O valor simbólico da Casa dos Lambert, em Santa Teresa, foi colocado no foco da atenção da cultura capixaba na manhã desta quarta-feira (22). O governo do Estado entregou o restauro dessa residência colonial, que vem a ser a primeira casa erguida por colonos italianos em solo brasileiro. A partir de hoje, a residência se torna um centro de memória. A obra é fruto de uma parceria do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), com a Prefeitura Municipal de Santa Teresa.
O projeto do novo espaço foi realizado pela arquiteta restauradora Maria Cristina Coelho Duarte, e busca restabelecer a integridade física da casa e conservar os elementos que agregam valor estético, possibilitando o acesso da comunidade de Santa Teresa e dos visitantes de outras cidades à história do Espírito Santo. A restauração representou um investimento de R$ 410 mil.
Tombada em 1985, pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC), a Casa dos Lambert passará a funcionar de quarta-feira a domingo, das 10 às 17 horas. Lá, o público poderá conhecer um pouco mais sobre a chegada da colônia italiana no município, a partir da história dos irmãos Lambert.
Objetos pessoais, doados pela família, ficarão expostos permanentemente nos ambientes da casa. A oficina construída no quintal, onde os irmãos faziam suas esculturas e peças utilitárias, também foi recuperada e estará aberta à visitação. A história da família será conduzida por meio de um cordel, intitulado “Família Lambert em cordel”, escrito em 1987, por Kátia Bobbio. A prefeitura de Santa Teresa fez um convênio com a entidade cultural Circolo Trentino di Santa Teresa para administrar o espaço.
Na abertura da casa ao público, a secretária de Estado da Cultura, Deyse Lemos, disse que estava emocionado de entregar este que considera um presente às vésperas do Natal para a população terezense, em especial, e à capixaba como um todo. O governo trabalhou muito pela preservação da memória do Espírito Santo, restauramos outros prédios históricos e apenas nesta semana entregamos o Palácio das Águias, em Marataízes, lançamos o livro Província do Espírito Santo, de Basílio Daemon e hoje estamos aqui. A memória é uma disputa entre o esquecimento e a lembrança. O que estamos fazendo é trazer à tona a lembrança, e no caso da Casa dos Lambert, dando uso público a este belíssimo patrimônio cultural.
A secretária encerrou seu discurso lembrando que a entrega do restauro é um dos últimos atos de sua gestão frente à Secult. Estamos felizes com essa trajetória porque a cultura no governo Paulo Hartung adquiriu importância e relevância. Não podemos então deixar de agradecer a isso, e no caso da Casa dos Lambert, também ao Sincades, parceiro na restauração, e à Prefeitura de Santa Teresa, que não mediu esforços para esta realização.
O prefeito de Santa Teresa, Gilson Amaro, lembrou de quando a sociedade civil organizada em Santa Teresa o procurou preocupada com o estado da Casa dos Lambert. Hoje, na entrega desta bela obra, vejo mais do que nunca o quanto a preservação desse espaço e sua abertura ao público tem a ver com nossa história e nossas origens, afirmou.
Uma inauguração que carrega a história e a emoção do povo capixaba. Foi assim que o governador Paulo Hartung definiu o evento da manhã de hoje. Acompanha a cultura capixaba desde o tempo da minha militância estudantil, nos anos 70. A equipe da Secult está de parabéns, pois mudou a forma de gerir a cultura em nosso Estado. Sempre cito o conceito de que a sociedade humana que quer ter um futuro de progresso e prosperidade precisa conhecer em profundidade sua história. Esse conhecimento é fundamental para que possamos agir no presente e construir as bases do futuro, afirmou.
O governador afirmou que o Espírito Santo está dialogando com a história, e o restauro e entrega à visitação pública da Casa dos Lambert é uma mostra disso. Trata-se não apenas da história de Santa Teresa, mas também da história do Espírito Santo e do Brasil. D. Pedro II fez uma campanha na Europa para trazer ao Brasil colonos italianos, alemães, suíços, pomeranos e holandeses. Hoje, aqui, estamos dialogando com nossa história, e esse exercício mostra nossos pontos fracos e fortes, nossos fracassos e nossos sucessos ao longo dos séculos.
Dirigindo-se ao público, o governador afirmou que a partir de hoje a população de Santa Tereza tem o compromisso de manter A casa dos Lambert viva. Com a entrega dessa obra e a abertura deste pedaço rico de nossa história ao público, estamos transformando o sonho de gerações em realidade pela via da democracia e da liberdade, da preservação e da perpetuação da nossa história, afirmou.
Resgate histórico
Segundo registros históricos, a casa da família Lambert foi a primeira a ser construída não apenas em Santa Teresa, mas em solo brasileiro, por imigrantes italianos. Ela data de 1875, mesmo ano da fundação do município. Inicialmente, moraram nela os irmãos Antônio e Virgílio Lambert e a menina Hermínia, filha de Virgílio, que vieram da Itália no mesmo ano.
A moradia foi construída com a taipa de mão ou taipa de sebe, dispondo o ripado na diagonal. Nunca houve revestimento externo e a cobertura era em duas águas, com “tabuinhas” de madeira. Ao longo dos anos, a casa passou por algumas modificações, como a construção da cozinha, do banheiro e da área de serviço. Além disso, a cobertura foi substituída por telhado de zinco.
Foi no quintal da residência que os irmãos começaram o cultivo do bicho-da-seda, em 1880. Antônio construiu uma roca para a fabricação da seda, e logo a produção vingou, tornando-se reconhecida internacionalmente. Tal fato rendeu para os Lambert a medalha de bronze numa exposição em Berlim, Alemanha, em 1886, além de menção honrosa na Exposição Universal de Paris, 1889.
Além da produção de seda, os irmãos Lambert eram ótimos escultores. Antônio inclusive frequentou dois cursos na Academia de Belas Artes de Veneza, na Itália, antes de se mudar para o Brasil.
Em 1898, Virgílio dedicou-se à construção da capela, em frente à casa. As esculturas sacras, além da imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, foram confeccionadas em madeira pelos próprios irmãos.
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