Leandro Fidelis |
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*Leandro Fidelis
leandro@radiofmz.com.br
Para muitos casais, a aliança é o símbolo maior da união e tem mais significado se for feita de ouro. Mas em Ibatiba, no Sul do Estado, um aposentado inovou ao produzir alianças com moedas antigas. O resultado é de impressionar.
José Laurindo, o popular “Zé Leite” (75) começou no ofício aos 15 quando era agricultor. Ele conta que aprendeu com um tio a transformar moedas sem valor em alianças. A atividade virou passatempo em dias de chuva e nos domingos de folga na roça.
Desde então, Seu Zé Leite ganhou clientes onde mora e até em outros países, principalmente os noivos que não têm condições de comprar a joia de ouro. Como o par feito com moeda custa em torno de R$ 70, dependendo da espessura, os casais geralmente encomendam alianças para o noivado e já deixam a medida para fazer as de casamento.
“O homem quando fica noivo, pede uma aliança mais fina, mais discreta para começar a ir se acostumando. Depois, quando vai casar, faz mais grossa”, conta o artesão.
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Cada moeda rende uma aliança. Seu Zé compra a matéria-prima de colecionadores com grandes quantidades repetidas. As moedas mais antigas são as da comemoração do centenário da Independência do Brasil, em 1922.
Em média, o artesão produz quatro alianças por dia, em um processo aparentemente simples: só usa martelo, talhadeira e medidor de anel. O local de trabalho é a garagem de casa, no centro da cidade.
Segundo Seu Zé, em dias frios, a moeda geralmente trinca e é descartada. Já quando o tempo está quente, o trabalho rende mais. “A gente vive dessas pequenas coisas que nos dão prazer”, diz Seu Zé Leite.
O artesão já perdeu as contas de quantas alianças já fez e acredita ter usado mais de 250 quilos de moeda na produção das joias. As alianças do Seu Zé já foram parar na Itália e nos Estados Unidos. Ele calcula que 70% da população casada de Ibatiba subiu ao altar com alianças feitas por ele, sem contar as encomendas de outras cidades enviadas pelos Correios.
Se a matemática do Seu Zé não fecha após 60 anos fazendo alianças com moeda, a única certeza é que tem muito ourives no prejuízo com o interesse dos “pombinhos” pelo material inusitado que vão carregar no dedo. “De ouro ou moeda, aliança não segura o casamento de ninguém”, conclui o idoso.
Filha é garota-propaganda
A técnica em enfermagem Adiná Egídio, 47, filha do Seu Zé Leite, é quem mais divulga o trabalho do pai. Ela garante clientela na Grande Vitória e em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os clientes acabam indicando outros compradores.
Adiná usa modelos e formatos diferenciados de alianças com moeda em quase todos os dedos e ainda carrega em um cordão uma moeda polida transformada em pingente.
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O costume da técnica em enfermagem de andar pelas ruas com joias feitas de moeda já rendeu histórias curiosas. "Quando eu morava na capital, o porteiro do meu prédio me perguntou se não tinha medo de andar com tanto ouro e não acreditou quando disse que os anéis eram feitos de moeda."
Ela lembra também de um cliente que teve a aliança roubada em um assalto, e a vítima não foi poupada mesmo afirmando que a joia não tinha valor.
E não é só ladrão que se engana com o “ouro de tolo”. Segundo Adiná, muitos joalheiros atestaram a existência de ouro nas alianças de moeda. “Teve um que avaliou ter 18 quilates de ouro.” Adiná garante que o material não escurece com o tempo.