* Leandro Fidelis
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O pizzaiolo Norbert Klettenhammer, o popular “Norberto” (62), sempre preferiu as montanhas. Nascido em Dobbiaco, Norte da Itália, na divisa com a Áustria, vivia a 2.000 metros e sua família era a moradora do ponto mais alto da sua região, conhecida como “Dolomiti”.
Há 23 anos, quando escolheu o Brasil para viver, o italiano tratou de procurar uma propriedade em Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana, que tivesse as mesmas características da sua terra natal. O sítio fica a 1.200m de altitude, no Distrito de Alto Caxixe, de onde se avista a Pedra Azul, o Pico do Forno Grande e a Serra do Caparaó. No inverno, a temperatura chega a zero grau na propriedade. “A altura me dá paz e sossego”, diz o pizzaiolo.
A exemplo de Norberto, outras pessoas vivem nas alturas. A altitude é positiva quando o lugar está acima desse nível e negativa quando está abaixo. Quando a altitude aumenta, a temperatura ambiente diminui aproximadamente 1 grau Celsius.
Segundo o geógrafo Lázaro Boone, a distância vertical entre o cume de uma montanha, por exemplo, e o nível do mar é conhecida como altitude absoluta. Altitude relativa é a altitude de uma montanha em relação ao fundo de um vale ou a diferença de altitudes entre duas montanhas.
Diferença de até cinco graus do centro
O casal Jean Carlos Peterle (33) e Débora Possebon Martins (32)vive a 1.086 metros de altitude, na zona rural de Venda Nova do Imigrante. A vista privilegiada e a tranquilidade pesaram na escolha do sítio, próximo da Pedra do Rego, uma das montanhas mais altas do município, com 1.441 metros.
A diferença de temperatura é sentida quando eles vêm à cidade. “Saio com o bebê de sete meses todo agasalhado e, quando chego lá embaixo, está mais calor. Dá até cinco graus de diferença”, conta a assistente social.
Ela diz que se pudesse moraria ainda mais alto. “O problema é a dificuldade para captar água em terrenos com mais aclive.” Como está bem próximo da cidade, o casal não vê dificuldade de locomoção.
Brejetuba tem a sede mais alta
Brejetuba é o município com a sede mais alta do Espírito Santo. De acordo com dados da biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE/ES, a cidade fica a 780 metros acima do nível do mar, superando até Domingos Martins, onde fica a Pedra Azul.
O município maior produtor de café arábica do Estado tem zonas de temperaturas e altitudes variadas e faz divisa com o Estado de Minas Gerais em uma região de clima quente.
Até o ponto máximo da BR-262 no Espírito Santo fica no município de Brejetuba. Uma placa indica 1.174 metros de altitude, na altura da localidade de Alto Silveira.
Altitude favorece produção de café
A 1.100 metros de altitude, o cafeicultor Joselino Meneguetti (62), de Rancho Dantas, zona rural de Brejetuba, consegue grãos mais doces e valorizados pelo mercado de cafés especiais. Ele explica que isso só acontece com plantações em locais mais frios e sombreados na maior parte do dia.
A propriedade está cercada por Mata Atlântica. “Isso favorece a maturação, que é mais lenta onde há mais altitude e concentra mais doçura no café”, diz Meneguetti. De acordo com ele, a temperatura do lugar onde mora varia de 10 a 22 graus.
O cafeicultor mora a poucos metros do Topo do Urubu, com 1.300 metros em relação ao nível do mar, ponto mais alto do município. De lá é possível ver os municípios de Afonso Cláudio, Conceição do Castelo, Ibatiba, Muniz Freire, a Pedra Azul, Venda Nova do Imigrante e ainda um trecho de Minas Gerais. O local é destino de esportistas radicais, a exemplo dos jipeiros, motociclistas e praticantes de voo livre.
A qualidade do produto do cafeicultor de Rancho Dantas pesa na cotação de preço. Uma saca do seu café de qualidade já foi vendida a R$ 1.000,00. E outro reconhecimento é o contrato de três anos com uma cafeteria de São Paulo, considerada uma das melhores do mundo. O frio tem as suas vantagens.
Frio é risco para quem mora muito alto
Os principais males físicos que grandes altitudes podem causar estão relacionados ao frio, à oxigenação e à diferença de pressão entre o corpo e o ar ambiente, salienta o médico Pedro Luiz Júnior.
Altitude elevada prejudica principalmente praticantes de esportes, como escalada, pois quanto maior a altitude, menor é a quantidade de oxigênio, o comprometendo a respiração e o rendimento dos atletas.
No caso de quem vive em altitudes muito elevadas, o risco, ainda que menor, é o da tuberculose. “É a única doença propícia em grandes altitudes, mas com os tratamentos atuais e o uso de medicamentos específicos, não representa tanto risco.”
Sedes municipais mais altas
1º- Brejetuba- 780m
2º- Dores do Rio Preto e Ibitirama- 770m
3º- Ibatiba- 740m
4º- Irupi- 730m
5º- Pinheiros- 710m
6º- Santa Maria de Jetibá- 700m
7º- Divino de São Lourenço- 680m
8º- Iúna- 661m
9º- Santa Teresa- 655m
10º- Muniz Freire e Vargem Alta- 650m
11º- Venda Nova do Imigrante- 630m
12º- Domingos Martins- 620m
Os distritos mais altos
1º- Melgaço (Domingos Martins)- 980m
2º- Aracê (Domingos Martins) e Garrafão (Santa Maria de Jetibá)- 970m
3º- Urânia (Alfredo Chaves)- 900m
4º- Santa Marta (Ibitirama)- 820m
5º- Mundo Novo (Dores do Rio Preto)- 790m
* No Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado- Geobases, ligado ao Incaper, disponível na Internet, é possível verificar as localidades de maior altitude no Espírito Santo.