Fernanda Zandonadi
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"Um resumo do que é dirigir pela BR-262? É correr perigo o tempo todo".
As palavras são de quem entende do assunto. Motorista de ônibus, Fernando Mendes de Assis faz o trecho entre Vitória e Realeza, em Minas Gerais, há nove anos. Além das curvas acentuadas, os muitos buracos que surgiram na pista é outro grave problema, reclama o motorista, sendo enfático ao afirmar que a rota não é simples.
"A maioria dos acidentes é por estrada ruim. Claro que há imprudência, mas nada que uma faixa dupla não resolva. Na minha opinião, o pior trecho é entre Victor Hugo e Viana, mas é só dar uma olhada perto do trevo de Conceição do Castelo para ver que está cheio de buracos. Além de perigoso, dá muito prejuízo", conta o caminhoneiro Ronaldo Ambrosim, que já tem 25 anos de estrada e garante: "nos últimos anos, a BR-262 piorou muito. É muito mais trânsito e a pista está cada vez pior".
Motoristas imprudentes colocam em risco outros veículos ao fazer ultrapassagem em locais proibidos |
E não é difícil constatar o que dizem os profissionais. Em um trecho pequeno, de menos de 20 quilômetros, entre Venda Nova do Imigrante e a entrada para o distrito de Aracê, em Domingos Martins, foi possível contar dezenas de buracos na via. De alguns, é possível desviar, entrando um pouco na via contrária. Em outros casos, a depender do trânsito, não tem jeito: é deixar o carro levar o solavanco e arcar com os prejuízos.
Às vezes, é preciso invadir a pista contrária para tentar fugir dos buracos da rodovia |
Isso sem contar que uma viagem que duraria uns 15 minutos numa velocidade média, pode durar mais de meia hora, dependendo do fluxo de caminhões em locais onde não é possível uma ultrapassagem segura – o que nem todos levam em conta. Na prática, isso significa que a falta de mão dupla e a irresponsabilidade de alguns motoristas podem colocar em risco outros veículos que trafegam pela via.
E os números corroboram com o que os motoristas veem na prática. Segundo o Balanço 2016 da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Espírito Santo, somente as BRs 101 e 262 somam mais de 85% das mortes ocorridas nas estradas. As tradicionais causas dos acidentes são excesso de velocidade, ultrapassagem proibida ou forçada e o consumo de álcool, de acordo com o órgão. Nas duas rodovias, há diversos trechos batizados como “curvas da morte”.
Interdição
A falta de cuidado com o entorno da BR também é visível. Na noite deste domingo (3), uma barreira caiu e interditou a pista por várias horas. Um Corolla foi atingido e levado pela lama, mas ninguém ficou ferido. Sorte, a contar com a quantidade de terra e vegetação que ficou espalhada estrada afora.
O motivo da queda do lamaçal foi o rompimento de um cano de irrigação, que atravessa a rodovia pela parte aérea. A água encharcou o solo, que desceu a pedra como um tobogã. Nesta segunda-feira (4), ainda era possível ver fios de água escorrendo no local, apesar de o problema ter sido sanado. E há, ainda, muito solo e matéria orgânica sobre as rochas, o que poderia acarretar um novo deslizamento.
Ainda há muita terra e vegetação sobre a rocha, o que poderia acarretar novos deslizamentos |
A Defesa Civil de Domingos Martins, que esteve no local na noite de domingo, ainda não realizou o laudo e, portanto, ainda não aponta responsáveis, caso haja algum. Em nota, a prefeitura da cidade informou que os técnicos estiveram no local e voltarão na manhã desta terça-feira (5), junto com o secretário de Meio Ambiente, fiscais e secretário de Obras, a fim de avaliar as causas do ocorrido.
"A área é de difícil acesso, e o percurso precisa ser feito por dentro da mata. Será averiguada a existência de ligação de água no local, e verificada sua regularidade. O trânsito na rodovia está normal, sendo liberado ainda ontem (domingo, 5), por volta das 21h. Máquinas da prefeitura foram enviadas para realizar a limpeza no local", finalizou a nota.
Duplicação, quando?
A novela da duplicação da BR-262, que poderia evitar a maior parte dos acidentes e danos aos veículos, remonta a décadas. Prometida, este ano, para ser iniciada entre o fim de julho e início de agosto, ainda não há máquinas na pista. Solicitamos, por e-mail, uma posição do Dnit sobre o início das obras de duplicação da rodovia, mas até o momento o órgão não expediu resposta.
Um pouco de história
BR-262 é uma importante rota para escoamento da produção do Centro-Oeste (Ilustração: Wikipedia) |
A BR-262, ou Rodovia Presidente Costa e Silva, interliga os Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, o que a torna uma importante via de escoamento de produção do Centro-Oeste brasileiro.
O quilômetro zero fica em Vitória, no Espírito Santo. São 195,5 km em solo capixaba, 999,8 km em Minas Gerais, 316,7 km em São Paulo e 783 km no Mato Grosso do Sul. O trecho paulista ainda não é reconhecido, apesar de aparentemente o traçado ser coincidente com o da SP-310 no trecho entre Nhandeara e Ilha Solteira.
Entre Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e João Monlevade, a BR-262 e a BR-381 se unem, formando uma única rodovia. As informações são da Wikipedia.
Até 1964, no sistema antigo de numeração das rodovias federais, a atual BR-262 era conhecida como BR-31. O asfaltamento do trecho entre Belo Horizonte e Vitória foi concluído em 1968. O trecho entre Campo Grande e Corumbá foi concluído anos depois em 1996.
Em 2009, a BR-262/381 registrou 280 mortes em 9.614 acidentes, 138 pessoas morreram e 2.159 ficaram feridas em 2.975 acidentes somente no percurso entre Belo Horizonte e Governador Valadares.
Em 2010, 17 pessoas morreram em menos de 72 horas, no trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares entre os dias 23 e 25 de junho. Ao todo a BR-262/381 registrou 334 mortes em 9.890 acidentes.