Animais silvestres invadem as cidades

* Leandro Fidelis

leandro@radiofmz.com.br

 

A cena se tornou cada vez mais frequente em Venda Nova do Imigrante e Pedra Azul (Domingos Martins), na Região Serrana do Estado. Animais silvestres de diferentes espécies saem da mata e vão parar nos quintais, quando não dentro das casas, mudando a rotina das cidades.

 

Se por um lado as visitas inesperadas da bicharada alertam para um desequilíbrio ecológico, conforme atestam os especialistas, por outro, as comunidades vêm mostrando uma convivência pacífica. As pessoas fazem a sua parte, ajudando os selvagens a retornarem ao habitat natural.

 

É o caso do bairro Vicente Zandonade, em Venda Nova, bem próximo de uma floresta de Mata Atlântica. Nos últimos meses, calcula-se terem aparecido 15 espécies, entre pacas, tucanos, macacos e guaxinins, principalmente próximo ao córrego que corta o bairro, antes uma área agrícola.

 

“Estamos entre a mata e o rio. Os animais vêm para comer as frutas ou beber água", diz a advogada Geraldine Csajkovics.

 

Ela conta que uma cuíca entrou no guarda-roupa da sua filha. A advogada acionou os agentes ambientais para retirar o animal, que foi devolvido à natureza. "A Prefeitura vive passando máquinas na beira do rio. Deveria dar mais atenção ao surgimento desses animais entre nós, plantando árvores frutíferas nas margens."

 

A macacada tem hora certa para dar sinal de vida no bairro. O caminhoneiro Domingos Fardim diz que os macacos sauá o acordam todo dia às 5 horas. "Uma vez um sauá veio caminhando até a jaqueira aqui na rua. Foi a notícia da vez", lembra.

 

O aposentado Antônio do Amaral, o "Chocolate", afirma que outra espécie de macaco bem comum é o barbado. "Eu os reconheço pela barba, daí o nome. Eles roncam para anunciar a chuva. Quando o animal vê que você não vai fazer mal com ele, se aproxima."

 

Já o também aposentado Paulo Mognol não imaginava que fosse ver tantos animais silvestres ao mudar para Venda Nova. "Já vi paca, tatu, gambá e jacus. O legal é que ninguém por aqui os mata, todo mundo só olha e tira foto”, diz admitindo que caçou na juventude.

 

Em outro bairro da cidade, a Vila da Mata, onde também há Mata Atlântica, são comuns gambás e veados catingueiros. A 12 quilômetos, em Pedra Azul, a empresária Áurea Aroso recentemente flagrou quatis e jacus se alimentando no quintal. “Eles se fartam das frutas.”

 

Dica é devolver à floresta

Ao encontrar um animal silvestre, a dica é tentar fazê-lo voltar para a floresta, mesmo que seja uma cobra. “A cobra é um animal peçonhento, que traz mais risco às pessoas”, diz a bióloga e secretária de Meio Ambiente de Venda Nova, Sabrina Zandonade.

 

Quanto às outras espécies, geralmente ficam acuadas com medo dos humanos ou para defender os filhotes. Nesse caso, para evitar um ataque institintivo do animal, o morador deve recorrer à Polícia Militar Ambiental, ao Ibama ou ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos- Iema, com unidade mais próxima em Pedra Azul.

 

Já no caso de os animais estarem machucados, em Venda Nova o recomendado é acionar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que vai encaminhá-los a instituições parceiras para os primeiros socorros. De acordo com Sabrina, foi firmada uma parceria com a Faculdade de Veterinária de Castelo, no Sul do Estado.

 

“Quando podemos tomar as primeiras medidas na cidade, recorremos a veterinários locais para aplicação de medicamento até o encaminhamento final à faculdade”, diz a secretária.

 

Ainda segundo Sabrina, os moradores até exageram nos cuidados. “Às vezes o animal nem está tão debilitado, mas só de aparecer na rua, os moradores já recolhem e os levam até a Secretaria. Muitas vezes são filhotes, a mãe está por perto, e eles naturalmente voltariam para o ambiente dele sem a intervenção humana”

 

A secretária diz ainda que a fauna da Mata Atlântica é rica e tem uma diversidade de espécies maior do que os registros na área urbana.

 

Mudança com ocupações

Paraesclarecer o aparecimento dos animais nas cidades, o biólogo e gestor do parques estaduais de Pedra Azul e do Forno Grande, Leonardo Brioschi Mathias, afirma ser necessário um diagnóstico mais técnico nos locais mais frequentes.

 

De acordo com Leonardo, as áreas ambientais vêm sofrendo vários impactos, principalmente da ocupação humana. No entanto, ele salienta que esse fato e a redução de áreas de florestas para a agricultura não explicam por si só a saída dos bichos do habitat natural.

 

“A fauna está sempre em movimento. Não podemos querer que esses bichos fiquem sempre dentro de área florestal, pois quando há necessidade, eles saem. Uma hora ou outra eles abandonam seu habitat para reproduzir, se alimentar ou beber água”, explica o biólogo.

 

Na sede do Iema em Pedra Azul, os técnicos recebem rotineiramente tatus, macacos barbados e veados mortos em atropelamentos na BR-262. A própria sinalização da rodovia alerta para a predominância de animais silvestres em um trecho de 20 quilômetros.

 

Para o animal que deixa floresta, a maior probabilidade é morrer acidentalmente. “Não só morrer, mas encontrar situações desfavoráveis para a sua sobrevivência dele: um terreno onde tem cães, por exemplo.”

 

Quando o animal morre de causas naturais, dentro do seu habitat, a própria natureza trata de substituíl-lo. “Diferente de quando ele é atropelado, porque teoricamente foi perdido, nenhum outro animal se alimentou dele e ele deixou de exercer sua função dentro do ecossistema”, completa Leonardo Mathias.

 

Animais mais encontrados:

– Bicho-preguiça, cobra, coruja, cuíca, cachorro do mato, esquilo, gambá, gato do mato, giricaca, guaxinim, jabuti, jacumpemba (jacu), jaguatirica, lagarto, macados sauá e barbado, maritaca, onça parda, ouriço caxeiro, paca, preá, quati, tamanduá, tatu, tucano e veados campeiro e catingueiro.

 

Serviço:

Iema (Pedra Azul)- (27) 3248-1156

Ibama (Cachoeiro)- (28) 3511-1440

Polícia Militar Ambiental- (27) 3636-1650

Secretaria de Meio Ambiente de Venda Nova- (28) 3546-5232

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