Venda Nova 23 anos: um raio X da saúde no município

* Leandro Fidelis

(leandro@radiofmz.com.br)

Dizer que a saúde em Venda Nova vai bem e obrigado soa pretensioso considerando um setor de extrema importância e que a cada dia apresenta um novo desafio ao município. Apesar da evolução na saúde pública, com uma atenção primária eficiente, Venda Nova ainda tem dificuldades para mudar a cultura do “ambulatorial”, que desde os anos 50, com a inauguração do único hospital da cidade, o Padre Máximo, faz pacientes de menor complexidade recorrerem à instituição quando poderiam procurar as unidades de saúde.

Em 23 anos de emancipação, a saúde evoluiu de muitas formas no município. O aumento do poder aquisitivo, por exemplo, levou a população aos planos de saúde. Se isso desafogou em parte o pronto-atendimento, essa lacuna foi preenchida pela demanda do entorno de Venda Nova no atendimento popular. Aliado a isso, está a política municipal de saúde, empreendida desde a primeira administração até o atual.

A localização geográfica do município faz as políticas públicas estaduais verem Venda Nova como polo para descentralizar a saúde do Estado. E com o projeto que vai transformar o Padre Máximo referência em urgência e emergência de média complexidade adulto e infantil, maternidade e cirurgias eletivas, o hospital passa a ser um patrimônio cada vez menos da comunidade e mais dos capixabas. O projeto, do Governo do Estado, que interliga as instituições filantrópicas, está sendo reestruturado e não há previsão de quando começa a operar.

O PIB (Produto Interno Bruto) do município está trazendo para Venda Nova uma medicina especializada. Hoje se aplica botox, faz tratamento contra celulite entre outras intervenções estéticas em clínicas cada vez mais modernas.

É o caso do médico Pedro Luiz Siqueira Júnior, de Petrópolis (RJ) e há três anos na cidade, especialista em nutrologia, medicina estética e emagrecimento. O seu consultório recebe pacientes de toda a Região Serrana, em busca do rosto perfeito proporcionado por tratamentos como a bioplastia, “uma plástica sem cortes”, ressalta o médico.

O profissional se surpreende com a quantidade de homens que o procuram para tratamentos estéticos. “Essa demanda acompanha o ritmo das grandes cidades”, diz. Pedro escolheu Venda Nova pela qualidade de vida e não quer perder a oportunidade do município como polo de saúde nas montanhas.

Atenção primária se fortalece

Acompanhar o estilo de vida do cidadão para ele não ter complicações no futuro. Esse é o desafio da Secretaria Municipal de Saúde de Venda Nova com o fortalecimento da atenção primária. O município hoje conta com 41,83% de cobertura da estratégia saúde da família e 58,16% do programa de agentes comunitários de saúde.

São três equipes de saúde da família completas e mais três de saúde bucal, além do atendimento psicológico e nutricional. O Plano Municipal de Saúde 2010-2013 já prevê ações focadas em ações para promoção da qualidade de vida, colocando o indivíduo como corresponsável pela sua saúde.

“A atenção primária é o X da questão. Estamos saindo desse modelo de que saúde é vir ao médico e tomar remédio. Não adianta dar remédio para alguém baixar o colesterol se essa mesma pessoa não muda seus hábitos em casa. Vamos suar muito para fazer essa cultura mudar”, destaca a secretária Municipal de Saúde, Leileane Scheidegger Athayde.

Para Eduardo Dalfior, coordenador de Vigilância e Saúde, a atenção primária organiza a demanda dos pontos de atuação da saúde. “Todo mundo utiliza os serviços do SUS, mesmo que não saiba”, diz.

Ele cita o caso das campanhas de combate à dengue, que atinge todas as residências e estabelecimentos comerciais, além dos programas de antitabagismo e acompanhamento de hipertensos e diabéticos. Hoje, são 48 agentes de saúde, uma média de um agente para cada grupo de 416,6 habitantes. Em breve haverá processo seletivo para contratação de mais profissionais.

No passado, outra realidade

Em 1988, havia no município a oferta de serviços de saúde em pequenos postos de saúde localizados na Unidade Sanitária- US de Venda Nova, que contava com 12 funcionários, desses cinco eram médicos e dois, odontólogos. Já a Unidade Sanitária Rural de São João contava com um consultório médico com um atendente e um médico todos os dias na parte da manhã, enquanto nas unidades de Alto Caxixe e Vargem Grande, o atendimento médico acontecia uma vez por semana pela manhã. Havia ainda os atendimentos realizados pelo hospital, que possuía 75 leitos, 32 funcionários e 11 médicos.

A população estimada em 1990 era de 13 mil habitantes. Havia ainda uma procura muito grande de atendimentos hospitalares, muito mais que atendimentos nas US. Merece destaque a grande quantidade de internações (1.880), que representa 14,46% sobre a população geral. Isso claramente mostra que a não oferta de atendimentos de atenção primária resultava em grande número de internações hospitalares. A quantidade de consultas por habitante ano, em 1990, foi de 2,85, dessas 1,33 foram ofertadas pelas US e 1,51 pelo hospital Padre Máximo.

A cobertura vacinal era baixa, não atingindo o preconizado pelo MS que é de 95% de cobertura. Isso era prejudicado ainda pois não havia oferta de vacina nas Unidades Rurais, somente na Unidade Sanitária de Venda Nova.

Com criação do SUS, em 1990, deu-se início a mudança de foco da saúde. O Plano Municipal de Saúde de 1991 trouxe as propostas de estruturação, reforma e ampliação dos serviços ofertados pelas Unidades de Saúde do município e estruturação do setor de vigilância epidemiológica e sanitária.

Hoje as coberturas vacinais estão acima do preconizado pelo MS. No que diz respeito as internações, em 2009 foram registradas 1.149 internações, que representa 5,73% sobre a população geral, muito inferior ao registrado em 1990. O que demonstra melhoria na saúde da população.

A aprovação da lei que criou o Fundo Municipal de Saúde, em 1991, foi um marco para o fortalecimento da atenção primária. Atualmente as ações de saúde no município estão fortemente pautadas no fortalecimento da atenção primária, discutida de forma participativa entre os atores dos município, assim como com as comunidades (* Com informações da Secretaria Municipal de Saúde).

Triagem vai direcionar atendimentos

O ano de 2011 marca uma série de mudanças no Hospital Padre Máximo- HPM. Além da reestruturação física bancada pelo Estado para integrar a rede dos hospitais filantrópicos, um convênio com a Secretaria de Estado da Saúde- Sesa garantiu três plantonistas, sendo um obstetra, um pediatra e um clínico geral no pronto-socorro.

A direção do hospital não quer tornar esses profissionais reféns do atendimento diário no pronto-socorro. Ter mais plantonistas é uma segurança para acolher bem e estabilizar os pacientes.

Dentro do projeto de reestruturação, será implantado o programa de triagem, que vai direcionar melhor os atendimentos. Hoje, muitas pessoas querem se consultar no hospital em casos que não são de urgência e emergência.

Novos postos vão garantir 100% de cobertura

Com a inauguração da Unidade de Saúde da Família do Bairro Minete, neste sábado (28), às 12 horas, e futuramente da Unidade de Vila da Mata a estratégia de saúde da família terá cobertura de 100% no município, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Financiada pela Secretaria da Saúde- Sesa, a USF recebeu recursos da ordem R$ 1,165 milhão e será entregue pronta para funcionar, beneficiando até 6 mil moradores.

Os moradores terão todos os serviços de saúde hoje oferecidos pelas unidades de São João, Alto Caxixe e Vargem Grande. No local, pacientes terão acesso a cinco consultórios de clínica médica, ginecologia e odontologia, salas de observação, de inalação, imunização, esterilização, suturas e curativos, além de espaço para higiene bucal, farmácia, auditório com 90 lugares e ambientes administrativos.

Ocupando 600 metros quadrados de área construída, a Unidade de Venda Nova Imigrante foi projetada dentro de novo padrão arquitetônico, que inclui características ecologicamente corretas, como jardim interior e ampla distância entre o piso e o teto (de quatro a cinco metros) para permitir o aproveitamento da luminosidade e ventilação natural.

A Sesa também equipou o local com aparelhos médico-hospitalares e mobiliários, no valor de R$ 35 mil, tais como: mesas ginecológicas, geladeira, fogão, estantes e armários. Haverá ainda ambientes climatizados nos consultórios e no auditório.

Mais opções de cirurgias eletivas

Desde 2004, o município oferece cirurgias eletivas pelo SUS em diferentes áreas, atendendo a uma demanda crescente da região. A fila para operar ouvido, nariz e garganta é grande, e mais de 30 cirurgias já foram realizadas desde a especialidade passar a ser oferecida no final de janeiro deste ano.

“Hoje todos os exames são realizados no município, onde também temos uma equipe anestésica. Temos a sorte de contar com profissionais de boa vontade e uma agenda bem organizada junto ao hospital”, destaca Emília Falqueto, gerente de atividades técnicas da Secretaria Municipal de Saúde.

De acordo com Emília, a agenda segue a ordem de chegada do paciente, exceto quando a urgência da cirurgia é determinada pelo médico. O tempo de espera é o necessário para o paciente completar o ciclo, que começa com a consulta, passa pelos exames e termina no dia da operação. “O sistema tem que funcionar”, diz a gerente.

As cirurgias vasculares (são três médicos à disposição), oftalmológicas e gerais, como ligaduras, fimose, estão entre as mais procuradas. Só as oftalmológicas são realizadas em Cachoeiro de Itapemirim, a 78 quilometros, embora agendadas em Venda Nova.

O gerente executivo do HPM, Márcio Garcia Ferreira, afirma que a proposta é ampliar o leque de cirurgias eletivas para potencializar o hospital. “Estamos utilizando melhor sua capacidade produtiva e buscando estabelecer vínculo com mais médicos.”

Samu 192 traz mais segurança

O Serviço Móvel de Urgência- Samu 192 atende somente aos casos de urgência e emergência, que são os que podem causar um risco de morte para a pessoa ou de sequela irreparável, como: traumas por acidentes, vítimas de arma branca ou arma de fogo, queda por altura, paradas respiratórias e crises convulsivas. Ou seja, pessoas que necessitam de socorro imediato.

Em 2010, o Samu 192 foi expandido para Marechal Floriano, Domingos Martins e Venda Nova. O serviço, que beneficia 65.779 capixabas, funciona com duas ambulâncias. Uma ambulância de suporte básico fica na base de Marechal Floriano e outra, de suporte avançado, em Venda Nova. Para acionar o Samu, os moradores ligam para o número 192. Os atendimentos telefônicos e as regulações médicas serão feitas na base principal, que fica localizada em Vitória.

A iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde- Sesa abrange trechos importantes rodovias que cortam o Estado, como a BR 262. Com isso, houve diminuição no tempo-resposta dos atendimentos aos acidentes nesses locais, que geralmente são graves e envolvem múltiplas vítimas.

A Sesa é responsável por 70% dos custos do serviço. Somente para efetuar a expansão do serviço para a Região Serrana, a Sesa desembolsou mais R$ 1,52 milhão por ano. A administração do serviço fica por conta da Santa Casa de Misericórdia de Vitória.

* Leia artigo do médico José Carlos Uliana sobre a saúde no município!

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