Os produtores rurais de Santa Maria de Jetibá garantiram ao município, em 2010, a liderança entre os municípios capixabas que mais ofertaram produtos à Ceasa/ES. A cidade foi responsável, no último ano, por fornecer 30% dos produtos que chegaram à empresa. O total de produtos oriundos de Santa Maria de Jetibá em 2010 corresponde a 92.823.752 quilos.
Os principais produtos negociados foram ovos, repolho híbrido, chuchu, tomate, beterraba, pepino, pimentão, couve flor, cenoura, inhame, cebola amarela, couve chinesa e vagem. O município se destaca ainda na plantação de folhosas, como alface, couve, coentro e cebolinha.
A cada ano, os produtores rurais de Santa Maria de Jetibá ampliam sua participação no mercado. Muitos estão aqui desde o antigo Mercado da Vila Rubim, em Vitória. Trabalhando na Ceasa criaram suas famílias e hoje, merecidamente, são um dos alicerces para sustentar o mercado capixaba, destaca Luiz Carlos Prezoti Rocha, diretor presidente da Ceasa/ES. Diariamente, ao andar pelos pavilhões da empresa, Prezoti é cumprimentado – móia, allas gaut? (bom dia, tudo bem?) em pomerano.
Cultura pomerana dos produtores de Santa Maria de Jetibá
Caminhar em meio aos pavilhões de comercialização da Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa/ES) significa, para muitas pessoas, um passeio entre culturas, raças e credos. O passeio, em muitas das vezes, terá sotaque pomerano, graças à origem da maioria dos produtores que frequenta o local.
Na ´Pedra Alta´, pavilhão de comercialização que reúne a maioria dos produtores rurais dentro da Ceasa/ES, as negociações dividem-se em português e pomerano. Para muitos descendentes, que em casa falam apenas a língua pomerana, não não há nenhum entrave na comercialização, apenas alguns fatos curiosos.
Quem ainda não conhece a língua acha que estamos falando coisas ruins ou xingando. Mas é apenas o jeito de se expressar, pois temos que cultivar o idioma para que ele não se perca, lembra Renato Ponath, agricultor de Alto Rio Possmoser, localidade de Santa Maria de Jetibá. Ponath comercializa seus produtos na Ceasa, em Campo Grande, há aproximadamente 20 anos. Agora, em viagens esporádicas, a esposa Elenita Schwanz e os filhos Bruna e Alan o acompanham. Os pequenos já vão aprendendo a lidar com o comércio, já que nossa produção é familiar, destaca o agricultor.
Além dos tradicionais hortigranjeiros, alguns produtores de Santa Maria de Jetibá levam ao mercado da Ceasa/ES produtos já conhecidos da culinária pomerana, como o Milhabrot (pão de milho, preparado com batata doce, cará, aipim e fubá de milho branco ou amarelo), Kasekuchen (bolo de queijo), Streuskuchen (bolo com farofa), Strudel (bolo com frutas) e biscoitos caseiros de nata, polvilho ou amanteigados. Há espaço ainda para queijos brancos, schmierkase (coalhada) e geléias de frutas.
Ligação cultura e agricultura
Para o secretário de Cultura de Santa Maria de Jetibá, Leandro da Silva, a relação agricultura e cultura reforça os laços dos pomeranos com o campo. A ligação do trabalhador rural pomerano com a terra é muito forte. Não há necessidade de sair do interior. Cuidar da terra é algo passado de pai para filho, lembra. Outro detalhe importante citado por Leandro são as propriedades, essencialmente familiares. Praticamente não temos latifúndios. Os pomeranos têm pedaços de terra reduzidos, mas tudo muito bem organizado e produtivo, destaca.
Um dos detalhes curiosos da saga pomerana na agricultura capixaba é retratado no livro ´Pomeranos sob o Cruzeiro do Sul Colonos Alemães no Brasil, edição comemorativa dos 150 anos da Imigração Pomerana no Espírito Santo publicada pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo em 2009. O livro, de autoria de Klaus Granzow, foi publicado originalmente em 1975, na Alemanha.
Em um trecho da obra, nas páginas 64 e 65, o autor relata um possível desinteresse dos colonos pomeranos com a agricultura:
“No final dos anos de 1880 os primeiros pomeranos saíram de Santa Leopoldina Número Um e Número Dois e se estenderam pelo vale de Santa Maria. No início, os colonos eram atendidos pela paróquia Número Dois de Jequitibá. Mas rapidamente se tornaram independentes, pois um grande número de pomeranos se mudaram para cá, por ser a terra de Santa Maria bem apropriada para plantações de legumes e verduras.
Porém, inicialmente os pomeranos não queriam saber de verduras. Pastor Roelke contou como ele trouxe algumas mudas de tomate e as plantou, mas os pomeranos se recusavam a seguir o exemplo e permaneciam fiéis ao velho ditado: Wat de Buer nich kinnt, dat frettt hei nich! (O que o camponês não conhece, ele não come!). Então vieram imigrantes turcos cujos descendentes hoje se dominam Turk, mas também falavam o pomerano e pagavam um bom preço pelos tomates. Assim os pomeranos passaram a dar valor ao tomate e aos poucos passaram a cultivar verduras e legumes, dos quais a maioria vive hoje. Pastor Roelke tinha razão de se orgulhar do seu sucesso, apesar de tardio. Neste ínterim, também foram construídas granjas de galinha. Os frangos e os ovos são vendidos nas cidades, pois existe uma estrada que leva a Vitória.”
Imigração pomerana
A região do entorno do Rio Santa Maria começou a ser povoada em 1857, com a chegada de 140 imigrantes de nacionalidade suíça, porém de dialeto alemão. Mais tarde, vieram pessoas de Luxemburgo, Holanda, Bélgica, França e Alemanha, entre outros. Foram formadas, então, duas colônias: Luxemburgo e Santa Maria de Jequitibá, que mais tarde se chamaria Santa Maria de Jetibá.
No ano de 1873, cerca de dois mil pomeranos, povo vindo da Pomerânia, território que pertencia à antiga Prússia (e que hoje está sob o domínio da Polônia), já haviam por lá se instalado.
Até hoje essa cultura é muito forte na região. Muitas pessoas ainda se comunicam em pomerano, embora o alemão seja ensinado nas escolas, visto que não existe o pomerano escrito. Há ainda grupos de dança, de música, artesãos que cultivam os costumes desse povo para que eles não se percam.
A cidade
Santa Maria de Jetibá, que em 1988 separou-se do município de Santa Leopoldina, esta localizada na Microrregião Central Serrana do Estado, a 80km de Vitória. O agradável clima de montanha e a bela paisagem natural, junto à arquitetura e cultura singulares no Estado, atraem muitos turistas.
O desenvolvimento da região se deve ao fato de a principal ligação entre Vitória e o interior, na época da colonização, ter sido feita através do Rio Santa Maria da Vitória. A produção agrícola, principalmente do café (importante produto agrícola até hoje), ouro e prata, além do transporte de mercadorias e pessoas, era feita por meio do rio.
Atualmente, a cidade possui mais de 33 mil habitantes, que vivem da produção de hortifrutigranjeiros e ovos, da agropecuária, do comércio e da produção de artesanato.
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