Elizio Nilo Caliman
Brasília
Nosso irmão Gaudêncio partiu com um aviso de, apenas, alguns dias de antecedência, surpreendendo a todos a caminho da comemoração das bodas de casamento de Lodovido e Alda, a serem celebradas naquele dia 2 de fevereiro, como se fosse um desmancha prazeres. Não foi assim que foi interpretado por todos. A celebração aconteceu festiva, conforme programada, com ele presente no pensamento de todos, para no dia seguinte receberem seu corpo a ser inumado no cemitério de Vanda Nova do Imigrante, cidade que o viu nascer a 74 anos. Durante as duas celebrações foram lembradas e exaltadas as qualidades de Gadêncio, unindo o pensamento da vida com o significado da morte como uma passagem para outra vida.
Foi o irmão com quem mais convivi na vida adulta, desde que deixou o caminho da vida sacerdotal dos agostinianos na década de 70 do século passado. Acompanhei sua atribulada vida, quando perseguido pelo SNI durante a malfadada ditatura militar pelo fato de, como professor, ter se colocado a serviço da restauração da Democracia. Moramos juntos em Brasília durante anos em que recompôs sua vida como professor e educador. Sou testemunho de suas belas virtudes colocadas a serviço do ensino e da educação, tanto em instituições particulares como públicas. Como prova cabal, apenas, um fato que marcou sua honestidade em toda a sua vida profissional.
De certa feita, um secretário da Educação do Governo do Distrito Federal convidou Gaudêncio como seu assessor, com razoável estipêndio compensatório. Meses depois pediu demissão com a seguinte justificativa:
“Prefiro ir dormir com a consciência tranquila, com a cabeça recostada no simples travesseiro de professor, a ter que me dobrar à podridão que domina a direção de ceras instituições públicas”.
Esse foi o paradigma que marcou toda a sua vida profissional, que tentou transmitir a seus alunos. Quanto a sua morte, um tanto prematura, tenho, apenas, a observar como a vida é um mistério. Dos seis irmãos que já partiram, Gaudêncio é o quinto a abaixo de mim a furar a fila, deixando-me para trás. Agradeço-lhe a gentileza.
Por oportuno, nossos agradecimentos ao radialista Francisco Zandonadi, o Chico da Rádio FMZ de Venda Nova do Imigrante, colega de Gaudêncio, que oficiou a celebração das bodas de Lodovico e Alda e, no dia seguinte, fez a encomendação no enterro do corpo de Gaudêncio no cemitério de Venda Nova, propiciando serena meditação sobre a vida, simbolizada no casamento, e a morte como transição para nova vida que, ainda, não nos é dado entender.