A Fundação Oswaldo Cruz constatou que voltou a ocorrer morte de macacos em regiões em que a incidência havia diminuído.
A informação foi dada pela pesquisadora Márcia Chame, coordenadora da plataforma de biodiversidade e saúde silvestre da Fiocruz, durante o lançamento da Operação Primata, feito em Florianópolis, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação.
Segundo a pesquisadora, é preciso avaliar esses casos, que são a continuação de um processo de febre amarela. “Esses registros foram feitos por pessoas da região Sudeste, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santos e Minas, onde houve um impacto grande. Isso ainda continua acontecendo, embora tenha reduzido”, revelou.
Morte de macacos está relacionada a casos de febre amarela (Agência Brasil/Arquivo/Fábio Massalli)
Para Márcia Chame, a perspectiva era de haver menos casos porque há uma dinâmica em que o ciclo, quando começa a esfriar em maio, há uma diminuição de ocorrências e só volta a retomar após outubro, com pico no verão.
“Este ano a gente está vivendo um inverno bastante quente e começa a ver animais mortos. A gente já fez um alerta para a coleta dos animais e não tem a certificação de que aquilo é febre amarela, mas, como a gente vem nesse processo, tem que manter o alerta. As pessoas têm que ficar atentas. Houve uma baixa adesão à vacina em muitas áreas e é importante que as pessoas não pensem que a doença já foi e não precisam se vacinar mais”, alertou.
Macacos não identificados
No entanto, a pesquisadora deu também uma boa notícia. Em algumas áreas onde ocorreram muitos casos de morte de macacos, a população já começou a identificar mais animais na região.
“Há registros de pessoas vendo animais em condições de saúde bastante boas e isso é sempre uma excelente notícia. Na Ilha Grande, onde houve os primeiros registros de febre amarela em humanos, já tem bugios [macacos] com boa saúde. Essas notícias são boas, animam”, completou.
Ainda durante do lançamento da Operação Primatas, o professor da Universidade de Brasília, Bráulio Dias lamentou a informação do coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Leandro Jerusalinsky, de que, apesar das ocorrências de febre amarela no Brasil, o país não conseguiu mensurar a expansão do impacto do surto da doença em comunidades de primatas.
“A gente poderia fazer melhor. Tinha que ter capacidade de mobilizar parceiros para conseguir este dado. Sei que é difícil, mas é importante”, observou.
O professor chamou atenção para a situação de caça de primatas em diversas regiões. Ele revelou que uma iniciativa, iniciada na África, tem a ideia básica de que não se resolve esta questão apenas com a polícia e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
“O foco é restabelecer os laços com povos indígenas e comunidades locais, que estão no campo no dia a dia. Eles são os maiores consumidores de primatas. Acho que temos que trabalhar com eles e explicar que as espécies estão ameaçadas e vão desaparecer. Tenho certeza que podem ser parceiros”, disse.
Para o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro Oliveira Costa, a caça de primatas, quando vinculada a comunidades tradicionais, passa pela necessidade de entendimento dessa população de que os animais podem ser mais valiosos a partir da visitação em projetos de ecoturismo do que servir “uma panelada de um pouco de carne para um fim de semana. Isso é questão de educação e de informação, disse.
Primatas
O secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro Oliveira Costa, informou que a Operação Primatas visa evitar a extinção dessas espécies.
“O Brasil é o país que mais tem primatas no mundo e é a nação onde está a maior quantidade de primatas ameaçados. Temos 150 diferentes espécies de primatas e 37 delas ameaçadas e seis criticamente ameaçadas”, revelou.
A operação estabeleceu oito ações prioritárias, entre elas, a criação da unidade de conservação Sauim-de-coleira, na zona urbana de Manaus; uma outra para assegurar a proteção do guigó-de-Coimbra-Filho em Sergipe; e o fortalecimento da Reserva Biológica Mata Escura que tem entre as espécies o Barbado Vermelho, que, segundo Leandro Jerusalinsky, é um dos animais com mais risco de extinção no mundo.
Fonte: Agência Brasil