* Redação FMZ
Sua última mostra foi realizada em 2005 e depois de nove anos, a artista plástica capixaba Rosana Paste retorna com uma exposição individual chamada “eumuseu rosana paste”. A abertura da mostra será no próximo dia 8 de maio, às 19h30, na Galeria Matias Brotas, em Vitória. Na ocasião, a artista também lança seu livro “eumuseu rosana paste”.
Referências recorrentes nos trabalhos da artista são esculturas em escala arquitetônica ou em forma de múltiplos, e agora num recorte de sua produção, evidencia o corpo como parte de seu projeto artístico. Na mostra, essas referências tornam-se ainda mais evidentes. A exposição reúne esculturas, fotografias, desenhos, plotagens, com foco no desenvolvimento da proposição artística Geografia Genética, onde entra o corpo como obra, a história e a memória, que ela revela também através de fotos comparativas de três gerações de sua família: ela, Dona Jove (mãe), Daniel (filho).
“Em 2002 iniciei o projeto de Geografia Genética, que consiste em fotografar três gerações de uma mesma família sempre de amigos, ou seja, avô-pai-neto ou avó-mãe-neta. As fotos são das mesmas partes dos corpos onde a pele fica em evidência, uma mostragem da ação do tempo naquele espaço/corpo e naquele corpo/tempo. Naquele ano, as fotos foram projetadas sobre uma escultura de pele de coelho e ferro. Considerei desde então, que o trabalho exposto estava iniciando, que o processo de pensar e construí-lo deveria ser aprofundado, multiplicado, transformado”, explica Rosana Paste.
Na performance “artista de corpo presente”, a artista como proponente convida Taiza Ammar, Lobo Pasolini e Jocimar Nalesso, o coletivo que desenvolveu o trabalho do livro. Rosana coloca seu corpo como eixo principal do trabalho em processo, disponibilizando somente tesouras e placas de chumbo para serem moldadas.
“Rosana nos esperava em casa como uma sacerdotisa pagã que prepara um ritual, um ritual onde o corpo da artista, peça central de sua obra, seria ofertado como material para ser manuseado, manipulado e re-territorializado como parte de uma performance registrada para esse livro”, destaca Lobo Pasolini. O registro fotográfico do processo está no livro “eumuseu rosana paste”, que será lançado na noite do vernissage.
Uma referência importante na obra de Rosana Paste é a utilização de múltiplos. Nesta mostra, os múltiplos aparecem em sete delicadas e instigantes esculturas de cadeiras em aço inox e veludo com o titulo “entre rainhas”. Sete livros de chumbo, com pele de coelho e encadernados com fio de prata, também são múltiplos na exposição, mesmo o chumbo sendo um material pesado, é maleável, podendo suas páginas, ser folheadas. Para a artista, os livros são “meio que diários, recortes de memórias, lugares onde o pensamento se permite…”
O “eumuseu”, segundo a visão da artista é um conceito ampliado de museu, pois “todos nós carregamos por gerações nossas memórias, objetos que remontam nossas histórias, afetos, e talvez nossa maior peça de museu seja nossa genética, uma vez que ela nos é dada.” A Geografia Genética é uma proposição artística, mas também uma provocação artística. Quem quiser pode construir a sua.
A exposição reúne trabalhos feitos a partir de uma gama de materiais que vem marcando a trajetória da artista e dando corpo à suas ideias filosóficas, incluindo chumbo, pele de coelho, aço inox, o veludo e mármore sintético. O projeto inicia em 2002, mas as esculturas e o livro foram realizados entre 2013 e 2014.
Desenhos e pensamentos
Além das esculturas, o livro apresenta desenhos e pensamentos da artista, textos de Lobo Pasolini que ganham vida própria, “pois não estão ali para ser literal com a imagem, mas sim para agregar mais informações à complexidade do projeto”.
Para Rosana, o fotógrafo teria que ser um cúmplice da artista para captar flagrantes silenciosos, e assim o fez Jocimar Nalesso, sem maquiagem, mostrando uma realidade processual que parece mudar a toda hora, a cada página virada. Taiza Ammar como designer gráfica teve a sensibilidade para cortar e montar os registros fotográficos e os textos, criando novos territórios e multiplicidades interpretativas dos trabalhos.
Tudo isso e muito mais o fruidor de arte poderá ver e participar. Rosana prepara para a exposição um espaço do afeto, onde vai mostrar uma peça de vestuário antiga, de 1954, e que em 2011 ela reterritorializou em chumbo com o título “Calcinha para noite de núpcias”. A exposição e o livro “eumuseu rosana paste” traz investigações contemporâneas de arte, onde o pensamento e a prática andam juntas na construção do trabalho.
“O EUMUSEU É A VIDA
COMO UM CANTEIRO DE OBRAS
ESCULPIDAS PELO TEMPO. DoNA
ROSANA É SEU MATERIAL E FIO
CONDUTOR. NELA OS CÓDIGOS
DA GEOGRAFIA GENÉTICA SE
CRUZAM E SE FECUNDAM”.
(Lobo Pasolini)
Serviço:
Exposição e lançamento do livro “eumuseu rosanapaste”
Local: Galeria Matias Brotas (Vitória)
Abertura: 08 de maio, às 19h30