* Por Leandro Fidelis
Sem esboçar qualquer reação e mantendo o mesmo semblante sério com que chegou ao Fórum de Venda Nova, o lavrador Orli Betine Marques, 36, ouviu sua sentença por volta das 23h30 de ontem (6) pela morte da menina Valéria Flávio de Almeida.
Por 7 votos a zero, os jurados decidiram que ele passará os próximos anos em tratamento num hospital psiquiátrico. Isto significa que a pena de 20 anos, dois terços da esperada pela promotoria, fica suspensa até que um laudo médico constate que Orli esteja curado. Homicídio qualificado, ocultação de cadáver e morte por motivo fútil são alguns dos crimes atribuídos ao lavrador.
Além do conselho de sentença, o juiz Evandro Alberto da Cunha baseou-se em um laudo médico-pericial que diz que o criminoso apresenta transtorno caracteriológico anti-social (psicopatia), o que na legislação caracteriza-se como condição de semi-imputabilidade, principal argumento da defesa.
A promotora de Justiça Adriana Dias Paes Ristori afirmou que, caso os jurados não considerassem o argumento do Ministério Público, o assassino de Valéria poderia ficar livre em menos tempo. O resultado atende aos anseios de justiça e vai possibilitar que este cidadão fique mais tempo preso, ainda que num hospital psiquiátrico. Infelizmente a lei de crimes hediondos caiu por terra. Com mudanças nesta lei, mesmo que pegasse pena máxima de 33 anos, ele ficaria preso por até seis anos na prisão e já estaria na rua.
O julgamento durou cerca de 10 horas. Apesar de se estender até quase meia-noite, não foi o mais longo da história de Venda Nova. A marca continua sendo a do júri dos pais e da avó das crianças enterradas vivas no Camargo em 1993, que foi até de manhã. Mais um triste capítulo que não se apaga da memória dos moradores daquela localidade e de todo o município.
Família se emociona
Valéria foi morta brutalmente aos nove anos porque provocava Orli o chamando de macaco e fazendo gestos com o dedo. Um motivo aparentemente banal, mas que uma mente perturbada como a do lavrador leva aos extremos.
Com a ajuda da sobrinha Dinalva, 20 anos e 18 na época, conseguiu atrair a vítima até a boca de uma matinha no Camargo e a estrangulou até a morte. Não satisfeito, fez sexo com o cadáver e o cortou em pedaços para não deixar vestígios.
Ontem, duas tias e um irmão de Valéria, acompanhados de amigos, saíram chorando do Fórum de Venda Nova. Para o ajudante de pedreiro Kelson Flávio de Almeida, 22, o irmão, a justiça foi feita. Agora tenho certeza de ele vai pagar pelo crime que cometeu.
Ele e Tânea, de 17, são os únicos filhos vivos da ajudante de cozinha Brandina, 40. A irmã de Valéria, Cátia, 21, e seu sobrinho de sete meses tiveram uma morte misteriosa. Apesar da localização das ossadas, não se sabe a identidade do autor do crime.
A artesã Dalza Flávio Braga, 34, diz que vive insegura desde a morte das sobrinhas. Vai saber se o filho da gente sai e não volta mais? Moro há 15 em São João, tenho quatro filhos. Um deles ensaia na banda marcial e tive que pedir ao maestro para acompanhá-lo após os ensaios… Não tenho mais segurança.
Julgamento de Dinalva será 2ª feira
Dinalva Marques Moura, 20, sobrinha de Orli e acusada de participar do assassinato, só sentará no banco dos réus na próxima segunda-feira, às 10h.
O advogado de defesa da ré, Eurico Eugênio Travaglia, não aceitou o primeiro jurado sorteado para a sessão de ontem e a Justiça decidiu desmembrar o julgamento dos dois acusados.
* Publicada em 07/12/2006