* Leandro Fidelis
O saudoso Máximo Zandonadi, nome da fundação que rege esta rádio, dedicou um capítulo à história do hospital em um de seus cinco livros sobre Venda Nova. Da página 109 a 112 de A Igreja na História de Venda Nova, ele relata a precariedade da saúde na cidade no século passado, a doação do terreno para a construção por seu irmão, Vicente Zandonadi, da fundação da entidade e do surgimento das Voluntárias do Hospital. Confira!
Hospital Padre Máximo Taboenca
A construção da BR-262 não trouxe somente coisas boas e grandes benefícios que toda a comunidade vendanovense vem recebendo ao longo dos anos que se seguiram. No período da construção e os anos que seguiram, com a vinda dos operários atacados na esquistossomose, ou do caramujo, como foi chamada, o vírus da doença se alastrou de tal maneira em todos os córregos e riachos, nos quais encontrou a abundância o habitat natural (pequeno caramujo), que em pouco tempo grande porcentagem da população, acostumada a banhar-se nas águas dos córregos, ficou contaminada. O disseminador dos vírus foi o próprio homem, migrante do assolarado nordeste, fugindo da seca e encontrando trabalho nos grandes projetos como era a BR-262.
Nesta época, por intermédio dos técnicos da Acares, tinha-se começado um combate às endemias, e as reuniões com a comunidade, faziam a população conscientizar-se de melhorar a higiene pela profilaxia, combatendo as doenças com a medicina preventiva, construindo fossa sépticas e drenando os córregos, conservando-os limpos e com correnteza das águas, não as deixando formar focos em águas poluentes.
O tratamento da esquistossomose, inicialmente feito com medicamentos à base de tártaro, era arrasador. Os primeiros casos surgidos aqui em Venda Nova foram tratados num hospital que o serviço de combate à malária instalou precariamente no município de Itarana.
Os pacientes empreendiam longa viagem, em cima de carroceria de caminhão e lá chegando, depois de examinados, recebiam o medicamento; voltando para casa, para o tratamento era exigida uma precaução muito grande e assim mesmo, muitos foram intoxicados, e houve casos de morte ou também doentes tornados inativos ao trabalho pelo resto de suas vidas. Quase todos obrigados a ficar meses com dispensa do trabalho, por falta de forças e energia.
Foi nessas duras contingências que líderes locais, tendo à frente ao Reverendíssimo Padre Cleto Caliman e o vigário da paróquia Frei João Echávarri, se convenceram que era urgente uma solução. Até então, o município não tinha nenhum médico dando assistência aos ruralistas e ao povo do lugar. Era na base da farmácia, comprando remédios sem receita médica. Ou então os chás, os banhos e por meio de um sem número de ervas, que experientes tratadores sabiam receitar quando procurados. Lembro-me que quando ainda jovem, o que valia era óleo de rícino para diversos males: leite de mamão, jequetiá, para opilação; e óleo extraído da capivara, como reconstituinte; e óleo da árvore de copaíba, para cortes e ferimentos. Assim a população ia se medicando o que já era uma rotina e única providência a tomar. Para a mordedura de cobras, a casca de laranjinha em infusão era remédio único e infalível.
O terreno de 28.400 m² cedido pela família Zandonadi para que fosse construído um colégio, como ficou relatado no capítulo anterior, não serviu para tal fim e estava vago. No início de 1959, para que a construção do hospital fosse realizada num local mais apropriado, afastado do centro urbano, houve uma permuta de área do imóvel doado aos Salesianos, com outra área pouco distante, pertencendo ao meu irmão Vicente Zandonadi. Além de ser maior, a área ficou localizada na bela paisagem de uma encosta de morro, onde está atualmente o Hospital Padre Máximo Taboenca. Além de área maior, o meu irmão, em 1965, cedeu ao hospital toda a água de uma nascente dágua de seu terreno, uma das polegadas, que encanada até o hospital, num grande reservatório, serve de água potável, unicamente para a serventia do hospital.
Aos 16 de janeiro de 1960, tendo como diretor presidente o padre Cleto Caliman, secretário Máximo Zandonadi e tesoureiro Deolindo Perim, foi realizada a Assembléia Geral Ordinária da Fundação do Hospital Padre Máximo Taboenca, Sociedade Civil, de direito privado, de fins não econômicos, filantrópica, de caráter beneficente e de assistência à saúde. Presentes à assembléia, os novos sócios-fundadores: Srs. Padre Cleto Caliman, Marcelino Falqueto, Feliz Falqueto, Elizeu Caliman, Agostinho Caliman, Pedro Caliman, Máximo Zandonadi, Domingos Caliman, Clementino Caliman, Caetano Zandonadi, Rafael Zandonadi, Américo Comarela, Plínio Brioschi, Antônio Roberto Feitosa, Deolindo Perim, Benito Caliman, Olímpio Perim, Abel Tose, Ângelo Falqueto, Emiliano Lorenzoni, Antenor Lorenzoni, Pascal Falqueto, Antenor Honório Pizzol, Ambrósio Falqueto, Benjamin Falqueto, Clínio Zandonadi, Egidio Zandonadi e Cezário Altoé.
Com a fundação da sociedade beneficente, tendo à frente o Reverendíssimo Padre Cleto Caliman, embora fosse diretor do Colégio Salesiano de Rocha Miranda, na Guanabara, teve início a obra e o prédio da fachada, que seria ocupado para o setor da administração, foi em pouco tempo construído. Dando prosseguimento à construção do prédio do hospital, faltou verba e ficou no que está ainda hoje, com os alicerces inacabados.
Enquanto isto, conseguiu-se do Estado, a vinda de um médico, para dar assistência à população. O hospital em construção e as obras paralisadas… Foi preciso um acordo com o Colégio Salesiano para a cessão provisória de uma sala que servisse de consultório. Ali o primeiro médico que ficou apenas dois meses, e depois o Dr. Luciano Zappi, se instalaram, até que em uma reunião de diretoria, se concordou em aproveitar a construção do prédio da administração, dividindo-o em compartimentos e salas, para dar começo a um pequeno e já insuficiente nosocômio, que tanto serviu à comunidade neste longo período.
Foram incalculáveis os benefícios conseguidos por este pequeno hospital. Administrado por uma equipe da comunidade local, que não poupa esforços em contribuir espontaneamente e sem proveitos, auxiliados por uma equipe de três médicos, com vocação humanitária e serviçal, em auxilio dos doentes do interior, na grande maioria pobres e sem recursos financeiros. O exemplo de um hospital no interior como o de Venda Nova, sensibilizou as autoridades oficiais ligadas à condução da saúde do homem do campo e acham justa e mais do que necessária, a interiorização da medicina, até agora quase que exclusivamente localizada nos grandes centros. Existe um projeto em andamento com planta já pronta, com vistas a centralizar os atendimentos médicos-odontológicos da população rural desta região do Estado, com a construção de um hospital modelo e que ficará centralizado em Venda Nova e na área de propriedade do atual Hospital Padre Máximo. Venda Nova teria todos os requisitos para isso, com o clima saudável da montanha e por ser um local, onde por vias asfálticas, convergem todos os municípios do Sul do Estado.
Resta ainda dizer, que Venda Nova, pela sua cultura, o entrelaçamento familiar e união da população, sempre teve uma vocação voltada à melhoria da saúde e erradicação dos males que a afetam. Prova disto é a caritativa associação das donas de casa da região, fundando com foro jurídico e devido registro, a Associação das Voluntárias Pró-Hospital Padre Máximo Taboenca. Com a ajuda de uma outra associação, a Ação Social Vila Betânea, foi possível construir, no sótão do posto de saúde, uma ampla e bem equipada sala, onde diariamente se reúnem os associados, para confecção de roupas; com retalhos fazem colchas e tantas outras peças de uso, no vestuário feminino, vendem-se a preços módicos e o resultado é inteiramente revertido em benefício do hospital. Com recursos próprios e os produtos que arrecadam entre os ruralistas, as voluntárias dão assistência assídua aos doentes internos quanto à boa alimentação. Com sacrifício, construíram, também na área vizinha ao hospital, uma cantina, onde servem a preço de custo, salgadinhos, frutas, café e outros petiscos para os convalescentes e os acompanhantes dos enfermos ou os visitantes de quinta-feira e domingo.
Quem teve sobre os ombros a grande tarefa de levar à frente os primeiros e sacrificados anos, após a fundação, nos quais a administração recaía sempre nos dois ou três membros da comunidade, hoje se vêem recompensados aos constatarem o grande progresso e os bons resultados conseguidos pelas duas últimas brilhantes administrações. Domingos Perim, presidindo a primeira; e Clóvis Zandonadi a seguinte, junto com seus operosos assessores, embora com recursos sempre fracos fizeram reformas ousadas e conduziram sem fazer alarde, e com o trabalho das voluntárias, foi conseguido aquilo de que a comunidade hoje se orgulha: um hospital da comunidade, feito com o esforço comunitário, pequeno, mas atuante e merecedor dos aplausos da população interiorana, que se sente satisfeita pelo bom atendimento.
Com o convênio celebrando o INAMPS (Funrural e INPS), três médicos fazem plantão 24 horas por dia. Atualmente faltam leitos para que o hospital possa dar a assistência necessária a toda população carente.
Permita Deus, que o novo projeto de ampliação seja executado e com bastante pressa, e com a interiorização da medicina, conforme pensa o novo Governo do Estado, se possa conter as epidemias que assolam ainda as regiões menos assistidas da zona rural. Sem isto, não há meios de persuadir que os homens do campo não devem deixar a terra para ir povoar as favelas dos centros urbanos.
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