* Valdinei Guimarães
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Eles são polêmicos e dividem opiniões. Os alimentos transgênicos chegaram ao Brasil há mais de dez anos em meio a debates sobre os riscos que poderiam apresentar para as pessoas, a agricultura e para o meio ambiente. Uma década depois, as discussões continuam e eles estão presentes na mesa do brasileiro, mas muitos consumidores não sabem onde estão esses alimentos, nem como fazer para identificá-los nas prateleiras do supermercado.
Os transgênicos são plantas, como o milho e a soja, que sofreram alguma alteração em sua genética. “Esses grãos têm um gene de outra espécie, seja ela outra planta ou mesmo uma bactéria, por exemplo. Eles são criados com a intenção de aumentar a produção, diminuir o uso de agrotóxicos e melhorar nutricionalmente aquele alimento”, explica Wilton Cardoso, doutor em bioquímica e professor do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (Ifes).
Para Cardoso, os transgênicos representam um avanço benéfico. “As sementes que foram liberadas para produção são seguras. É feito um estudo avaliando a segurança desses grãos. Só para se ter uma ideia, pode-se levar dois anos para produzir uma semente transgênica e são necessários mais dez até ela ser lançada, porque são feitos muitos testes. Eu acredito que não é preciso se preocupar”, diz o bioquímico.
Antes de chegar às lavouras, todo transgênico precisa ser aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que avalia e decide se libera ou não as sementes para produção. Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), falta transparência no funcionamento da entidade. “A comissão surgiu para aprovar os transgênicos. Precisamos quebrar a estrutura da CTNBio e fazer com que ela fique mais aberta e transparente para que os geneticamente modificados sejam mais bem avaliados antes de serem liberados”, defende João Paulo Amaral, pesquisador do Idec.
Para ele, a liberação desses alimentos é feita sem dados suficientes para provar a segurança das sementes geneticamente modificadas. “Não é possível afirmar com certeza se são ou não seguros. Há algumas certezas de que eles não são o melhor caminho. Existe interesse econômico por trás desses alimentos, além da preocupação com a saúde e meio ambiente”, aponta o pesquisador.
Consumidor não sabe distinguir transgênicos
Seguros ou não, eles estão presentes na vida dos consumidores, inclusive nas pequenas cidades. De acordo com João Paulo Amaral, 89,9% do milho e 91% da soja produzidos no Brasil são transgênicos. Isso se reflete na prateleira do supermercado. Uma vez que as sementes geneticamente modificadas são visualmente idênticas às orgânicas, foi criado um selo para distinguir os transgênicos.
O auxiliar de serviço de obra Aguinaldo da Costa (33) utiliza o óleo de soja em casa. Apesar de preferir a banha de porco, por acreditar ser mais saudável, a pequena quantidade de óleo que ele compra no supermercado é transgênica, mas Aguinaldo não sabia disso. “Eu nunca tinha reparado que a embalagem do óleo continha esse símbolo. Agora vou começar a prestar atenção”, conta o consumidor.
A costureira Lourdes Altoé Falqueto (65) também nunca tinha observado que alguns dos alimentos que ela consume têm a indicação de que são transgênicos. “Eu não olho muito essas coisas. Nunca tinha reparado. O que eu conheço sobre transgênicos, vi em reportagens de jornais e TV”, revela Lourdes.
Na agricultura regional, os transgênicos ainda não são maioria nas lavouras. Isso porque eles apresentam mais vantagens para os produtores que cultivam grandes extensões de terra. “Não acho que haja tantos ganhos no uso de transgênicos em pequenas produções. A vantagem seria reduzir os custos de controle de pragas, mas, em áreas pequenas, esses custos não são tão elevados”, explica Gustavo Augusto Guimarães, pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
O pesquisador aponta um risco no uso das sementes geneticamente modificadas. “Há chance de selecionar lagartas e pragas mais resistentes aos agrotóxicos usados na lavoura”, explica Guimarães. Para o Idec, os transgênicos fizeram aumentar, em vez de diminuir, o uso de agrotóxicos. “Uma das promessas dos transgênicos era minimizar o uso de agrotóxicos, mas, na verdade, houve aumento na utilização desses produtos”, argumenta João Paulo Amaral.
O fato é que as discussões continuam e o consumidor precisa buscar informações para decidir se vai ou não consumir esses alimentos. Os números apontam para o crescimento da participação dos geneticamente modificados na agricultura. “A utilização de transgênicos deve continuar aumentando”, acredita Amaral.
Para saber mais:
Clique aqui para baixar a cartilha do Idec sobre os transgênicos.
Folheto da Monsanto (empresa que cria sementes transgênicas) está disponível aqui.
Site da CTNBio: http://www.ctnbio.gov.br/