Foto: Asscom Espírito Madeira
Na terceira edição da feira Espírito Madeira – Design de Origem, que acontecerá de 11 a 13 de setembro em Venda Nova do Imigrante (ES), o artesanato em madeira volta a ocupar lugar de destaque entre os atrativos do evento. Na cidade considerada a “Capital Nacional do Agroturismo”, a relação com a madeira é antiga e enraizada na cultura dos imigrantes italianos, presentes desde a estrutura das casas até os móveis e objetos do cotidiano. Em meio a essa tradição, três artesãos se destacam não apenas pela habilidade, mas também pela forma como suas histórias se entrelaçam com o fazer manual em madeira.
Inês Carnielli é um dos nomes que traz consigo uma forte ligação afetiva com a carpintaria tradicional. Ela cresceu em uma casa de fazenda onde funcionava uma pequena marcenaria, um cenário comum para famílias do interior em tempos nos quais “não tinha muito acesso a fábricas, tudo era feito ali mesmo”. A lembrança do pai fabricando portas, janelas e até coadores de café a marcou profundamente. “Eu cresci admirando isso. Desde pequena já fazia meus carrinhos com rodinha de sabugo de milho”, relembra com carinho.
Mesmo com o preconceito de gênero que marcou sua infância — “esse tipo de trabalho era visto como ‘coisa de homem’” —, o gosto pela madeira permaneceu latente até que floresceu com força. Hoje, Inês traduz esse amor em peças decorativas e utilitárias feitas com um olhar sensível e cheio de memória. “O que eu mais carrego comigo é a observação. Meu pai não me ensinava diretamente, mas eu prestava atenção em tudo.” Seu processo criativo é profundamente intuitivo, respeitando o tempo e a natureza do material.
A vendanovense também fala sobre a importância de se manter fiel ao que acredita, mesmo em um mercado exigente. “Já tive uma fase em que tentava atender pedido específico de cliente, mas isso me deixava muito estressada… Hoje eu crio peças que têm mais a ver comigo.” E sobre a Espírito Madeira, ela é categórica. “Mais do que vender uma peça, a gente conta uma história. Esses eventos também incentivam novas gerações.”
José Camata, por sua vez, revela uma trajetória distinta. Diferente de Inês, ele não teve contato próximo com a tradição italiana da carpintaria. Ainda assim, encontrou no trabalho artesanal um caminho fértil de expressão e sustento. Conhecido como “Beppe Camata”, aos 80 anos, mantém uma oficina e uma lojinha às margens da BR-262, no distrito de São João de Viçosa, onde também criou seu próprio torno para confeccionar as peças. Com foco em brinquedos e utensílios, busca adaptar a produção às demandas do público atual. “Vejo as tendências e procuro atender à preferência do cliente”, afirma de forma prática. O legado também inspirou a filha Silvana, pedagoga, que após um problema de saúde que a afastou do trabalho por um ano, passou a criar peças com a técnica da pirografia, explorando principalmente temas religiosos católicos como forma de pagar uma promessa feita durante o tratamento. Camata reconhece o valor de eventos como a Espírito Madeira. “Não só para mim, como acho que para todos do ramo, é a melhor feira.”
Com uma vivência mais enraizada na história familiar, Tiago Altoé traz uma narrativa rica em referências. Filho da artesã Penha Alásia e descendente da tradicional família Altoé, sempre esteve cercado por ferramentas e práticas manuais. Ele se diz encantado desde cedo pelas estruturas das casas antigas. “Sempre fui apaixonado pelo sistema de encaixe das casas. Os imigrantes italianos faziam tudo com ferramentas simples e rudimentares.” Esse fascínio pelas formas de construção influenciou diretamente seu trabalho como artesão.
Tiago reaproveita madeiras de demolição, portas e estruturas antigas de casarões da região. “São madeiras muito nobres, que podem ser aproveitadas. Muitas delas acho jogadas aos cantos, nas tulhas”, conta. Seu processo é artesanal e detalhado, utilizando técnicas como pirografia e transferência de imagens por colagem manual, sempre sem o uso de máquinas modernas. “O principal segredo que aprendi é ter paixão por aquilo que faz e se conectar com aquilo.”
Além da técnica, o artesão compartilha também o espírito colaborativo que move eventos como a Espírito Madeira. “A madeira é possibilidade de renda e oportunidades. Na feira, as pessoas podem adquirir conhecimento, trocar experiências e, além de tudo, realizar comercialização e networking.” Participante das edições anteriores, ele valoriza o que aprendeu e o espaço que o evento proporciona para os artesãos.


Serviço:
3ª Feira Espírito Madeira- Design de Origem
Dias 11, 12 e 13 de setembro de 2025
Local: Centro de Eventos Padre Cleto Caliman, “Polentão”, em Venda Nova do Imigrante (ES)
Realização: Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau
Mais informações: www.espiritomadeira.com.br
Instagram: @espiritomadeiraoficial
*Entrada gratuita