que os proprietários de fazendas acreditassem no agroturismo como uma atividade econômica rentável. Eles recebem explicações de todo o processo de preparo do solo, plantio, colheita, estocagem, transformação e comercialização dos produtos.

 

O agroturismo promoveu a ascensão feminina em vários aspectos, mas o financeiro é só um detalhe quando ouvimos delas relatos do que ganharam na autoestima. O atendimento ao público, porta do sucesso dos empreendimentos, fez muitas delas vencerem a timidez e aprender mais do negócio para responder às dúvidas dos turistas.

 

“No atendimento conhecemos novas pessoas, isso é muito bom, é um aprendizado. Com o contato com outras pessoas conhecemos histórias, ficamos mais ativos, diferente do trabalho na roça. Venci também a minha timidez”, diz Izabel Fardim Busato, atendente do alambique da família do marido, na Providência.

 

Desde o início, o Sebrae que fez com que os proprietários de fazendas acreditassem no agroturismo como uma atividade econômica rentável. Eles recebem explicações de todo o processo de preparo do solo, plantio, colheita, estocagem, transformação e comercialização dos produtos.  

 

 

E no Dia Internacional da Mulher, dedicamos a elas esta reportagem especial. Leia outros depoimentos dessas protagonistas do agroturismo de Venda Nova do Imigrante!

 

Quando atender se torna um aprendizado

 

“Iniciamos em 1995 a fabricação da cachaça e nos inserimos no agroturismo. Antes tínhamos a renda apenas vinda do trabalho na roça com o café. O agroturismo veio para somar, nossa rotina também mudou com a visitação dos turistas. Com o aumento da procura vemos que nosso trabalho está dando certo, isso é gratificante. No atendimento conhecemos novas pessoas, isso é muito bom, é um aprendizado. Com o contato com outras pessoas conhecemos histórias, ficamos mais ativos, diferente do trabalho na roça. Venci também a minha timidez. No empreendimento trabalhamos eu e meu marido. Estou à frente no atendimento, mas também ajudo na produção.” (Izabel Fardim, 43 anos, um filho- Fazenda Busato).

A mulher na gestão dos negócios 

 

O agroturismo mudou muito nossa vida economicamente. Inicialmente conciliamos o trabalho na roça com o agronegócio, o trabalhou dobrou, mas foi recompensador. O agroturismo em Venda Nova deu muito certo e logo abrimos nossas propriedades para visitação. A Atividade possibilitou uma maior participação das mulheres nas discussões e planejamentos dos negócios da família e acesso à informação. Despertou também o interesse por capacitação na área de trabalho e oportunizou viagens através de visitas técnicas. Além disso, gerou uma independência financeira, apesar do lucro ser distribuído pela família, podemos realizar alguns desejos pessoais.” (Fátima Tonole, 44 anos, três filhas- Sítio e Adega Tonole)

Sangue novo para ampliar produção

 

Fiz o curso técnico em administração no Ifes. Eu me identifiquei porque é um curso que abrange varias áreas dentro da propriedade. Tive uma grande influência, pois se tratando de uma boa escola como o Ifes, pude enriquecer meu conhecimento e aplicar nas minhas atividades do dia-a-dia. Minha avó, Ana Joana Marchiori Brioschi, é minha referência aqui, pois com ela aprendo várias coisas, como histórias e culinárias dos meus antepassados. Nós mulheres da família estamos todas integradas, desde a produção, comercialização e até a parte administrativa, procurando nos empenhar ao máximo. Pretendo ampliar produção dos itens atuais e criar novos produtos na área de laticínios ,utilizando e agregando valor na matéria-prima já existente na propriedade.” (Priscila Filete Brioschi, 19 anos- Sítio Brioschi)

Formada pela escola da vida

 

A Pousada e Restaurante Bela Aurora completou dois anos em janeiro deste ano. Antes eu não atuava no agroturismo, só no cultivo e comércio de verduras junto com o meu marido, José Rubens Dalvi, mas sempre fui freguesa das propriedades locais e conhecia o trabalho de cada uma. Quando adquirimos o terreno, vimos que era bacana e poderia trazer paz e tranquilidade para as pessoas. E é isso o que queremos proporcionar ao turista. Aqui na pousada sou eu quem administro, embora tenha estudado só até a quarta série do Ensino Fundamental. Naquela época, não existia transporte escolar de Bela Aurora até Venda Nova e meu pai não permitiu que eu fosse até a escola de Pindobas de bicicleta porque as únicas companhias eram meninos. Aos 13, tive que abandonar os estudos para ajudar meu pai na roça. Em alguns momentos da minha vida, o estudo me faz falta, mas sei que não é tudo. É preciso vontade para fazer as coisas. Aqui, no atendimento, é preciso ser carinhosa e acolhedora. A vida é uma escola.” (Elizete Bottacine, 45 anos, duas filhas- Pousada e Restaurante Bela Aurora).

Um comércio que lucra amizades

 

Sou muito mais feliz aqui do que quando trabalhava fora. Não tem comparação o retorno da amizade que você conquista atendendo aos turistas. Não é um comércio comum, tem uma relação de sentimento com as pessoas que você recebe, conversa…Hoje pensaria muito se tivesse que voltar a trabalhar em um comércio comum”, diz Sônia Altoé, 58, mãe de duas filhas.

 

Sempre estive à frente da parte administrativa e financeira ao lado da Tia Cila, minha irmã. Enfrentei com ela os altos e baixos do começo do agroturismo, porque até 2001 só podíamos contar com o nosso ponto de venda. Hoje temos um mercado garantido para os nossos produtos dentro e fora do município. Fazer parte disso é uma conquista.” Lúcia Altoé, 62 anos.

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