Profissional dá dicas de como viver sem dívidas

Marco Antônio Facury é professor do curso de Administração do Centro Universitário São Camilo, consultor financeiro, engenheiro formado pela UFMG, com especialização pela Unicamp e mestrado pela UFMG em inteligência artificial. 

 

1. Ao se falar em saúde financeira, podemos entender que existe a doença financeira. Quando nosso bolso está doente?

 

Quando o dinheiro, ou a falta dele, está me trazendo mais problemas do que soluções – e isso inclui problemas de saúde. Lidar com dinheiro é algo simples, mas que pode gerar muita dor de cabeça. Por que eu digo que é simples? Exatamente porque sempre ouvimos nossos pais e avós dizerem: não podemos gastar mais do que ganhamos. Além disso, é preciso juntar um pouquinho todo mês para alguma eventualidade. Não é isso que costumamos ouvir quando crianças? Porém, o que parece simples para uns, não é simples para todos. E, muitas vezes por não querermos aprender a lidar de uma maneira mais saudável com o dinheiro, acabamos entrando em enrascadas.

 

Alguns sintomas de que esse problema está fugindo de seu controle podem ser observados no dia a dia: não querer falar da situação financeira com o cônjuge; não querer pensar na vida financeira; acordar durante a noite preocupado com as finanças pessoais; passar o dia todo pensando nas contas a vencer ou vencidas; utilizar habitualmente o limite do cheque especial ou do cartão de crédito; incluir no orçamento mensal o limite do cheque especial ou do cartão de crédito; precisar se desfazer de bens e patrimônios para reequilibrar a condição financeira; não ver mais saída para a situação financeira; pensar que o seguro de vida poderá resolver o problema financeiro da família. Essa lista pode ser acrescida de muitos outros pensamentos, sentimentos e comportamentos capazes de levar qualquer um a adoecer, gerando assim mais um problema.

 

Poderíamos até mesmo aproveitar o slogan governamental: “O Ministério da Saúde adverte: problema financeiro faz muito mal à saúde”. Por pensarmos que do nosso jeito funciona, geralmente postergamos o enfrentamento de problemas inicialmente de simples solução, pensando sermos capazes de resolvê-lo sozinho. Às vezes, pode funcionar. No entanto, o problema fica muito maior quando esta solução caseira e amadora não funciona.

           

2. Quais são os principais vilões do bolso e quais são os pequenos vilões, aqueles que nem notamos?

 

Aqui podemos trazer duas abordagens: primeiramente, temos os pequenos vilões, aqueles pequenos gastos que fazemos frequentemente e que, ao final do mês, causam um desfalque na nossa conta, sem que a gente perceba. Desde um bombom ou sorvete após o almoço até o cafezinho que pago para os colegas depois do trabalho. Em casa, pode ser aquela lâmpada acesa desnecessariamente ou a TV ligada sem ninguém estar assistindo. Somando todos estes gastos, podemos verificar pra onde está indo nosso dinheiro.

 

Além disso, podemos identificar também outros vilões, que às vezes estão escondidos em nossas posturas e comportamentos: quando, p.ex., compro algo que não tenho condições financeiras para pagar à vista, é possível que esteja querendo aparentar uma condição econômica que não condiz com minha realidade (preocupação com status e autoimagem); ou que esteja querendo ter algo só porque o vizinho ou o amigo já tem (sutilezas da competição); ou até mesmo que esteja querendo levar algum tipo de vantagem, usufruindo algo antes de pagar. Em todas as situações, posso acabar pagando caro por não modificar tais comportamentos.

 

3.  Hoje tudo é parcelado. Nas propagandas nem se fala o preço total do produto e sim o valor dele em suaves prestações. Comprar a prazo é um bom negócio?

Na maioria das vezes, não é um bom negócio. Vamos entender por quê. O dinheiro tem seu valor reduzido ao longo do tempo. A matemática financeira surgiu exatamente para estudar esta variação do valor do dinheiro no tempo.

 

Todos nós sempre ouvimos falar da taxa de juros. A taxa de juros é a remuneração paga pela variação do valor do dinheiro no tempo. Se eu deixar mil reais debaixo do meu colchão hoje, daqui a um ano ele valerá menos, o poder de compra deste dinheiro será menor. Se eu “deixar” meus R$ 1.000,00 em alguma aplicação no banco, daqui a um ano eu terei algo perto de R$ 1.100,00, ou seja, terei recebido uma remuneração de R$ 100,00 ou 10% de juros. Ficando isso claro, vamos analisar a situação da compra a prazo.

 

Se eu não tenho o dinheiro para comprar à vista e optar pela compra a prazo, alguém estará pagando minha compra por mim. Em geral, é a própria loja ou uma instituição financeira que faz isso. Todos eles podem até dizer que não cobram juros, mas você pode estar certo de que você estará pagando esta taxa embutida nas parcelas. Isso é o mercado: quem tem dinheiro “empresta” para quem não tem e precisa do dinheiro. Mas, geralmente, cobra caro por isso.

 

Para termos uma ideia, a caderneta de poupança vem pagando, nos últimos 5 anos, taxas em torno de 7% ao ano. Os juros cobrados no mercado variam entre 50% e 400% ao ano! (cartão de crédito, empréstimo, cheque especial).

 

Essa foi apenas uma das boas razões para evitarmos as compras a prazo. Vamos falar de pelo menos outras duas. Seguindo a mesma linha de raciocínio, posso comprar o mesmo produto fazendo a taxa de juros trabalhar a meu favor. Ou seja, se eu juntar o dinheiro ao longo de um determinado tempo, eu vou receber a taxa de juros (e não pagá-la ao banco ou para a loja). Assim, poderei adquirir o produto juntando menos dinheiro.

 

Outra boa razão, que pessoalmente é a que mais me leva a comprar à vista é o fato de eu não ter que ficar pensando naquela conta para pagar todo mês. Como estamos falando em saúde financeira, certamente, ficar todo mês pensando na conta que tenho para pagar na loja pode gerar um stress desnecessário.

4. Diz um ditado popular, muito ironizado, “dinheiro não traz felicidade”. É possível deixar de realizar um grande sonho porque optamos por algo que dá mais dinheiro, mas não nos faz felizes. Como sair desta arapuca?

 

Realmente, o dinheiro não é o fator exclusivo para se alcançar aquilo que o senso comum chama de felicidade, este estado de tranquilidade íntima. Tanto que vemos muitos casos de pessoas excessivamente ricas, mas que estão infelizes, cheias de problemas familiares, profissionais, de saúde, dentre outros.

 

Tudo na vida tem seu preço. E, na maioria das vezes, para conseguirmos alguma coisa, será necessário abrir mão de outra. O aspecto principal para não cairmos nesta arapuca são nossas prioridades. Se tenho clareza do que quero, importa investir toda vontade e esforço de maneira saudável para alcançá-las.

 

O problema é quando viro escravo dos meus objetivos, ou pior ainda, os meus objetivos são, na realidade, sonhos de outras pessoas…

 

5. O dinheiro nos liberta ou nos amarra? Quando ficamos reféns do dinheiro e o que fazer para ter mais liberdade financeira?

 

A ideia é que o dinheiro nos dê condições de liberdade de ação de acordo com o que queremos e precisamos fazer nas nossas vidas. Se me tornei refém da falta, ou até mesmo o excesso de dinheiro, estou com problemas.

Ter tranquilidade financeira não significa ter milhões de dólares. Às vezes, quem está endividado pensa que o dinheiro resolve tudo. Mas sabemos que não é bem assim. Os vários exemplos de pessoas que se enriqueceram de repente e perderam tudo, inclusive o que tinham antes da fortuna, comprovam isso. Assim, a forma como lidamos com o recurso financeiro é que nos dá esta liberdade para realizarmos nossos projetos pessoais, familiares, profissionais, sociais.

 

6.  No controle de caixa temos entradas e saídas, ou receitas e despesas. Então tudo que pagamos consideramos dinheiro que se foi. Mas não é bem assim. Como saber diferenciar a despesa de fato, do investimento?

 

A despesa é uma saída financeira que não traz nenhum retorno financeiro, mas sim o conforto ou benefício do próprio serviço ou produto adquirido. Por exemplo, a TV que comprei, a viagem que fiz, o tratamento dentário realizado e o automóvel adquirido são despesas.

 

Já o investimento é uma saída financeira para algo que irá trazer algum retorno financeiro ou aumento do patrimônio pessoal, seja no curto ou longo prazo. Assim, o terreno ou a casa que adquiri são investimentos.

O automóvel é um exemplo interessante, pois, apesar de aparecer na minha lista de patrimônio, não é um investimento. É uma despesa geradora de mais despesa. Após sair da concessionária, o valor deste bem já é reduzido em cerca de 10%. Assim, a não ser que o automóvel seja um instrumento de trabalho, p.ex. para o representante comercial, ele é uma despesa. Além disso, pode ser uma grande “armadilha”: muitas vezes, compramos um carro sem pensarmos nos gastos associados que teremos – combustível, IPVA, seguro, oficina, etc. É preciso estar ciente de todos os custos envolvidos para não complicarmos nosso orçamento mensal.

 

7. Emprestar dinheiro para parente, fazer negócios com parente, é um investimento a fundo perdido?

 

Não necessariamente. Qualquer negociação financeira, principalmente com amigo ou parente, deve ter as condições muito bem claras para ambas as partes, de maneira a minimizarmos o risco de perdermos a amizade ou criarmos algum problema familiar sério. Aquela história de “quando você puder você me paga” em geral traz muita dor de cabeça para os envolvidos. Se é um empréstimo, quais serão as condições de pagamento? Haverá juros? Em quantas parcelas ou em quanto tempo deverá ser quitado? Isso, além de deixar claro que é um EMPRÉSTIMO, ajuda o devedor a se organizar para pagar.

 

Por outro lado, há situações em que a pessoa quer ajudar e dá o dinheiro, mas depois fica com o sentimento de que o outro deve para ela. Doação é dada, sem cobrança de nenhuma espécie – nem financeira, nem afetiva, nem de favores.

 

8. Como manter o controle financeiro na ponta do lápis? O gordo que quer emagrecer anota tudo que come. O consumista precisa anotar tudo que gasta?

 

Essa é uma estratégia muito boa para a pessoa manter seu controle financeiro. Registrar todas as despesas em um caderno ou planilha é essencial para quem quer assumir o controle da vida financeira e identificar onde está exagerando nos gastos.

 

Assim, ela pode eliminar algumas “gordurinhas” que poderão se transformar na realização de alguns desejos e projetos pessoais, como por exemplo, a compra de uma casa, a viagem internacional, dentre outros.

 

Esta dica vale para todos, não apenas para quem é consumista. Até mesmo aquela pessoa ou empresa que aparentemente está obtendo bons resultados financeiros, pode identificar algumas possibilidades de melhoria de seus resultados a partir desta estratégia de controle de gastos.

 

9. É possível viver sem dívida? Por exemplo, a mensalidade da escola é uma dívida?

 

Sim, é possível viver sem dívidas. Partindo do básico, basta conseguirmos viver de acordo com o padrão de vida que nossa remuneração permite que tenhamos. Se ganho o salário mínimo, tenho que adequar todas as minhas despesas a este valor. É claro que isso exige abrir mão de algumas coisas que gostaria de ter.

 

Legalmente, a mensalidade escolar, a taxa de energia elétrica ou mesmo a parcela do financiamento só passam a ser consideradas dívidas após seus vencimentos.

 

Particularmente, eu trabalho com a ideia de que tudo aquilo que eu estou utilizando e que eu ainda não tenho o dinheiro para pagar é uma dívida. Nesta linha de raciocínio, eu tenho sempre em caixa ANTECIPADAMENTE o valor de todas as mensalidades de serviços que utilizo. Então, para a energia elétrica que estou consumindo no mês de março e pagarei em abril, já deixei reservado o valor no primeiro dia de março. Com isso, não corro o risco de deixar de pagar nenhuma conta, caso haja atraso no recebimento de meu salário ou de meus honorários.

 

10. Agora a pergunta que não quer calar: como gastar sem ficar com a consciência pesada? 

 

Ampliando a autoconsciência e tendo domínio sobre seu dinheiro. Conhecer a sua forma de lidar com o dinheiro é essencial para que você tenha domínio da situação financeira. Quais são meus comportamentos doentios relacionados ao dinheiro? Sou consumista? Sou pão-duro? Sou perdulário? Sou preocupado em manter status e aparências? Sinto-me culpado ao comprar algo? Sou antiético, desonesto, mesmo nas pequenas coisas (p.ex. não devolver o troco recebido a mais no mercado).

 

Quanto mais conheço meu comportamento em questões financeiras, mais posso lidar de forma sadia com o dinheiro. A partir disso, a culpa, a consciência pesada não tem mais lugar.

 

11. Quem está com problemas do corpo vai ao médico, quem está buscando se conhecer melhor ou está com problemas pessoais, vai ao psicólogo. E quem está com problemas financeiros?

 

Costumo fazer esta analogia com o médico ou psicólogo para que as pessoas compreendam a importância de buscarem algum profissional quando observam alguma “doença do bolso” ou quando querem alcançar melhores resultados em suas vidas ou em suas empresas.

 

Da mesma forma que qualquer desorganização das nossas células, de nossos órgãos, de nossos pensamentos e de nossos sentimentos pode gerar doenças, a desorganização financeira também pode gerar muitos problemas pessoais, familiares, sociais e empresariais.

 

O olhar mais acurado, preciso de um gestor ou consultor financeiro poderá identificar problemas onde uma pessoa comum não percebe.

 

Este profissional está apto a fazer melhores diagnósticos e propor tratamentos adequados para que você ou sua empresa obtenha melhores resultados financeiros.

 

Assim como temos muito cuidado ao colocar nossa saúde nas mãos de um médico ou psicólogo, é importante procurarmos algum especialista qualificado e de nossa confiança para cuidar de nossa vida financeira.

 

Certamente, o profissional da área financeira não é o “salvador da pátria”. Assim como no tratamento médico ou psicológico, esta melhoria ou solução do problema depende muito das mudanças que a própria pessoa consegue realizar durante o tratamento proposto. É uma atuação em parceria com o objetivo de solucionar o problema existente.

 

12. Considerações finais.

Os estudos e pesquisas na área financeira e econômica vêm ampliando muito nos últimos tempos. Há, atualmente, diversas especialidades científicas que pesquisam as inter-relações entre áreas da Economia e Psicologia. Podemos citar a Psicologia Econômica, Economia Psicológica, Finanças Comportamentais, Neuroeconomia, dentre outras.

 

Nós, profissionais da área financeira, temos cada vez mais condições de ajudar as pessoas e empresas a solucionarem seus problemas financeiros. É fundamental que as pessoas estejam mais abertas a entenderem que a saúde financeira influencia diretamente em suas vidas. Quem quiser mais informações pode me procurar no telefone 28 99193661. Estarei à disposição para falar mais sobre o tema.

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