* Leandro Fidelis
(leandro@radiofmz.com.br)
Venda Nova aumenta dia-a-dia. Precisamos pensar no futuro. A frase ao lado era recorrente nas falas e nos manuscritos de Máximo Zandonadi (1916-1994)- que dá nome à fundação mantenedora da Rádio FMZ e foi autor de cinco livros sobre a cidade. Trinta anos depois, a constatação de Máximo confirma o que o Censo 2010 não deixa mentir. Dos 16 municípios da Região Sul-Serrana capixaba, Venda Nova do Imigrante é o que teve maior crescimento demográfico, com uma taxa de 2,96% ao ano em comparação ao último recenseamento, de 2000.
Ainda de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, por se tratar de um município com área menor em relação a outros da região, Venda Nova também tem a maior densidade demográfica. São 102,5 habitantes por quilômetro quadrado.
Num simples giro por Venda Nova, se percebe como a cidade cresceu nos últimos anos. Dezenas de edifícios estão sendo construídos em todos os bairros, aumentou nas ruas a quantidade de veículos e de pessoas, que utilizam dos serviços públicos, movimentam a economia e também geram lixo. Tudo vem crescendo na Capital Nacional do Agroturismo, não tem como negar.
Devido à oferta maior de serviços e à posição estratégica da rodovia BR-262, que trouxe progresso, mas ao mesmo tempo diminuiu a segurança, Venda Nova é o centro regional das montanhas. Todos os dias, centenas de moradores dos municípios vizinhos vêm à cidade para trabalhar, fazer compras, ir aos bancos ou se consultar nas diversas clínicas médicas.
O preço deste, digamos, privilégio, reflete no mercado imobiliário. Há um questionamento grande sobre o valor do metro quadrado na zona urbana de Venda Nova. O pouco espaço e a prevalência de terrenos acidentados faz da sede do município uma das áreas mais valorizadas do Espírito Santo.
Há lotes que chegam a custar R$ 1 milhão, como foi o caso em 2008 da compra pelo município do terreno onde foi construído o Ifes, no bairro São Rafael, próximo ao Centro de Eventos. Em bairros como Vila Betânea, Lavrinhas e Vila da Mata, o valor do terreno ou do imóvel é bem parecido.
Segundo o corretor Eidiano Mauro, os imóveis mais valorizados, em especial os edifícios comerciais, estão nas avenidas laterais à rodovia federal, como a Ângelo Altoé e a Evandi Américo Comarela, ou perpendicular, caso da Lorenzo Zandonadi, na Vila Betânea, maior bairro da cidade. Já o preço de um apartamento de dois quartos é o mesmo praticado em outras cidades capixabas, variando entre R$ 170 e R$ 200 mil, avalia Eidiano.
Correios não dão conta da demanda
Os Correios sentem na prática esse crescimento de Venda Nova. Nunca houve tantos atrasos na entrega de correspondências como nos últimos meses. O volume é cada vez maior e não há efetivo suficiente para dar conta da demanda.
Em 2010, a média de correspondências era de 4.000 por dia. Atualmente, fica em torno de 5.000, com pico de 7.000 em alguns dias. Esse número é referente apenas às cargas simples, sem contar Sedex, PACs e cartas registradas, afirma a gerente da agência local, Marilda Giori Pin. Desde que assumiu o posto, em dezembro de 2009, ela tenta, junto à coordenação de Distribuição do Sul do Estado, uma solução para o problema.
Hoje são quatro carteiros para dar conta de todo perímetro urbano do município. Para piorar, o carteiro mais antigo, Clarindo Ferreira, há 25 anos na função, por um erro no contrato com a empresa passou a receber o seu contracheque como atendente há cinco anos. Isso, legalmente, acabou forçando um remanejamento na equipe, defasando o quadro de carteiros já precário.
De acordo com Marilda, o atraso de até 15 dias nas entregas nos três primeiros meses do ano foi geral em todo o Espírito Santo. É o período que a central dos Correios precisa para regularizar as contratações de terceirizados. Em meados de abril conseguimos normalizar nosso atendimento, garante.
Desde janeiro, a equipe tem trabalhado das 7h30 às 18h30, e os carteiros passaram a fazer hora extra aos sábados em casos específicos como distribuição do carnê do IPTU. Dois fazem o serviço de bicicleta, enquanto um usa moto para destinar cartas especiais. A gerência já solicitou até um carro para a agência local.
Neste mês, uma carteira foi contratada para agilizar o serviço. Nossa esperança é aumentar o efetivo após o mais recente concurso, diz a gerente. Até porque a cidade cresce, e localidades como Bicuíba já não constam mais como zona rural.
Frota aumentou mais de 20%
Enquanto em algumas cidades do Brasil e do mundo os habitantes deixam o carro na garagem e vão trabalhar de bicicleta, em Venda Nova, onde não há linhas de transporte coletivo urbano, as famílias chegam a ter três carros em casa. E não abrem mão do veículo para chegar ao trabalho.
De acordo com informações da direção da 21ª Circunscrição Estadual de Trânsito, a quantidade é alarmante. Dados do Departamento Estadual de Trânsito- Detran/ES de 2010 mostram que a frota do município é composta de 12.228 veículos, sendo as motocicletas 25% deste total. Em 2008, esse total era de 10.119.
Para a direção da Ciretran, esse aumento se deve às facilidades nas condições de pagamento encontradas hoje no mercado automobilístico. Aumentaram muito os emplacamentos, a frota é bem nova e o volume de motos só fica atrás proporcionalmente de Linhares.
Desde as mudanças implementadas no trânsito local em 2004, que deixou as duas avenidas laterais à BR-262 com sentido único, Venda Nova aguarda novas alterações. Um exemplo é o alargamento dessas vias, que não têm estacionamento.
O trânsito urbano é assunto direto das cidades e de seus habitantes. No Estado, seis prefeituras aderiram à Municipalização do Trânsito: Cachoeiro do Itapemirim, Cariacica, Colatina, Serra, Vila Velha e Vitória.
Percorrer a cidade toda a pé é tarefa para esportistas, já que os principais serviços e bairros encontram-se de um extremo ao outro do perímetro urbano. A ciclovia junto com o passeio de pedestres vêm como alternativa para evitar o uso do acostamento da BR-262, que nunca foi seguro, mas é preferível por causa do asfalto que diminui atrito no caso das bicicletas e agiliza a locomoção.
Venda Nova do Imigrante que nunca para de chegar
Um grande contingente de pessoas naturais de outros municípios, Estados e até países escolheu Venda Nova para viver. A qualidade de vida, a educação melhor para os filhos e o sossego são razões apontadas pela maioria.
O italiano Norberto Klettenhammer, 60 anos, é uma figura conhecida em Venda Nova. Proprietário da pizzaria By Norbert, anexa ao Alpes Hotel, ele conheceu a cidade por meio de dois amigos ligados ao agroturismo. Há 22 anos comprou um sítio, motivo pelo qual vinha sempre para cá, mas acabou fixando residência definitiva na cidade. Aqui eu tenho tranquilidade, água e ar bons, muitos amigos e uma comunidade italiana que me faz sentir em casa.
Muniz Freire, a cerca de 70 km, é a origem de muitos moradores atualmente. Casamentos com vendanovenses, busca por emprego e estudo estão entre as razões da permanência de centenas de munizfreirenses na cidade.
Comerciantes bem-sucedidos, funcionários públicos e até o juiz de direito saíram de Muniz Freire. O Censo não revela o município de origem da população, apenas o tempo de residência em Venda Nova, o que torna difícil contabilizar quantos são munizfreirenses de fato.
Hoje eu já me considero de Venda Nova. Me projetei para a vida em qualquer lugar, mas aqui as portas se abriram, diz a comerciante Nelci Henrique Entringer, moradora há 20 anos. Além do seu marido, José Carlos Entringer, seis irmãos são casados com pessoas de Muniz Freire.
Já o comerciante Sebastião Salazar, o Tiãozinho, escolheu Venda Nova para ampliar os negócios da família, iniciados há mais de 20 anos na cidade por dois dos 11 irmãos. Quando eles vieram de Piaçu, estava começando a se falar de Venda Nova. Logo observamos que era uma cidade com boas perspectivas de crescimento.
Hoje, a família Juvanhol emprega 15 pessoas em sua rede de lojas de móveis e confecções. No meio desses funcionários, há pelo menos três munizfreirenses.
Para o dentista e professor Haroldo de Almeida Deps, não bastou ser de família tradicional munizfreirense na hora de escolher Venda Nova para viver. Meu avô, Pedro Deps, teve o primeiro carro da cidade, ressalta ele, que foi morar na capital em 1987.
Com a aprovação do filho mais velho no vestibular de Ouro Preto (MG) em 2000, ele e a mulher, a professora Rosângela Duda, também de Muniz Freire, acabaram fixando residência aqui pela facilidade de locomoção na BR-262. Ainda preservo uma estreita relação com Muniz Freire e vou lá sempre que posso. Tenho boas recordações.
O juiz Valeriano Cesário Bolzan saiu de Muniz Freire com 14 anos para estudar. Depois de formado, foi aprovado no concurso de juiz. Sua primeira atuação foi no Norte do Estado, onde ficou dois anos. Assim que teve uma promoção, optou por Venda Nova.
Já poderia estar numa comarca de 3ª entrância, como Cachoeiro e Colatina, mas aqui encontrei uma equipe boa de trabalho, que me ajuda a desenvolver projetos e agilizar processos. Sem contar a proximidade com minha residência em Vitória e a casa dos meus pais em Muniz Freire, ressalta (* Texto editado de matéria publicada pela FMZ em 21 de setembro de 2007).
* Leia também: Município é polo de educação