FMZ A Rádio
da Família

Cidadão do mundo

Com Adriana Müller. Psicóloga. Pós-graduada em Psicologia Familiar Sistêmica. Morou na França, nos Estados Unidos e em vários Estados do Brasil. Acompanhe, em tópicos, a sua opinião sobre o tema em pauta:

Diversidades. Cidadão do mundo é aquele que consegue aceitar as diferenças que existem. No nosso planeta têm muitas religiões diferentes, etnias e cores, o cidadão do mundo é aquele que entende que antes de qualquer outra coisa, nós todos somos seres humanos, filhos de Deus, de Allah, ou de outra divindade, cada um nomeia do jeito que quer. Cidadão do mundo é aquele que consegue ampliar as próprias fronteiras e entender melhor esse lado maior da humanidade.

Fora de Casa. Eu costumo falar o seguinte, os três primeiros meses fora de casa, não importa se é Vitória, São Paulo, ou Paris, esses três primeiros meses é período que a gente precisa de adaptação, é onde as diferenças aparecem, a gente precisa aprender a se comunicar com as pessoas daquele lugar, entender como eles pensam, porque é diferente de como a gente vive e se relaciona. Até aprendermos a lidar com as diferenças. A questão de sermos brasileiros e eles não são, fica muito forte. Depois com tempo, isto vai apaziguando, ficando mais tranqüilo e aí vão aparecendo os amigos e aparece a humanidade. Não é mais um americano que está lá, é uma pessoa que gosta de mim, que se importa comigo, que quer me ajudar. Criamos laços de amizade que perduram anos, depois através de cartas, de telefonemas. É um período muito curto os três meses, é um período sofrido, mas depois que a gente supera a gente consegue compreender de verdade o que é ser cidadão do mundo, o que é a gente descobrir que o mundo é feito de seres humanos.

Abertismo. Existe uma palavra que a gente precisa tirar do nosso dicionário que é ´preconceito´. É uma grande barreira em qualquer situação. termos preconceito de religião, de cor, de raça, achar que a gente está pensando certo e outro está pensando errado. Preconceito atrapalha nossos relacionamentos. Outra questão que aparece muito quando a gente está fora de casa é a questão do saudosismo, a gente fica lembrando das coisas porque a gente começa a valorizar o que a gente perdeu, deixou para trás. Esse saudosismo não é bom, porque a gente não fica com a imagem real do que é, a gente fica com uma ilusão. De repente aquele lugar que eu deixei era o melhor do mundo, não, não era o melhor do mundo, era um lugar do mundo onde as pessoas te amavam, você tinha amigos, as pessoas eram importantes para você e você era importante para as pessoas. Nesse novo lugar onde você está agora você terá que construir isso, vai construir essas amizades, esse laços afetivos, vai aprender a se comunicar com as pessoas, e esse lugar vai se tornar importante para você também. Isso é ser cidadão do mundo. A gente compreender que podemos construir em qualquer lugar, podemos crescer em qualquer lugar, podemos semear coisas boas nessa terra tão fértil que é o nosso planeta.

Pré-conceito. Preconceito são duas palavras: pré e conceito. Quer dizer, é um conceito que eu já tenho. Isso normalmente é aprendido, Por exemplo, eu aprendo que ser de uma forma determinada é o certo, conseqüentemente, se eu acho que isso é certo, os outros estão errados. A gente vê muita diferença, a gente precisa aprender a ver o que nós temos de igual. Somos humanos, temos todos uma alma, um coração e nós todos temos sonhos, isso nos faz iguais.

Convivência. A grande vantagem da cidadania universal é aprendermos a conviver. Podemos criar laços de amizades com as pessoas independente de quem elas são, podemos sonhar junto. Tem aquela frase do Raul Seixas “um sonho que se sonha só, é somente um sonho, mas um sonho que se sonha junto, é realidade”. Pensar grande é pensar em conjunto, pensar em um sonho onde todos possamos sonhar juntos. Quem de nós não quer um mundo feliz, de paz e harmonia?

Universalismo. Penso que estamos caminhando para o universalismo. Uma língua universal, existe avanços da humanidade para fazer com que países tenham uma moeda única, é um avanço na idéia da globalização, um sentimento universal que una as pessoas do planeta dentro dessa meta comum para virar realidade.

Solidariedade. Morar no exterior foi uma grande forma de amadurecimento. Fazemos amizades importantes, até porque são pessoas que nos recebem em outro país, um lugar estranho, uma linguagem estranha e mesmo assim as pessoas se solidarizam-se com você. Na minha primeira aula na França, eu não tinha muita noção ainda da linguagem e a professora pediu que nós desenhássemos a mão e colocássemos os nomes dos dedos. Eu não sabia o nome de cada dedo em uma outra língua. A professora começou a ficar brava comigo, eu era uma burra, pois não sabia os nomes dos dedos. Era minha primeira semana de aula. Meus colegas falaram com a professora que eu não era burra, que eu tinha chegado de um outro país e que não entendia o que ela estava falando. A professora me entendeu, pediu desculpas, e ali nasceu um laço de amizade que durou o ano inteiro e que hoje eu me lembro com muito carinho.

Considerações finais. Ser cidadão do mundo é estender a mão para outro na hora que ele está precisando e entender que ele é importante como ser humano. Conseguimos isso com esforço, não precisamos ir para um outro país para aprendermos a ser solidários e fraternos. Todo mundo tem vizinho, tem colega de escola, tem alguém precisando de uma mão amiga. Para a gente ser cidadão do mundo não precisamos conhecer todos os países do mundo, a gente pode ter o espírito de cidadão do mundo dentro de casa, dentro da cidade da gente. Quando saimos de nós mesmos e enxergamos o outro, nos tornamos membro da humanidade.

*Publicada em 16/10/2006

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