Entrevista: como equilibrar o orçamento doméstico em meio à redução salarial e ao distanciamento social?

Professor Lucas Bessa coordena e ministra cursos sobre Educação Financeira

 

Em um momento de grandes mudanças de nossa rotina e necessidade de desenvolver novos hábitos, dialogar sobre Educação Financeira, torna-se oportuno em nossos lares, local de trabalho ou qualquer outro ambiente onde convivemos.  

 

Hoje, no Ifes Campus Venda Nova  do Imigrante, o professor Lucas Marin Bessa coordena o Grupo de Pesquisa em Educação Financeira (GPEFIN) que tem desenvolvido atividades sobre a área, desde 2015, através de palestras, cursos, pesquisas científicas dentre outras atividades, para alunos do Ifes e toda comunidade vendanovense e Região.

 

 

1) Muitos trabalhadores formais tiveram salários reduzidos nesse momento de quarentena, alterando hábitos, costumes e os orçamentos familiares.  Diante desse cenário, é possível uma família equilibrar o orçamento doméstico?

 

Lucas Bessa: Com as reduções salariais autorizadas pela Medida Provisória 936/2020 que podem chegar até 70% do salário, é de suma importância que o trabalhador revise seu orçamento doméstico, devendo dividi-lo em duas grandes áreas: itens básicos para sua sobrevivência, como alimentação, energia e água e os supérfluos, que podem ser reduzidos ou eliminados. Colocar isso em papel irá auxiliar no corte de gastos e na priorização dos itens essenciais. 

Caso haja contas em atraso, é fundamental procurar a empresa para negociar a forma de pagamento e os prazos, visando reduzir o desembolso de juros ou, em muitos casos, eliminá-los, dado que muitas empresas têm feito isso para manter o cliente em sua base.

 

2) Como administrar as compras com o cartão de crédito? O uso do crédito é uma boa alternativa nesse momento?

 

Lucas Bessa: O cartão de crédito muitas vezes é tratado como vilão do orçamento doméstico, vez que ele cria a ilusão de um aumento da renda, mesmo quando a pessoa não consiga realizar o pagamento integral ou parcial. Como as taxas de juros, dos cartões de crédito, para o pagamento parcelado do valor da fatura, são muito elevadas, podendo chegar a cerca de 300% ao ano, é fundamental gerenciar e realizar o pagamento total da fatura, no vencimento. Assim, evita possíveis problemas no futuro. Isso fica evidente quando analisamos os dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) de março deste ano, onde aponta que cerca de 78% das famílias endividadas, possuem débitos com cartão de crédito. 

Assim sendo, ter cuidado no uso do cartão de crédito deve merecer atenção especial de todos nós. Recomendamos somente utilizar esse crédito, caso tenha a certeza de que conseguirá realizar o pagamento integral da fatura no momento do vencimento, caso contrário, busque outras alternativas com menores taxas de juros. 

Nos casos em que a pessoa já se encontra endividada, a recomendação é fazer contato com a sua operadora de cartão ou banco para negociar a dívida, isso fará com que  consiga reduzir o montante dos juros pagos e estabelecer prazos para quitar a dívida.

 

3) Na sua visão, é necessário envolver toda a família nessa nova realidade financeira?

 

Lucas Bessa: As decisões relacionadas a dinheiro devem ser compartilhadas com toda a família. É fundamental que os pais conversem com seus filhos, os assuntos relacionados ao orçamento doméstico, como as contas básicas para o funcionamento da casa, como: água, energia e alimentação. Isso trará maior dimensão da importância do controle do dinheiro e criará a rotina de controle de gastos, algo que muitos jovens ainda necessitam desenvolver.  

Um exemplo interessante é sobre o consumo de energia na casa. Todos devem desenvolver o hábito do uso racional dos recursos como desligar o televisor quando ninguém estiver assistindo, tomar banho com o tempo controlado, retirar da tomada aparelhos que não estejam em uso. Pequenos gestos que impactará positivamente todo o consumo do lar e reduzirá a conta de energia ao final do mês. Essa conquista somente ocorrerá caso todos estejam envolvidos. Se um não fizer, boa parte da redução do consumo estará comprometida. Mais que redução de despesas, esses hábitos, promovem a educação financeira de todos, para  a vida toda. 

Anotar o valor economizado auxilia na avaliação anual, pois uma economia de R$10,00 por mês nessas contas, se transforma em R$120,00 quando analisamos um ano, isso sem adicionar os juros do período e, a criação do hábito de poupar.

 

4) Seria essa nova realidade uma oportunidade de aprender a lidar melhor com as finanças dentro de casa?

 

Lucas Bessa: Claro que sim. Aproveitar esse momento para criar novas formas de gerenciar as finanças, pode ser uma grande conquista para a maioria das família. Inclusive, conversar sobre as finanças da casa, deverá ser algo rotineiro, fazendo com que os filhos se interessem em controlar suas finanças pessoais e, sempre busquem participar do orçamento familiar. Isso possibilitará conquistas mais rápidas e o alcance de sonhos que antes pareciam inalcançáveis. Poupar é interessante, mesmo em época de crise. 

Estabelecer o hábito de planejar as despesas e anotar em algum lugar irá dar nova dimensão sobre o uso do dinheiro e, se tornará uma prática para o futuro e para sempre. Hoje, já existem, também, diversos aplicativos para controle de gastos para Android e IOS e que funcionam de forma gratuita. 

Iniciativas sobre Educação Financeira que podem ser realizadas por um ou todos os membros da família e que trarão grandes conquistas para o futuro, devem ocupar lugar de destaque nas discussões sobre o futuro de nossa comunidade. É importante observar a fonte da iniciativa e sempre desconfiar de dicas mirabolantes, como "faça esse curso e fique rico em 1 mês" como temos visto na internet e que podem levar a piora do quadro financeiro pessoal e, consequentemente, familiar. 

 

5) Poderia citar algumas dicas práticas de como lidar melhor com a educação financeira?

 

Lucas Bessa: Apresento aqui algumas dicas que podem auxiliar no processo de desenvolvimento de uma educação financeira para a vida. Todas funcionarão melhor se você compartilhar com amigos, familiares e outras pessoas do seu meio:

-Faça o planejamento prévio das suas despesas e dívidas entre itens de necessidade e itens supérfluos;

-Realize suas anotações no momento ou próximo ao gasto por meio de papel, planilha ou aplicativo móvel. Caso demore para realizar a anotação, deixará de contabilizar itens que impactarão no orçamento; 

-Quanto ao cartão de crédito, somente use a quantia que tem certeza que conseguirá realizar o pagamento integral da fatura no momento do vencimento; 

-Caso tenha dívidas em aberto, busque a empresa para negociar. Explique sua situação atual e indique a forma como consegue realizar o pagamento. Importante que seja realista evitando que haja uma renegociação;

-Não acredite em promessas "mirabolantes" de ganho com investimentos! Verifique se a Instituição que está oferecendo é registrada no mercado e se a prática é lícita em nosso País;

-Aproveite esses momentos de diálogo nos assuntos familiares para o crescimento de todos os membros da família e a harmonia no lar;

-Por fim, converse com seus familiares sobre o orçamento doméstico. Isso será um grande aliado para o controle dos gastos pessoal e de toda família.

 

Lucas Marin Bessa: Professor do Instituto Federal do Espírito Santo Campus Venda Nova do Imigrante. Mestrado e Graduação em Administração de Empresa e especialização na área de educação. Foi consultor empresarial nas áreas de finanças e gestão. Atualmente é coordenador do Grupo de Pesquisa em Educação Financeira (GPEFIN) e ministrante do curso de extensão "Educação Financeira: aprenda a lidar com seu dinheiro" que já teve mais de 300 participantes dentre alunos do Ifes e outras Instituições, colaboradores de empresas e comunidade de Venda Nova do Imigrante e Região.  Contato: lucas.bessa@ifes.edu.br

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