Um projeto tem despertado a atenção e curiosidade de moradores e turistas em Domingos Martins. Três artistas plásticas da cidade se reuniram em uma iniciativa de revitalização dos muros do Centro: o “Pintando a Cidade”. O detalhe é que todos os trabalhos são produzidos com a arte chamada Bauernmalerei, ou na tradução, pintura camponesa, trazida ao Brasil na época da colonização por imigrantes alemães.
Inicialmente, cerca de seis pontos do município terão sua superfície decorada com elementos da técnica como flores, pássaros e outros que representam o meio campestre. Um deles já está pronto e fica localizado dentro do Espaço Cidade do Verde, localizado anexo à Praça Dr. Arthur Gerhardt, a pracinha.
Dentro do planejamento do grupo está a pintura de um muro na avenida Presidente Vargas, a rua principal, com previsão de conclusão para o próximo mês. Outros locais que devem receber a revitalização são: a fachada de uma casa e escadaria que dá acesso à Rua do Lazer, os muros do campo de futebol, os muros do cemitério, além de outros espaços onde os proprietários tiverem interesse.
Segundo a gerente municipal de cultura, Luciana Velten Coelho, o local já pintado tem recebido elogios e atraído atenção. “Tem sido muito interessante esse resgate. Recebemos muitas manifestações de apoio ao trabalho e temos muito a agradecer a esses artistas que se dispuseram a embelezar ainda mais a nossa cidade de forma voluntária”, afirma.
“A intenção é envolver muitas pessoas e nossa esperança é que as pessoas, quando olharem o resultado, passem e se interessar mais pelas fachadas de suas casas, comércios e muros. Para o público local, a intenção é recuperar muros antigos e resgatar a cultura, no sentido de fortalecer essa importante expressão cultural. No que diz respeito ao turismo, acreditamos que o projeto dará um novo visual a nossa cidade, outros pontos de fotos e expansão da arte através de pintura e poesias”, completa Luciana.
Bauernmalerei
A pintura Bauernmalerei teve origem entre os camponeses da Áustria, Alemanha e Suíça nos séculos XVII e XVIII e chegou ao Brasil, por meio dos imigrantes alemães, que encontraram uma forma alegre e de baixo custo para decorar as suas casas, em oposição à marchetaria utilizada pela nobreza.
Depois da Guerra dos 30 anos, os colonos alemães quiseram embelezar as suas casas, inspirados nos restauros de castelos e de templos religiosos. Como não possuíam instrução, a pintura recebeu o nome de Bauernmalerei.
Os recursos eram limitados, assim como o conhecimento, o que fez com que a pintura Bauer fosse um retrato da ingenuidade de quem a fazia. É feita com cores alegres, usando-se pinceladas ensaiadas (C, S e vírgulas), feitas com pincéis redondos, com cargas duplas ou cargas cheias.
A arte espalhou-se pela Europa e pelo mundo, influenciada gradualmente por tendências artísticas e arquitetônicas. Há variações como a Rosemaling, originária das áreas rurais da Noruega, que utiliza tons mais sóbrios e a Zhostovo, tradição do povo russo, cujos motivos são ramalhetes de flores, iluminados em fundo preto.
Durante o Governo Vargas (1937 – 1945) foi instituído o projeto de “nacionalização”, na intenção de estabelecer um ideário nacionalista “abrasileirando” os imigrantes e sufocando sua cultura e seus saberes.
Esta ação do Estado Novo contribuiu significativamente para que atividades artísticas e culturais, até então praticadas pelos imigrantes alemães, fossem lentamente esquecidas. Hoje a Bauernmalerei é desenvolvida por alguns artesãos, sendo raramente encontradas peças com esse estilo no comércio, o que demanda apropriação da técnica por outras pessoas, garantindo assim a continuidade desse importante patrimônio imaterial.