* Valdinei Guimarães
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O transplante de órgãos é uma forma de salvar vidas. Mas, apesar de muito importante, a doação de órgãos ainda enfrenta resistência por quem tem medo de ser doador. De acordo com a Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa), o número de transplantes caiu 13% em 2013, se comparado ao ano de 2012. A informação e a sensibilização das pessoas são armas utilizadas para melhorar esses números. Quem já recebeu um órgão conta que a vida recomeça e quem já foi doador diz que a alegria de ajudar supera qualquer medo.
No Espírito Santo, a maior fila de espera é para o transplante de rim, de acordo com a Sesa. Existem 644 pessoas esperando para receber o órgão e ter a chance de deixar a hemodiálise. O pequeno Jean Betini Júnior tem apenas sete anos e já sabe como é a rotina de passar pelo tratamento. Quando tinha nove meses, ele foi diagnosticado com uma doença que prejudica o funcionamento dos rins. “Ele ficou seis meses internado na UTI e mais dois com uma UTI montada em casa, com enfermeiro 24 horas e visitas diárias do médico”, conta Jean Betini, pai do menino.
Depois disso, Jean Júnior melhorou e levava uma vida normal até setembro de 2013, quando, durante uma consulta, o médico descobriu que a atividade renal dele estava em 20%. “Da consulta, ele já foi internado. Jean faz hemodiálise todo dia à tarde, depois que chega da escola”, explica o pai. Há três meses na fila de espera, Jean Betini espera conseguir o órgão para seu filho em breve. “É muito difícil conseguir um doador. Eu fiz os testes, mas não sou compatível com ele. Só é possível receber um órgão se o doador avisar a família, que é quem autoriza a doação”, desabafa Jean.
A vida recomeça para quem foi transplantado. A estudante Lacy Aparecida Máximo (41) já passou pela espera de um órgão. Ela ficou 19 anos na fila para receber um rim. Lacy conta que o tratamento com hemodiálise limitava sua vida. “Eu via meu corpo se acabando. Aquela máquina te dá vida, mas fica te machucando”, conta ela. Há cerca de um ano, a estudante recebeu o novo rim. “O transplante foi um milagre na minha vida! Hoje eu consigo fazer tudo. Caminho, bebo água e a cor da minha pele já voltou ao normal”, revela Lacy. Ela precisa tomar medicamentos para evitar que o corpo rejeite o novo órgão, mas isso não a desanima. “Valeu a pena! Eu não sei por quanto tempo esse rim vai funcionar, mas o tempo que ele me mantiver longe daquela máquina já está bom”, brinca Lacy.
Em alguns casos, é possível que o doador seja uma pessoa viva. Nessas situações, a alegria de quem recebe um órgão parece ser compartilhada por quem doa. A agricultora Líbia Zandonade Ventorim (48) doou um dos rins para uma tia. “Foi a melhor coisa da minha vida! Tenho filhos e marido maravilhosos, mas não tem pagamento poder ajudar outra pessoa a viver”, revela Líbia. A coordenadora da Central de Captação de Órgão da Sesa, Rosemery Erlacher, explica que os casos de transplante entre pessoas vivas precisa ser decidido em conjunto com o médico. “Nessas situações, o paciente e o doador precisam conversar com o médico sobre os riscos antes de tomar a decisão”, esclarece Rosemery.
Para quem tem dúvidas ou medo de ser um doador após o falecimento, a coordenadora diz que não é preciso temer. “As pessoas não devem se preocupar. Antes de coletar qualquer órgão, o compromisso dos médicos é salvar a vida do paciente. Se, depois de tentar todos os meios, não for possível salvá-lo, será feita avaliação para verificar a possibilidade de doação de órgãos e a captação é feita com vários procedimentos de segurança”, explica Rosemery. Ela também conta que o corpo não fica diferente após os órgãos serem retirados. “O processo de coleta do órgão funciona como uma cirurgia normal. Depois que termina, a incisão é fechada com pontos como em qualquer procedimento cirúrgico”, revela a coordenadora.
No site do Ministério da Saúde há uma seção de respostas para as perguntas mais comuns sobre transplante de órgãos. Para acessá-la, clique aqui.