* Leandro Fidelis

(leandro@radiofmz.com.br)

O cineasta Steven Spielberg, diretor entre outros filmes do clássico “E.T- O Extraterrestre”, quase sempre fazia suas três irmãs de cobaias em seus filmes caseiros. Assim como a grande maioria dos cineastas, começou a filmar com uma câmera super-8 ainda na sua infância.

Diferente dessa história, o estudante Axl Jeon da Silva Viana, de 16 anos, de Venda Nova do Imigrante, teve o primeiro contato com uma filmadora só há dois anos, ao participar de uma oficina da Mostra de Cinema Rural. Morador do distrito de Alto Caxixe, na zona rural, nem por isso o jovem com nome de rockeiro famoso deixou de ser uma promessa na comunicação. Hoje ele é um dos usuários do Núcleo de Audivisual do Departamento Municipal de Cultura, criado para estimular a produção na área entre os estudantes.

O núcleo é resultado das duas oficinas promovidas na cidade dentro da Rede Cultura Jovem, da Secretaria de Estado da Cultura. Em 2009, houve a participação de 23 estudantes das redes pública e particular de ensino na produção do documentário “Orelha d’Onça” (Assista trailler abaixo), que fala do protagonismo do jovem no meio rural. Na última, em 2010, o grupo contou com 46, culminando no documentário “Socol”, sobre o embutido de lombo de porco que faz parte da cultura do imigrante italiano local.

Dado o potencial desses jovens, a Prefeitura resolveu investir. Em uma sala do Departamento de Cultura, estudantes da 8ª série do ensino fundamental e do 1º ano do ensino médio têm à disposição uma filmadora HD, uma máquina fotográfica e programas de edição de imagens no computador. Ali eles aprofundam as técnicas aprendidas durante as oficinas e as aplicam em trabalhos voluntários, como a cobertura de eventos promovidos pela municipalidade, como a Festa do Tomate e as competições de ciclismo.

“Estamos dando oportunidade a esses jovens de usarem a criatividade. Os oficineiros ficaram impressionados com o talento dos vendanovenses. Ainda não ganhamos prêmios, mas ver o desenvolvimento dos nossos estudantes na área de audiovisual é melhor que prêmio”, diz Claudete Bellon, coordenadora do Departamento Municipal de Cultura.

Axl, por exemplo, revelou um talento nato para a filmagem. Com um olhar observador, o jovem impressiona pela linguagem e a crítica ao documentar momentos da nossa história. É dele grande parte das ideias de enquadramento e cortes do clipe da banda Scrap, outro produto das oficinas. Também não consegue ver uma novela ou filme como antes, já que sempre está de olho nos planos, nos cortes…

Hoje, ele já consegue uns bicos com um estúdio de filmagem da cidade, sempre chamado para cerimônias de casamento. “Acho que aprendi bastante porque era muito fominha na oficina. Num grupo de 20 estudantes, eu era um dos poucos que quis conhecer mais, corri atrás mesmo”, conta Axl, filho de pai ajudante de pedreiro e mãe dona-de-casa.

O estudante pretende continuar nessa área. Atualmente cursa o 1º ano na Escola Estadual Fioravante Caliman, mas pensa em cursar a faculdade de comunicação social com habilitação para publicidade e propaganda devido ao gosto por comerciais de TV e videoclipes. “São meios que dão mais liberdade à criatividade.”

Na fotografia, o município descobriu outro talento, Dhiogo Botacim Alves, 14, da última oficina. Na oportunidade, aprendeu a manipular uma câmera e hoje frequenta, toda quinta-feira, o Núcleo de Audiovisual.

Tamanho talento desse aluno da 8ª série da Escola Fioravante Caliman, que foi até convidado para apresentar a Mostra “Mova Caparaó”, com enfoque ambiental. Além do Núcleo, Dhiogo, um rapaz simpático e de olhar esperto, participa do projeto “Aluno Talentoso”, para estudantes com altas habilidades, onde faz programa de rádio, teatro e fotografa.

“Ainda estou em dúvida para escolher qual faculdade vou fazer, porque também amo muito química”, diz, não escondendo as inúmeras aptidões.

Quando as escolas municipais ou a Prefeitura precisam de alguém para registrar os eventos, o nome de Dhiogo é o primeiro da lista. O trabalho voluntário para ele é importante para ganhar aprendizado, mas ainda pretende produzir um vídeodocumentário de um grande show de uma banda ou de uma festa, como a da Polenta.

Ainda este ano haverá uma nova seleção entre os estudantes de Venda Nova para a 3ª edição das oficinas da Mostra de Cinema Rural.