Senhor do tempo: há 35 anos, Alfredo Sossai registra a chuva que cai em Venda Nova

Fernanda Zandonadi

jornalismofmz@gmail.com

 

Com olhos treinados para ler os sinais do tempo, o agricultor Alfredo Sossai olha para o céu e dispara: não tem chuva por perto. Os ventos, segundo ele, não estão favorecendo as águas. E pode acreditar: desde o dia da entrevista, uma quinta-feira de poucas nuvens, até o momento em que escrevo esta matéria, nem um pingo de água caiu na cidade. 

 

Além de bom observador, "seu" Alfredo é um pesquisador cuidadoso. Há 35 anos ele coleta, dia após dia, os dados das chuvas que caíram no seu sítio, que fica na Tapera, em Venda Nova do Imigrante. Por meio de um pluviômetro instalado em um mourão da cerca, o agricultor verifica, todas as manhãs, quanto choveu na região e anota tudo em  um caderno. No final de cada mês, transforma os números diários na média mensal, que após um ano, vira estatística anual. Um trabalho único e de persistência. 

 

Todos os dias, pela manhã, "seu" Alfredo verifica o pluviômetro e anota os dados em uma planilha

 

O início da empreitada foi em março de 1981, quando o extensionista do atual Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural  (Incaper) e  prefeito de Venda Nova entre 1997 e 2000, José Onofre Pereira, sugeriu ao "seu" Alfredo que começasse a coletar os dados, uma forma de entender os ciclos da chuva na região. Daí para frente, o agricultor não parou mais. Essa persistência resultou em um banco de dados riquíssimo, que mostram os meses mais secos, os mais chuvosos e o ciclo das águas na nossa região. 

 

Além dos números, Alfredo Sossai também conta com outro aliado importante para saber o que o tempo reserva para a plantação.   "Chuva boa tem que vir do lado de Minas Gerais. Se vem do mar, do lado de Pedra Azul, pode ter certeza que é passageira, não ficará por muito tempo. Se há muitas nuvens vindo do Norte, do lado da Bahia, é sinal de seca. O mesmo para o vento. Chuvisco e neblina pela manhã, é sinal de dia de sol. E nuvem fina e vermelha logo cedo, sinal de chuva vindo por aí. Nuvem vermelha à tarde, é sol no dia seguinte", conta ele.

 

Muita chuva, pouca chuva

 

No gráfico acima, com base nos números de Alfredo Sossai, é possível ver a variação das chuvas ano a ano

 

As estatíscas, com base na coleta de informações do senhor Alfredo, também mostram muito do regime das águas da nossa região. Entre os meses que surpreenderam pelo acúmulo de chuvas, estão janeiro de 2003, com impressionantes 760 mm, e janeiro de 2004, quando o índice chegou aos 561 mm. O ano mais seco no registro histórico  de Alfredo Sossai, até 2013, é 1993, quando Venda Nova recebeu apenas 1.088 mm de água. Mas os anos de 2014 (1.074 mm) e 2015 (1.003 mm) bateram o índice e tornaram-se os anos mais secos desde que as medições feitas pelo agricultor começaram.

 

"O que eu percebi, nas medições, é que as chuvas aumentaram a partir de 2000. Entre 1981 e 1990, choveu em Venda Nova 15.617 mm. Entre 1991 e 2000, 14.777 mm. Já entre 2001 e 2010, o índice chegou aos 18.168 mm. Um aumento grande. Mas nesta década corrente, é possível que o número caia, já que estamos em um período de pouca chuva, apesar de 2013 ter sido o ano mais chuvoso que consegui registrar", conta seu Alfredo Sossai. 

 

O ano de 2016, que até setembro acumulava apenas 652 mm de águas na cidade, também é promessa de recorde de estiagem, caso os meses de outubro, novembro e dezembro não sejam chuvosos como previsto. Com apenas 652 mm acumulados em nove meses, resta aos moradores e agricultores torcerem para que a chuva venha e reverta o cenário seco e inóspito que o ano reservou.

 

Abaixo, os dados detalhados disponibilizados por Alfredo Sossai. Na barra superior, é possível acessar a quantidade de chuvas mês a mês e também o total de chuvas em cada ano:

 

 

 

Fotos e gráficos: Fernanda Zandonadi/Rádio FMZ
Dados estatísticos: Alfredo Sossai

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