* Leandro Fidelis
(leandro@radiofmz.com.br)
Elas começaram do zero e foram longe. As mulheres de Vila Pontões, distrito da zona rural de Afonso Cláudio, na Região Serrana, aos poucos saem do posto de coadjuvantes para assumirem um papel de destaque no desenvolvimento da comunidade. Antes restritas ao trabalho doméstico e na roça, nove produtoras rurais de Vila Pontões se uniram para superar as dificuldades e fortalecer o cooperativismo e o empreendedorismo que lhes faltavam para injetar autoestima e garantir qualidade de vida para elas e suas famílias.
O momento de elas se fazerem ainda mais conhecidas na comunidade onde vivem será o próximo dia 29 de setembro, quando acontecerá o 1º Encontro das Mulheres Empreendedoras de Vila Pontões. Neste dia, será lançado oficialmente o Grupo de Mulheres Empreendedoras e Cooperativistas, resultado dos encontros do projeto Governança Cooperativa, que é coordenado pela Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo- Pronova com apoio da OCB/Sescoop- ES.
O evento será realizado das 12h às 16 horas, no Salão da Igreja Católica, quando acontecerão palestras sobre motivação e autoestima, piquenique, sorteios e momento de beleza da mulher. As ações são coordenadas pela consultora do projeto Governança Cooperativa, Andréa Salerno, e pelas funcionárias da Pronova Jackeline Uliana Donna e Ednea Behrend Falqueto.
A ideia de promover o evento surgiu durante os encontros das mulheres da comunidade, iniciados a partir do ano passado. A Pronova começou esse trabalho junto àsesposas e filhas de cooperados, visando aumentar a participação das mulheres na cooperativa e também na gestão das suas propriedades além de fomentar o empreendedorismo feminino. “O objetivo é a sensibilização dessas participantes, mostrando a elas a importância do grupo”, destaca a gerente de certificação da Pronova, Jackeline Uliana Donna.
Até agora, já foram realizados três encontros dos seis previstos, quando são trabalhados os temas: conhecendo e desenvolvendo o grupo; a força do cooperativismo e o exemplo da Pronova; mulheres empreendedoras; liderando mudanças – quebra de paradigmas; Visão de futuro: elaboração de um plano de trabalho para o grupo; e fortalecendo a prática cooperativista.
Aos poucos, criando rotina, essas mulheres vão conciliando seus afazeres com os encontros. De acordo com Jackeline, desde maio a maioria está envolvida na colheita do café na parte da manhã e, na outra, despolpando os grãos colhidos. Por esse motivo, o próximo encontro ainda não foi agendado e pode ocorrer só na segunda quinzena de agosto, com a safra já no fim.
A consultora Andrea Salerno afirma ter se surpreendido com o grupo. “Ao iniciarmos o trabalho, nos surpreendemos muito ao perceber um grupo de mulheres empreendedoras, com disposição para atuar pelo desenvolvimento de sua comunidade. Ideias, propostas e sugestões de atuação conjunta já foram debatidas e um plano de ação está a caminho.”
Ainda de acordo com Salerno, o cooperativismo se torna ainda mais forte pela ação feminina. “Disposição e boa vontade são palavras de ordem para este grupo, que tem dado exemplos de cooperativismo através de suas posturas de empenho e dedicação e, acima de tudo, pela demonstração que têm dado de que acreditam na força no cooperativismo e na Pronova. Certamente essa iniciativa trará frutos aos moradores de Vila Pontões”, disse a consultora.
O 1º Encontro de Mulheres Empreendedoras e Cooperativistas de Vila Pontões vem para comprovar a importância da atuação feminina na comunidade. A programação do evento ainda está sendo concluída e será divulgada em breve. O Encontro será aberto à participação de mulheres a partir dos 15 anos.
Aprendendo a degustar café
Um dos momentos de maior participação e aproveitamento foi o primeiro treinamento de colheita/pós-colheita e noções básicas de degustação de café voltado para mulheres que a Pronova realizou em setembro de 2012. O objetivo foi treinar as participantes nesses temas, uma vez que elas estão totalmente envolvidas nesses processos nas propriedades.
Para as participantes, o treinamento foi extremamente proveitoso. “Na parte da pós-colheita, verificamos que há muita coisa possível de melhorar na próxima colheita. E também vimos que para fazer um café de qualidade, é preciso observar muitas ações no pós-colheita”, declarou a cooperada Josane Lima Bissoli.
Já Carlaine Fernandes Delpupo, achava que fazer café de qualidade era difícil, mas mudou sua visão com o que aprendeu no treinamento. “Nós vimos que pequenas mudanças de hábito podem fazer a diferença”, destacou.
Outra que gostou do que aprendeu foi Etelvina Aparecida Peisine Kiefer, também esposa de um cooperado da Pronova. “Por mim, poderia dar continuidade ao treinamento amanhã mesmo. Eu adoro mexer o café, conversar com o café. Gosto de tudo que envolve o café”.
O treinamento foi ministrado pelo degustador de café e gerente de qualidade da Pronova, Edevaldo Correia Costalonga, e realizado em parceria com a Aliança Internacional das Mulheres do Café- IWCA Brasil.
Para a gerente de certificação da Pronova, Jackeline Uliana Donna, o treinamento foi muito importante e despertou nas participantes o interesse em aprender mais. “Elas não querem parar. Algumas disseram que têm vontade de acompanhar o trabalho dos degustadores da Pronova e dar continuidade ao aprendizado”, declarou Jackeline, que também integra a diretoria da IWCA Brasil.
Depoimentos das participantes
Maria Delpupo Bissoli, 72 anos– Uma das mais atuantes do grupo, aagricultora Maria Delpupo Bissoli, 72 anos, conta que ela e sua família tinham uma propriedade no distrito de Floresta, onde viviam tranquilamente. No ano de 1987, com a troca da moeda brasileira e os juros altos, foram afetados com a crise nacional: fizeram alguns investimentos, mas não obtiveram retorno até a família decidir vender tudo o que tinha, liquidar as contas e comprar um terreno em Vila Pontões, onde recomeçaram a vida e estrearam na cafeicultura.
Ali, investiram em café de qualidade e, com apoio dos filhos, reestabeleceram a saúde financeira da família. “Meu marido Guarino, já falecido, sempre buscou novas oportunidades, era honesto, trabalhador e tinha boas ideias.”
Imaculada Mendonça Ferreira, 42 anos– Outra história comovente é a de Imaculada Mendonça Ferreira, 42 anos. Casada aos 19, logo teve seu primeiro filho que, por ter passado da hora de nascer, viveu 18 anos em estado vegetativo até morrer. “Não saía de perto dele, apenas quando precisar ir ao médico ou ao dentista ou uma vez por ano na festa de premiação do concurso de qualidade de café da Pronova, quando contava com ajuda da família para ficar com meu filho em casa”, conta.
Quando o primogênito morreu, Imaculada diz que se sentiu perdida. Como tinha outro filho menor, afirma ter ganhado força para recomeçar e o trabalho na roça foi fundamental. A atividade lhe abriu portas para participar de reuniões e cursos até chegar ao Grupo de Mulheres. “Às vezes ainda bate uma tristeza, mas busco força na fé para seguir adiante.”