Os acidentes na BR-262 não saem da pauta da reportagem da FMZ e dificilmente desaparecerão dos nossos noticiários. Virou rotina a divulgação de mortes como a do entregador de pizzas Nilson Lázaro, 43, semana passada em Venda Nova.
Mas um dado é novo nesta história de tragédias na rodovia federal que corta o município. Segundo a secretaria do Hospital Padre Máximo- HPM, 99% dos acidentados não têm plano de saúde.
O atendimento nem por isso é diferenciado, já que muitas vidas são salvas praticamente sem custos. No entanto, ser beneficiário de um plano conta na hora de conseguir uma vaga na UTI do São Lucas, em Vitória, para onde são encaminhados os casos mais graves que passam pelo HPM.
Enquanto estes têm o atendimento agilizado no hospital da capital, quem não tem plano de saúde precisa de sorte. Foi o caso do entregador de pizzas vendanovense, que morreu na fila de espera com traumatismo craniano.
O perfil dos acidentados varia. Num levantamento do hospital, a maioria que não usufrui do benefício são agricultores. Os que têm plano, geralmente são comerciários e comerciantes. Em breve a secretaria do Padre Máximo vai informatizar 100% do seu banco de dados para disponibilizar este tipo de informação.
A diferença fica mais nítida após o período de internação. É nessa hora que quem não tem plano sente no bolso. A lista de exames muitas vezes é extensa. Enquanto os planos de saúde arcam com mais essa despesa, os não-beneficiados recorrem ao SUS ambulatorial e marcam consulta através das secretarias municipais de Saúde, o que muitas vezes significa dias ou até mês de espera.
Quando estive internado, estava tranqüilo em parte. O depois é que pesa: remédios, exames, consultas e outras despesas. Estou partindo para a adesão a um plano, diz um morador, envolvido num acidente recente.
A assessoria de um dos serviços com mais clientes no Espírito Santo diz que oferece até cobertura nacional em caso de acidentes. Quando o acidente é em território capixaba, o usuário do plano regional recebe atendimento de urgência ou emergência e é transferido para uma central regional. Caso o beneficiário esteja em outro Estado e tenha o plano nacional, pode ficar internado num hospital credenciado sem necessidade de transferência.
No caso de consultas e exames, informa a assessoria, o beneficiário do plano regional não pode marcar em outra região que não seja a de abrangência do seu plano.
Quem paga a conta
Só em outubro, o HPM registrou 20 atendimentos a vítimas de acidentes. Para o hospital, o custo desse paciente varia de R$ 28,00 (uma pequena sutura ou imobilização de algum membro) até R$ 3 mil num caso mais grave. Nessa conta, o Sistema Único de Saúde- SUS arca apenas com uma parte que não chega a 50%.
O hospital assume o prejuízo sempre. A tabela do SUS não condiz com a realidade de um hospital que recebe a maioria das vítimas da BR-262 na Região Serrana, expõe Eunice Caliman, administradora do HPM. A maioria das vítimas, completa Eunice, ainda é da cidade.
Ainda de acordo com Eunice, a remoção do paciente para Vitória com acompanhamento médico representa outra despesa para o hospital. Enquanto o transporte com ambulância custa R$ 120,00, na UTI móvel é R$ 800,00. É o único custo que transferimos para o usuário do SUS, mas na maioria das vezes o paciente não tem condições financeiras e quem paga a conta é o hospital.
* Publicada em 01/11/2006