* Leandro Fidelis
(leandro@radiofmz.com.br)
Descendente de italianos de Trento, a apresentadora Xuxa Meneghel comemorou, em maio deste ano, a conquista da dupla cidadania postando uma foto de seu novo passaporte numa rede social. Ao contrário de muitos ítalo-brasileiros, Xuxa só esperou quatro anos pelo documento porque recorreu a um advogado na Itália responsável por processos semelhantes de várias celebridades.
Sem a mesma sorte da apresentadora, cerca de 15 mil moradores do Espírito Santo vivem uma verdadeira saga na espera pelo reconhecimento da dupla cidadania. Alguns aguardam esse dia chegar há mais de dez anos.
Desse total, 5.000 descendentes de imigrantes trentinos, que vivem principalmente nas regiões de Colatina, Santa Teresa, Castelo e Venda Nova do Imigrante, aguardam o documento, segundo o Consulado do Rio. Houve um prazo para eles recorrerem ao direito, de 2005 a 2010, mas de lá pra cá houve pouca evolução.
Estima-se que em todo o Brasil sejam mais de 500 mil pessoas na fila. Desses, mais de 50 mil processos são de descendentes de imigrantes de Trento, uma região da Itália antes dominada pelo Império Austro-Húngaro Para esses, a situação é mais complicada, pois o direito à cidadania só foi reconhecido recentemente.
O número restrito de agendamentos concedidos ao Vice-Consulado do Espírito Santo e o acúmulo de processos em poder da Itália são os principais entraves.
Cansados de esperar, muitos descendentes usaram a Justiça para garantir os seus direitos, ou até morou na Itália pelo tempo necessário para comprovar residência e conseguir a cidadania de forma mais rápida.
A maior colônia trentina capixaba é Santa Teresa, onde funciona o Circolo Trentino- CT. Essa associação congrega descendentes trentinos ainda em Venda Nova do Imigrante, Colatina e Vitória. Durante o período de abertura de processos de cidadania, foram os “circolos” que prestaram atendimento voluntário para obtenção do documento italiano.
“Os benefícios da cidadania italiana vão além de uma entrada livre e possibilidades de trabalho na Europa. É preciso estar atento para esse momento de globalização, em especial os pais, para aproveitar as chances de melhor educação para os seus filhos”, destaca o agronômo Leandro Roberto Feitoza, um dos fundadores do CT Venda Nova.
Grupo aguarda resposta desde 2005
Uma excursão de van levou um grupo de primos e amigos de Venda Nova ao Rio em 2005 para dar entrada no processo de cidadania.
Do grupo faziam parte o professor de educação física Breno Caliman, 35, a fisioterapeuta Bruna Feitoza, 35, o escrevente Miguel Feitoza, 33 (ao centro), a cabeleireira Andressa Bernabé, 38, e o administrador Antonio Gilmar Furlan, 51. Todos aguardam até hoje.
Só na família da cabeleireira Andressa são 50 pessoas à espera da cidadania. Vice-presidente do Circolo Trentino de Venda Nova, Miguel esteve diversas vezes com candidatos ao Parlamento italiano na tentativa de agilizar os processos, mas, segundo ele, tudo ficou no campo das promessas.
Fila única para entrar com pedido e evitar privilégios
Durante muito tempo, o Consulado do Rio privilegiou quem que já tinha algum parente com cidadania, o que agilizava mais o processo.
Com isso, quem fez o pré-agendamento para a entrevista a partir de 2004 e não se enquadrava nessas condições ficou sem respostas sobre o andamento dos processos.
Para corrigir o problema, foi estipulada uma fila única para obtenção da cidadania com a terceirização do sistema de agendamento nos consulados pela empresa VFS.Global (www.vfsglobal.com).
Conforme alguns usuários, o site dá um prazo de até seis anos para o Consulado convocar para entrevista, mas o próprio órgão afirma estar empenhando em reduzir esse tempo de espera.
O próprio Vice-Consulado da Itália em Vitória tem orientado os descendentes a usarem o sistema online para o pré-agendamento, já que desde abril deste ano não presta esse serviço.
O Consulado Geral da Itália no Rio afirma não haver processos de trentinos arquivados na sua circunscrição.
O Consulado Geral da Itália no Rio afirma não haver processos de trentinos arquivados na sua circunscrição. Os descendentes na fila pela cidadania desde 2005 dependem do parecer do Ministério do Interior, órgão de atuação da política interna na República Italiana que, entre outras funções, tem a tutela dos direitos civis, a exemplo da cidadania.