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da Família

Cooperação e competição- parte III

Com Celso Seiji Onishi, professor universitário da área da Informática e Física, é Engenheiro, se dedica à Pesquisa da Evolução da Consciência. Ele consegue dividir o tempo entre o trabalho, as leituras, a inter-relação com a família, amigos e o lazer, que muitas vezes, segundo ele, aparece intercalado ou se funde às demais atividades. Celso conta o que pensa sobre o assunto:

Prioridades. A questão é termos uma prioridade e focar exatamente naquilo que queremos. O problema é que, provavelmente quando não temos tempo, na prática estamos querendo abarcar muito mais atividades do que podemos fazer. Na vida temos que ter espaço para tudo: estudo, lazer, atividades físicas… e conciliar isso tem a ver com priorizar o que estamos querendo ou não. Na questão do trabalho e do lazer, nós temos a tendência de separar trabalho de lazer, achar que trabalho é sofrimento e só as férias são o lazer, a atividade prazerosa. Eu tenho casos na família, por exemplo, de pessoas que trabalharam a vida inteira para poder usufruir da aposentadoria. Aposentaram e logo depois faleceram de alguma doença cardíaca ou de um derrame. Nós temos que, no nosso dia-a-dia, conciliar trabalho e lazer de preferência em uma mesma atividade e não dissociarmos uma coisa da outra. Talvez essa seja uma alternativa. Existe um grande “ídolo” meu, que é um sociólogo italiano Domenico De Masi, autor do livro “Ócio Criativo”. Esse termo “ócio” gera uma certa antipatia pelas pessoas, mas na verdade a nossa sociedade hoje já atingiu, com o desenvolvimento tecnológico da ciência, um estado de bem-estar humano suficiente para viver bem, sem precisarmos nos estressar tanto a ponto até de abalar nossa saúde. As grandes empresas já têm entendido que “prender” os seus funcionários 10, 12, 15 horas diárias para trabalhar é contra producente, é um estresse tal que a atividade que deveria ser criativa passa a ser monótona, a pessoa não produz aquilo que tinha que produzir. O ócio criativo é uns dos temas de pesquisa de Domenico De Masi. Existem grandes empresas que contratam Domenico De Masi como consultor, empresas como a IBM, a FORD e essas idéias já estão tendo cada vez mais aceitação.

Competição saudável. A questão da competição é inata no ser humano até porque todo o desenvolvimento da sociedade sempre se baseou na questão da competição, na luta, nos conflitos. Podemos pensar de duas formas: que sempre foi assim e vai continuar assim, ou que sempre foi assim, e foi importante que tenha sido assim, mas daqui para frente nós podemos fazer melhor. Essa questão da competição tem a ver com lutar pela sobrevivência e isso tem muito mais a ver com o reino animal do que dos humanos. Em vez de lutar pela sobrevivência a gente começa a formar mutirões pela bem-vivência, se unir pela bem-vivência. Isso já é possível baseado até nas próprias pesquisas de Domenico De Masi. A única forma de competição que é aceitável no ponto de vista da consciência humana é a competição consigo mesmo. É querer continuamente se auto-superar. Essa competição é saudável. As pessoas podem se questionar de que o fato de se competir consigo mesmo pode gerar ansiedade, angustia ou até uma certa depressão. Normalmente isso acontece porque na prática a gente quer competir com o outro. Vemos que o patamar que o outro está, nós não atingiremos facilmente. Isso realmente não é saudável, mas se competirmos conosco mesmo, se conseguirmos fazer isso, a cada instante teremos uma vitória. Uma vitória de nós mesmos, sobre nós mesmo. É uma forma de estarmos permanentemente motivados e felizes, porque sabemos que estamos nos esforçando para ser hoje melhor do que ontem e amanhã para ser melhor do que hoje.

Divergência X competição no campo das idéias. A competição é sempre não-saudável. A divergência é imprescindível. Só que a divergência de idéias passa a ser competição quando eu quero sobrepujar à sua idéia. A divergência saudável é quando exponho a minha idéia e você expõe a sua idéia, a gente pode ter idéias antagônicas, mas como adultos que somos ou eu acho que a sua idéia é melhor que a minha e acato a mesma e vice-versa, ou ambos vamos continuar tendo idéias antagônicas sem que isso afete o nosso relacionamento. A divergência de idéias é sempre saudável, desde que eu não queira sobrepujar ou ser melhor que você. A divergência de idéias é saudável porque a gente vai chegar a um denominador comum e é importante que haja essa divergência. Muitas empresas entendem isso, tanto que contratam pessoas com as mais diferentes características possíveis, tanto étnicas, quanto de formação acadêmica, justamente para haja essa diferença de idéias mesmo, porque a criação nesse grupo é muito mais positiva do que a criação em um grupo no qual todas as pessoas pensam iguais. A criatividade nasce exatamente das divergências.

Competição: homem x máquina. A máquina veio para ficar e isso não tem como a gente voltar atrás. Ela acaba com o trabalho do homem sim, mas com aquele trabalho repetitivo, monótono, que faz mal para saúde. Nesse aspecto eu vejo de forma positiva as máquinas fazerem o trabalho do homem, porque vamos fazer o que realmente compete a nós fazermos. Temos esse cérebro não é a toa. Provavelmente vamos estar fazendo trabalhos criativos, trabalhos que exijam da gente uma performance que uma máquina não consegue ter. Essa é grande diferença. Apesar se eu ser da área de informática, a gente sabe que jamais uma máquina ou um computador vai substituir a criatividade e o intelecto humano. Ela substitui sim, o trabalho braçal, assim como os animais também substituem. Houve uma época em que os animais começaram a substituir o trabalho humano, o arado era puxado por vaca, por boi, hoje é o trator. Neste contexto eu considero positivo.

Competição e colaboração na região de Venda Nova do Imigrante. Quando cheguei em Venda Nova do Imigrante, tive oportunidade de ler livros sobre a região. Venda Nova é um centro de exemplo, de excelência no Estado. No meu ponto de vista isso só ocorre porque o povo que construiu essa cidade teve como lema a questão da cooperação. O mutirão era uma atividade muito comum aqui na cidade. Se essa geração atual, a qual faço parte, tem a “benção” de usufruir de uma cidade como Venda Nova do Imigrante, certamente isso se deve à esse povo, que hoje já é um pessoal mais de idade, mas que deixou muito forte essa característica de cooperar um com o outro.

Globalização. Espero que esse espírito permaneça e que se expanda ainda mais. A gente tem que cooperar não só com os nossos, mas essa questão tem que se expandir a ponto de cooperarmos um com o outro independente de nacionalidade, de partido político, religião, etc. Como a própria globalização já está mostrando, o mundo é muito pequeno, não adianta dizer que o problema é de outro país se, com certeza esse problema vai nos afetar. Um acidente nuclear que acontece no Japão, a radiação vai chegar aqui; um derramamento de petróleo que acontece na Costa Americana, é o oceano do mundo que vai ser contaminado. O mundo é uma aldeia muito pequena e esta questão da cooperação tem que, cada vez mais, expandir-se.

Ensinar cooperação. Isso é um grande desafio, porque tudo nos leva a crer, a mídia, a televisão, os jornais, nos fazem crer que a competição é algo natural e até saudável. O desafio é a gente mostrar exemplos em que a cooperação surtiu ou surte muito mais efeitos benéficos do que a competição. Um fato, um exemplo, é a própria população de Venda Nova do Imigrante, a geração que construiu a cidade. Assim como há esse exemplo, com certeza existem vários outros. Um outro exemplo, que é notório, aconteceu nos EUA: o americano é o povo mais competitivo do mundo, uma das empresas que mais cresceram foi criada pela união de três pessoas, cada uma um expoente na sua área. Elas poderiam estar competindo umas com as outras, mas resolveram unir esforços e fundar uma única empresa. Isso não é muito comum entre os americanos. Então a gente vê que, mesmo numa sociedade competitiva como a americana, um exemplo de cooperação gera resultado muito melhor do que se eles tivessem competindo entre si, que é o que normalmente acontece. A pessoa que coopera não pode esperar receber algo em troca, e muitas vezes essa pessoa nem aparece, esse é o grande desafio da cooperação. Como pesquisador, estou disponível para o debate e divergência de idéias, quem quiser conversar mais e até divergir comigo, por favor esteja a vontade, eu agradeço.

*Publicada em 17/10/2006

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