* Leandro Fidelis
Há pelo menos 40 anos, um queijo do tipo minas está presente no café da manhã das famílias ou recheando salgados em Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana do Espírito Santo. Mas só há um ano, o nome Bellon se popularizou e passou a ser sinônimo de qualidade no setor de laticínios, em uma história de sucesso na agroindústria das montanhas capixabas. Hoje, a família de queijeiros, de Braço do Sul, está mais unida e otimista e sonha com o selo estadual para ampliar mercado.
A 25 quilômetros do centro de Venda Nova, na localidade que é divisa com Castelo, no Sul do Estado, Jair Bellon, de 69 anos, aprendeu com a mulher, Tereza Mazzoco, 67, a arte de fabricar queijos. Todos os dias, ele acordava de madrugada para ordenhar as vacas e cuidar dos queijos na despensa da fazenda. Eram 20 animais no pasto, que rendiam 20 quilos de queijo por dia.
A produção atual é de 40 quilos e envolve filhos, noras e netos em todo o processo. “Nosso meio de vida é o queijo. Te dá dinheiro todo dia e não tem feriado”, diz Jair, um dos dois agricultores remanescentes de um grupo de 15 que produziam queijo na localidade. “Cheguei a pensar em parar, mas fui adiante.”
A distância da cidade nunca foi dificuldade para esse produtor ganhar a freguesia. Nos primeiros anos, ele usava uma picape para levar os queijos até a rodoviária da Fazenda do Estado e para o antigo bar da família Comarella, no centro de Venda Nova. Ali, lembra Bellon, era servido um famoso bolinho recheado com o seu queijo. “O bar já não existe mais, e atualmente nosso queijo está em um bolinho parecido no Pagotto.”
Mas também se pode comprar queijo direto com a família. Quatro estradas vicinais levam até os Bellon, a principal com acesso pela rodovia estadual ES-486, que liga a BR-262 a Vargem Alta.
Para continuar a comercializar o seu queijo, os Bellon precisaram se adequar às normas da Vigilância Sanitária. Em sociedade com três dos quatro filhos e com um genro, Jair e Tereza construíram uma estrutura com 100 m² na propriedade. A Prefeitura de Venda Nova foi parceira com o projeto, e os técnicos da Vigilância deram toda orientação.
“O Selo de Inspeção Municipal- SIM deu mais credibilidade ao produto e aumentou a venda em 70%”, afirma Paulo Sérgio Schiavo, genro do casal. A família pensa em mais investimentos. Em breve, o curral com 50 vacas vai ganhar ordenha mecanizada. “Nosso trabalho ainda é manual como no início de tudo.” Além do queijo, os Bellon produzem puína e pretendem começar com iogurtes.
Queijeiras com orgulho
Dos quatro filhos do casal Jair Bellon e Tereza Mazzoco, apenas uma não produz queijos. A prole viu ser a fabricação de queijos um bom negócio e há um ano largou a agricultura para se dedicar ao ofício dos pais. Hoje, os netos estão juntos na atividade, de onde tiram renda até para pagar a faculdade.
É o caso da Taís Soave Bellon, 19, estudante do quinto período de ciências contábeis. Ela chegou a trabalhar na área em Venda Nova, mas o salário não cobria suas despesas com os estudos. “Aqui tenho tempo de estudar, trabalho com o que é nosso e ganho mais. O queijo acabou unindo ainda mais a nossa família”, diz Taís.
Para a matriarca Tereza, é uma felicidade ver a família toda reunida. “Fazer queijos é uma tradição bonita. Nunca vou parar com isso.”
Quem também tem sua história atrelada ao queijo é Sueli Bellon, 42, um dos quatro filhos de Tereza e Jair. “Antes eu ganhava 200 reais por mês como agricultora. Hoje a vida melhorou muito, tenho meu carro e ajudo nas despesas de casa.”
E o ano de 2012 começou com boas perspectivas para a família Bellon. Eles conseguiram uma vaga na Feira da Agricultura Familiar, organizada pela Secretaria Municipal de Agricultura, onde pretendem vender o queijo a um preço mais em conta. O próximo passo será adquirir o selo estadual para colocar na mesa de mais capixabas um queijo típico das montanhas.