‘Panevin’ celebra visita dos reis magos há mais de século em Venda Nova

* Leandro Fidelis

Os italianos que colonizaram Venda Nova do Imigrante, na região serrana, trouxeram muito mais que a paixão pela polenta. Na véspera do Dia de Reis, em 05 de janeiro, os homens mais velhos da cidade perpetuam uma tradição que remonta do período anterior ao cristianismo na Europa.

Fotos: Leandro Fidelis
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Com uma fogueira menor que a de costume, Ambrósio, Benjamin e Romualdo Falqueto ensaiam o que acontece na celebração.

Eles são os personagens principais do “Panevin” (pão e vinho), uma festa noturna que reúne famílias inteiras para celebrar a visita dos três reis magos ao menino Jesus. Depois de rezarem e entoarem cânticos religiosos, os anfitriões da casa acendem a fogueira.

O anfitrião mais conhecido é o agricultor Ambrósio Falqueto, de 94 anos, que todos os anos recebe a comunidade no quintal da sua casa. Como manda a tradição, ele prepara a lenha durante o dia para a fogueira, que é benzida com água benta antes de arder até a noite terminar.

O acendimento da fogueira é seguido há mais de um século, assim como faziam os italianos da Província de Treviso, na Região do Vêneto, origem da maior parte dos descendentes de italianos de Venda Nova.

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Ambrósio Falqueto é o guardião do fogo na sua casa.

Segundo o agricultor Benjamin Falqueto (87), a fogueira simboliza a Estrela Guia que conduziu os reis magos até Belém, onde nasceu Jesus. Durante diversas ocasiões, o agricultor foi o guardião do fogo em sua casa.

“No passado, os agricultores comemoravam a colheita, queimando palha de trigo e de videira, as matérias-primas para o pão e o vinho. Se a chama soltasse faísca, significava que a próxima safra seria abundante. Se pendesse para um dos lados, sinalizava o contrário”, conta Benjamin.

Até 1939, o “Panevin” era realizado por 20 famílias em vários cantos do município. Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, quando os italianos foram proibidos de manifestar publicamente sua cultura e falar o idioma natal, a tradição deu uma pausa, só retornando após 1949. “A comunidade sentia saudade da festa e foi o agricultor e escritor Máximo Zandonadi quem reacendeu a chama da tradição aos poucos”, lembra Benjamin.

Atualmente, duas festas de “Panevin” são as mais populares, a do Ambrósio, na localidade de Bananeiras, e a promovida pelo Coral Santa Cecília no centro de convivência Vicente Falqueto, em Lavrinhas. Nesse último local, sempre o homem mais velho presente acende a fogueira.

Ladainha em latim e quitutes tradicionais

O “Panevin” é a única tradição de Venda Nova em que ainda prevalece o latim nas celebrações. Durante a reza da ladainha, oração formada por uma série de invocações curtas e respostas repetidas, os italianos fazem questão de tornar viva a língua das antigas liturgias da Igreja Católica.

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Festa de "Panevin" em 2012.

Passada a parte religiosa, a festa continua com uma mesa repleta de comes e bebes típicos do “Panevin”. O professor de música e regente do coral, Romualdo Falqueto (70) destaca os principais: “Pinsa”, um broa feita com fubá pré-cozido e assada embrulhada na folha de bananeira, e o “Vin Brulè dell’Epifania”, uma espécie de quentão feito com vinho.

“Antigamente, a gente colocava o vinho na frigideira e ateava fogo e açúcar. Mas hoje em dia, o Brulè muitas vezes dá lugar ao vinho de mesa”, conta Romualdo, que sempre acompanha os cânticos italianos do “Panevin” com sua sanfona.

O anfitrião Ambrósio afirma que a ideia de celebrar a Epifania, outro nome dado pelos católicos à visita dos reis magos ao menino Jesus, é confraternizar os amigos como em um pique-nique. “Sempre recomendamos que as pessoas tragam um prato e uma bebida. Biscoitos, bolos, doces e salgados são aceitos. É bonito ver a mesa cheia”, diz Ambrósio.

O dia 05 de janeiro é também o dia em que o presépio instalado na casa da família deve ser desmontado, encerrando as comemorações iniciadas no Natal.

Folias de Reis também celebram data na cidade

A cultura portuguesa também divide espaço com as tradições dos descendentes de italianos em Venda Nova do Imigrante. O município concentra dois grupos de Folia de Reis em atividade, que se apresentam de novembro a janeiro a convite dos moradores.

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Folia de Reis Nossa Senhora Aparecida.

A Folia de Reis Estrela da Guia, do distrito de São João de Viçosa já percorreu o interior do município e também comunidades da zona rural de Afonso Cláudio. “Os convites são constantes e até o padre nos solicitou apresentarmos nas missas das comunidades da Paróquia”, diz Vanderlei Abílio, o “Delei”, coordenador do grupo.

Segundo ele, o “Estrela da Guia” existe há mais de 60 anos e, atualmente, conta com 17 membros. Embora pelo calendário as folias encerram as visitas no dia 6 de janeiro, o grupo tem apresentações previstas até o último dia do mês. No próximo dia 15, por exemplo, os foliões participarão de um encontro de Folias de Reis em Aparecida do Norte (SP) pela nona vez.

Outra Folia de Reis de Venda Nova é a Nossa Senhora Aparecida, do bairro São Pedro, existente há oito anos. São 15 componentes, o mais velho com 76 anos e o mais novo com 16. O mestre do grupo é Geneci Ferreira Berúdio (48), que transporta os companheiros na própria Kombi para se apresentar nas casas.

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