Fernanda Zandonadi
A escassez de soro antirrábico no país mudou o protocolo de atendimento aos pacientes que utilizam o medicamento em todo o Espírito Santo. Segundo profissionais da saúde, o uso do remédio, hoje, está sendo controlado. Isso significa que, quando o paciente precisa do soro, de acordo com a prescrição médica, é preciso ligar para uma central na Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). O profissional da Sesa é quem vai decidir se realmente é necessário o uso do medicamento. Se for avaliado que a vítima deve receber o soro, o medicamento é encaminhado, em até sete dias, para o local que requisitou.
Antes, a triagem e a decisão final sobre se o paciente deveria ou não receber o soro ficava a cargo do médico que atendeu e teve contato direto com o acidentado. O soro é diferente da vacina antirrábica. O medicamento é usado como primeira barreira à infecção e é aplicado no local da mordida ou arranhadura.
No fluxo de profilaxia da raiva humana do Ministério da Saúde, datado de agosto de 2014 e disponível na internet, consta que os pacientes com lesões graves (na cabeça, face, pescoço, mãos, poupas digitais ou planta dos pés) por cão ou gato raivoso, desaparecido ou morto, animais silvestres (inclusive os domiciliados) e animais domésticos de interesse econômico ou de produção, devem iniciar imediatamente o esquema profilático com soro e cinco doses de vacina administradas nos dias 0, 3, 14 e 28. O soro deve ser infiltrado na porta de entrada, quer dizer, deve ser aplicado no local da mordida ou do arranhão dado pelo animal suspeito.
Documento
Os profissionais da saúde receberam em 23 de junho de 2015, uma nota técnica enviada pelo Núcleo Especial de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde. O documento diz que "desde 2013 os laboratórios nacionais produtores de imunobiológicos estão passando por uma fase de adequação às normas da Anvisa, o que tem influenciado na produção e estoque nacional de soros/imunoglobulina antirrábicos como reforçado pelo comunicado do Ministério da Saúde nº 201/2015 de 18/06/2015”.
A Vigilância Epidemiológica Estadual, continua o documento, "visando a minimizar riscos à saúde da população capixaba, vem implementar ações para o gerenciamento adequado do estoque estadual de soro/imunoglobulina antirrábicos através de fluxogramas de atendimentos para profilaxia de raiva humana. Os fluxogramas orientam o atendimento do usuário nos municípios das regionais de saúde e Grande Vitória, as competências de órgãos municipais regionais e estaduais na confirmação da necessidade do soro/imunoglobulina antirrábico e dispensação do insumo".
Segundo o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Aloísio Falqueto, a centralização do soro antirrábico não gera nenhum risco à população. “A raiva de transmissão canina nas cidades diminuiu muito, então o entendimento é que é inviável ficar uma rede de distribuição completa nos municípios. A raiva tem um período de incubação longo e a vacina é muito segura. Além do mais, são poucos os casos de indicação do soro. Dá tempo para socorrer e prevenir com uma central de distribuição do medicamento. O soro é um produto caro, depende de uma rede de refrigeração, e eu avalio que o melhor é centralizar esse estoque e enviar aos municípios quando necessário. Não há prejuízo para a saúde da população pois o Espírito Santo é um Estado pequeno e rapidamente o soro pode chegar em qualquer local. Inclusive, com a centralização é possível que a conservação do medicamento seja mais adequada".
O que diz a Sesa
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que "todos os pacientes com indicação médica para administração do soro antirrábico estão sendo atendidos. A triagem funciona da seguinte forma: o paciente procura a unidade de saúde onde recebe atendimento com a primeira dose da vacina e passa por avaliação da necessidade de aplicação do soro. Se houver indicação médica, a unidade de saúde encaminha a solicitação para a secretaria de saúde municipal e para a Secretaria de Estado da Saúde onde a necessidade é avaliada. A liberação do soro é feita pela Sesa, ou pela Superintendência Regional de Saúde, nominalmente para cada paciente. Após a liberação, o município orienta o paciente sobre o hospital que ele deve receber o soro".